Técnica, mistificação e relações de poder



Por Pedro Ribeiro - estudante de Design pela UEMG


A visão apocalíptica da tecnologia orbita o centro de uma certa esquerda romântica e perdida. Extirpar este pensamento é uma atitude necessária e importante para o resgate de uma condição verdadeiramente radical.

Apesar da aparente visão crítica e boa intenção, trata-se de uma abordagem mistificadora. Dizer que a técnica - e consequentemente, as máquinas - oprimem o homem, pode se apresentar como humanismo, mas não passa de uma compreensão ingênua; entender a técnica como um sujeito autônomo, agente da opressão, significa esconder o verdadeiro sujeito da opressão. Não se trata de um embate entre o homem e a tecnologia, mas do homem contra o próprio homem.

Ouve-se que a técnica nos desumanizou, que a técnica é a gênese da opressão. Estas formulações não servem para responder questão alguma. Partem da ideia absurda de uma técnica independente do homem. Ora, se a máquina “escravizou” o ser humano, o que ocorreu foi a dominação do homem pelo homem, mediada pela máquina. Os interesses da máquina são sempre externos a ela. Isso significa afirmar que a origem da opressão são as relações sociais  —  principalmente a maneira como agimos sobre os frutos do nosso trabalho  —  e não a relação no ato da produção. A técnica como valor moral serve ao interesse dos que a utilizam como instrumento de dominação.

Convém delimitar brevemente o conceito de técnica: esta é a forma com que o homem - enquanto ser social - resolve contradições impostas pela natureza. São as formas seguras e confiáveis de nos relacionarmos com o mundo, e consequentemente com nós mesmos. Isso significa que a técnica é o processo de descartar experiências negativas e preservar as positivas ao agir sobre o mundo. A negação da técnica significa a negação de uma característica essencialmente humana do modo de resolver contradições. Enquanto os animais não agem de maneira técnica sobre o mundo  —  porque se adaptam e agem através do instinto  —  é o homem quem recebeu da natureza tanto as contradições a serem resolvidas quanto a maneira autônoma de resolvê-las.

A defesa dessa visão se faz necessária porque é ela que sustenta um resgate do caráter social da técnica como patrimônio da humanidade, fruto de um acúmulo histórico do conhecimento. Porém, este resgate só é possível em uma sociedade em que os meios de produção não são privados, mas sociais. Ou seja, uma sociedade em que os frutos da produção humana não são apropriados por poucos. Defender a neutralidade da técnica é primordial para a defesa do socialismo.

Sim, é urgente a defesa do socialismo - este como fundação do reino da liberdade. Pois é o socialismo que permitirá que toda a humanidade entre em contato com o que há de mais avançado tecnologicamente; não mais à distância, enquanto meros espectadores do avanço da técnica, mas enquanto sujeitos ativos que se apropriam da própria produção. É no socialismo que os países que na atualidade se enquadram na condição de subdesenvolvidos, terão a total capacidade e liberdade de criar e se desenvolverem, tendo as necessidades humanas como norte.

Tornar central o verdadeiro agente da técnica significa destruir abordagens mistificadoras e fatalistas. E é urgente que o façamos, assim como é urgente que o homem resgate o controle das rédeas da história, e tome para si, enquanto ser social, os frutos do seu desenvolvimento técnico.
O que efetivamente revoluciona a existência do homem é o homem.
(Álvaro Vieira Pinto)

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