“Nosso
amor puro pulou o muro…”
-
Chacal.
O filme de Arnaldo Jabor é o
maior exemplo do amor, não aquele que tudo aceita numa interpretação muito
comum de Canto dos Cânticos, mas aquele que tudo expõe, o desvelar dos
segredos são a chave principal em “Eu
Sei que Vou Te Amar (1986)”.
O nosso encontro com o que é
dito sobre o amor é sempre encharcado de ideologia, seja ela como um ideal em
seu (sua) companheiro (a), ou até mesmo qual o gênero do seu companheiro você
deve se envolver isso tudo acaba por trazer problemas no convívio, e/ou como
determina um padrão de relacionamentos, até mesmo quando existem outras
soluções que trazem mais contradições nas relações afetivas. Longe de querer
falar sobre esse caso em especial, mas sim trazer o questionamento; o que é
realmente o amor? Ou, pelo menos, trazer meu um centavo sobre, sim é menos que
dois.
Eu Sei que Vou te Amar - 1986. Direção: Arnaldo Jabor. |
Arnaldo Jabor em Eu Sei que Vou Te Amar é um
grande exemplo, tudo começa como um simples relacionamento que se definhou, 10
anos se passou entre o casal, mas o que a aparência mostra é ao mesmo tempo o
que ela esconde; o casal tinha uma vida conturbada em sua essência; traições,
casamento sem propósito, brigas, etc., tudo isso é desvelado no decorrer do
filme como uma espécie de análise do divã do casal, e até que depois de tudo,
de todas verdades expostas na mesa, toda a entrega entre os dois, o amor é
enfim aceito, o amor é enfim alcançado em sua real essência.
De fato só se pode amar quem
você realmente conhece que pode entregar inteiramente, mas quem é capaz disso
numa sociedade altamente individualista? Essa é a questão levantada por Zizek
(no livro Violência), você só pode
deixar o outro te amar em passo de que o outro não te machuque, e ninguém abre
mão dessa virtude. Em contraponto podemos levantar que a saída do amor que é
entregue a ideologia do capitalismo, com é claro, a nossa essência fundamental;
o social. Nas palavras do Konder (no livro Sobre
o Amor) em alusão a Marx:
“O amor é uma “maneira universal” que o ser humano tem de se
apropriar do seu ser como “um homem total”, agindo e refletindo, sentindo e
pensando, descobrindo-se, reconhecendo-se e inventando-se.”
E ao passo o que podemos
ver, por exemplo, em Madame Bovary
(Direção: Sophie Barthes - 2014), a tentativa de expressar seu amor nas “coisas materiais”, pois sua vida plena
está longe de ser real;
“A propriedade privada complica as coisas, dificulta tanto a
compreensão como a experiência vivida do amor: “O lugar de todos os
sentidos físicos e todos esses sentidos, pelo sentido do ter”. E o capitalismo
torna o problema ainda mais agudo.”
Madame Bovary Sublima sua
vida nas coisas, ela substitui o gozo da vida plena pelas mercadorias em sua
volta, no fim é uma tentativa falha.
Eu Sei que Vou te Amar - 1986. |
Longe de uma questão por vezes baixa nos filósofos como: querer é sofrer, ou
amar o desejo não o desejado; a questão principal é; você é pleno o bastante?
Ou até mesmo; nossa sociedade tem uma saída para um amor pleno? Para as duas
respostas eu digo que não, somente numa sociedade em que todos os problemas
resolvidos (patriarcado, família tradicional, o próprio capitalismo) ou, pelo
menos, levantados, como na ficção de Arnaldo Jabor, podem levantar um real
entendimento do que é o amor. Mais uma vez nas palavras de Konder:
“A alienação tem suas raízes no trabalho, porém abrange, com
grande variedade de formas, todas as atividades do homem. Ela coloca o ser
humano em doloroso conflito com ele mesmo, com seus semelhantes e com a
natureza (inclusive com o que existe nele de irredutivelmente natural).
A propriedade privada deforma tudo, leva-nos a crer que o
homem rico é aquele que possui coisas, quando na realidade o homem
“naturalmente” rico é aquele que sente com mais intensidade a necessidade
interior de se realizar através de múltiplas manifestações vitais, isto é,
aquele cuja atividade essencial sensível está carregada de paixão.”
O homem que tem todas suas
vontades realizadas, mas não o homem que quantifica a realidade, esse sim é um
homem pleno, e assim tem também o amor em sua plenitude. Ou até como em Zizek (La la Land: Uma Análise Leninista.),
mesmo numa construção de uma revolução, ou numa revolução se tem um novo tipo
de amor, um que faça a individualidade se plasmar numa vontade geral de um
futuro vindouro.
Por fim, o amor pleno é
quando nossa sociedade se realizar como uma sociedade plena, não como uma
utopia, mas sim no enfrentamento dessas condições impostas. Quando o amor não for mais Bukowskiano,
assim poderá ser real; uma tampinha de cerveja pisada no caminho banheiro. Ou tudo
o que nós dissemos que não era.
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