BREVES
COMENTÁRIOS SOBRE A SUPOSTA RECUPERAÇÃO ECONÔMICA: TEMER E O GOLPE NOS NÚMEROS
Temer,
em artigo escrito para a Folha de São Paulo, comemora supostos sinais, segundo
ele, “inequívocos de que a prosperidade se acelera”. Além disso, afirma que
tais sinais se revelam, sobretudo, nos indicadores ligados à indústria: “o
crescimento torna-se visível em todas as áreas, sobretudo na indústria”. Por
fim, o “presidente” avança na análise e se mostra confiante na retomada de bons
indicadores de emprego e renda. Economistas e veículos da grande mídia fazem
coro com o "presidente": o portal de notícias da Globo (G1) chegou a
publicar entrevista no qual o especialista - pesquisador da FGV - afirma que o
crescimento do PIB de 1%, como divulgado pelo IBGE, não era verdadeiro e que o
número real seria de 4%, já que, segundo o "especialista", um
crescimento de 1% após uma recessão de 3% significa crescimento real de 4%.
Golpe na matemática.
Uma
rápida análise dos dados econômicos é suficiente para provar que, além de
golpear a democracia, o atual “presidente” também costuma golpear os números. O
golpe está no DNA de Michel Temer. Vamos analisar cada um dos pontos levantados
por ele: (i) crescimento acelerado (ii) recuperação da indústria e (iii) boas
perspectivas para o emprego e renda.
1. Sobre os supostos sinais inequívocos
de prosperidade
Sobre
o primeiro ponto, “os sinais inequívocos de que a prosperidade se acelera”, um
olhar minimamente atento sobre a evolução do PIB trimestre a trimestre, é
suficiente. No primeiro trimestre de 2017, o PIB cresceu 1,3% em relação ao
último trimestre de 2016. O crescimento naquele trimestre foi puxado,
basicamente, pela agropecuária, que registrou a maior expansão em mais de 20
anos e foi destaque entre os setores calculados pelo IBGE, com salto de 13,4%
em relação ao trimestre imediatamente anterior. Um resultado que nada teve a
ver com boas políticas econômicas, tendo relações diretas com fatores
extraordinários como, por exemplo, o aumento próximo de 50% no preço do milho.
Por fim, no trimestre em questão, houve queda no consumo das famílias de 0,1%
em relação ao último trimestre de 2016.
O
segundo trimestre revelou uma significativa desaceleração na taxa de
crescimento em relação ao período anterior: uma pequena taxa de crescimento de
0,6%, menos da metade da registrada no período anterior. O pequeno resíduo de
crescimento ocorreu, novamente, graças a fatores meramente conjunturais, dessa
vez, muito por conta da injeção de mais de 40 bilhões de reais na economia pela
liberação dos recursos de contas inativas do FGTS.
No
terceiro trimestre, sem a ajuda da agropecuária, que recuou 3% em relação ao
período anterior, a taxa de crescimento despencou, caindo de 0,6% no segundo
trimestre para um terço disso no terceiro trimestre: crescimento pífio de 0,2%.
Por fim, o quarto trimestre sacramenta a tendência de perda de dinamismo na
economia: o pequeno resquício de crescimento foi de apenas 0,1% em relação ao
trimestre anterior.
Sinteticamente,
do primeiro ao quarto trimestre de 2017, houve recuo sistemático nas taxas de
crescimento: 1,3 no primeiro; 0,6 no segundo; 0,2 no terceiro até chegar nos
míseros 0,1% do quarto trimestre.
Em
perspectiva comparada, o pequeno crescimento de 1% em 2017 era algo esperado,
já que estávamos no fundo do poço e acabando de sair da maior recessão da
história brasileira em um biênio. Mesmo assim, o resquício de crescimento se
deve, especialmente, ao setor agropecuário que, segundo o IBGE, contribuiu com
70% do PIB no ano. O crescimento registrado do agronegócio foi 13% em 2017.
Fora isso, apesar do minúsculo crescimento, a coordenadora de contas nacionais
do IBGE, Rebeca Palis, alegou que a economia retrocedeu ao mesmo patamar do
primeiro semestre de 2011. A austeridade iniciada em 2015 e aprofundada de
maneira brutal pelo governo Temer destruiu o crescimento brasileiro de seis
anos.
A
não ser que a régua do Temer esteja virada de ponta à cabeça, a trajetória
aponta para o exato oposto do que ele defende no seu lamentável artigo na
folha: uma sintomática desaceleração no crescimento.
2. Sobre a recuperação da Indústria
Ao
contrário do alegado por Temer, a indústria registrou variação nula. Continua
estagnada. Temer, mais uma vez, mentiu. A construção civil, por exemplo, caiu
5%. O que salvou a indústria de uma recessão foi o setor extrativista, que
cresceu 4,3%.
Já
a taxa de investimento – despesa mais dinâmica da economia - foi a menor taxa
na série histórica das Contas Nacionais iniciada em 2000 para esse indicador. O
que mostra claramente que uma retomada sólida não passa de retórica oportunista
da equipe econômica do governo que insiste em golpear os números.
3. Sobre as “boas perspectivas” de
emprego e renda
O
país fechou o quarto trimestre de 2017 com 23,6% de trabalhadores subutilizados
(26,4 milhões de pessoas que potencialmente poderiam trabalhar, mas estão
desocupadas). Já a taxa média de desemprego anual no Brasil foi a maior da
série histórica do IBGE: 12,7% de desempregados (Pnad Contínua). Concretamente,
de 2014 a 2017, a média anual de desocupados passou de 6,7 milhões para 13,2
milhões.
Por
fim, a informalidade – algo que tende a ser brutalmente intensificado com a
reforma trabalhista – subiu significativamente: segundo o IBGE, ano passado, o
número de trabalhadores sem carteira assinada cresceu 5,5% em relação a 2016.
São 560 mil trabalhadores a mais na informalidade. Isso sem contar a queda na
renda dos trabalhadores: um terço dos paulistanos, por exemplo, teve queda na
renda nos últimos 12 meses, é o que aponta a pesquisa Viver em São Paulo –
Trabalho e Renda, realizada pela Rede Nossa São Paulo e o Ibope Inteligência.
Mais
mentiras. Mais golpes. Desta vez, golpe nos números.
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Temer golpeando até a matemática.
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