Um
recordar das origens dos partisans no futebol jugoslavo e o que ficou dessa
memória. Do Vojvodina ao Estrela Vermelha passando pelo General Tito!
Texto extraído do site Fairplay - PT
Geograficamente falando, os Bálcãs sempre
foram uma porta de entrada e saída da Europa. Por esse motivo, transformou-se
numa das mais maravilhosas zonas do mundo, onde uma diversidade oriunda da
convergência de povos e culturas – germânica, eslava, otomana, etc. –
permitiu o florescimento de um movimento de resistência ao nazi-fascismo com
uma forte componente multi-étnica e inclusiva.
O mote que uniu durante mais de 10 anos os bravos
partizans era bem demonstrativo desse cariz: “Bratstvo i Mir! Smrt fasizmu!
Sloboda narodu!” (“União e irmandade! Morte ao Fascismo! Liberdade para o
Povo!”)
Pela essência popular que o futebol detém, ele não
poderia deixar de estar presente na história deste movimento de resistência ao
nazi-fascismo.
As primeiras atividades partisans remontam ainda ao
período do Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos (1918-1941), eram um dos
braços armados do Partido Comunista Jugoslavo (1919) que começou as suas
atividades insurreccionais na “ressaca” da Revolução de Outubro.
Curiosamente, é neste momento e deste movimento que
surgem duas grandes referências do futebol deste reino balcânico: o Fudbalbski
Klub Radnicki Nis e Bozidar “Bosko” Petrovic.
O INÍCIO DOS PARTISANS
O FK Radnicki Nis foi fundado em 1923 por membros
do Partido Comunista, o seu principal fundador foi Milos Markovic um
proeminente militante comunista local. Inclusivamente, a palavra Radnički
significa “Operários”, em servo-croata, e Niš é a cidade.
O clube desde a sua origem está vinculado aos
ideais socialistas, tanto que quando as forças do eixo (Alemanha Nazi e Itália)
invadiram os Balcãs, encerraram o clube, enviaram para campos de concentração
os seus jogadores, direção e muitos dos seus adeptos. O clube apenas
regressaria ao ativo com o fim da guerra e surgimento da Republica Socialista
Federativa da Jugoslávia, sendo dos poucos clubes que não mudou de nome ou foi
encerrado.
“Bosko” Petrovic foi um dos primeiros ídolos o
futebol da década de 20/30. Estrela do FK Vojvodina, mudou-se para
Belgrado para se formar em Direito. Na Universidade, Bosko filia-se ao Partido
Comunista e começa a jogar a no SK Jugoslavija. Aí alcança a ribalta devido a
sua enorme qualidade técnica e consegue tornar-se numa presença assídua na
Seleção do Reino.
Mas no ano de 1936 começa a Guerra Civil de
Espanha, “Bosko” deixa o futebol, muda-se para Paris e parte para Espanha com o
escritor francês André Malraux. Contudo, numa das primeiras batalhas do
conflito, Bosko morre num ataque ao avião que pilotava. Bosko
falecia prematuramente, tinha apenas 26 anos.
Mas as ligações entre partisans e futebol não
terminam por aqui. Basta nos recordarmos de um dos clubes mais bem sucedidos da
região: FK Partizan Belgrado.
Os fundadores do clube foram três militares:
Konstantin “Koka” Popovic, Svetozar “Tempo” Vukmanovic e Peko Dapcevic. Por
iniciativa de “Koka” Popovic – que havia sido colega de “Bosko” Petrovic em
Espanha – acordou-se formar um clube de futebol do Exército Popular Jugoslavo e
que este deveria-se chamar “Partizan”, em homenagem a todos os que caíram pelo
povo Jugoslavo, como símbolo optaram por uma tocha com 5 chamas (uma referência
aos 5 povos jugoslavos: bósnios, croatas, sérvios, macedónios e montenegrinos)
e uma estrela vermelha ao centro para salientar o cariz socialista do clube.
O primeiro jogo internacional do Partizan foi
contra o CDKA Moscovo – equipa do Exército
Vermelho Soviético e futuro CSKA . O jogo foi realizado em Zagreb e ficou 4-3
para os soviéticos.
Mas seria impossível falar de Partisans e não
mencionar o Marechal Tito. Ao minuto 41, da 25ª jornada do campeonato
jugoslavo, o árbitro – por indicação de um delegado da liga – interrompe
o Hadjuk Split vs Estrela Vermelha,
o motivo: a morte de Josip Broz “Tito”.
O FIM DO GENERAL TITO E O ÚLTIMO
CLAMAR
Tito era uma figura importantíssima na vida
política jugoslava, não só era o presidente do país, mas era sobretudo o grande
líder partisan que tinha combatido as forças nazis, as milícias Utasha (organização
croata fascista e aliada dos nazis) e os Chetniks (ultra-nacionalistas sérvios
que pretendiam um retorno da monarquia).
Este jogo é ainda hoje referido como “a última vez
que croatas e sérvios choraram juntos”, pois em breve a Jugoslávia seria
desmantelada em guerras fratricidas. O momento, a partida estava a ser
transmitida em direto na Televisão Jugoslava, tem uma carga emocional gigante.
Logo após o speaker anunciar a
morte de Tito, o estádio começa a gritar as palavras “Druze Tito, mi ti se
kunemo! Bravtso i Mir! (“Camarada Tito, honraremos o nosso juramento! Irmandade
e União”) o momento termina com a musica “Uz Marsala Tito”, que termina com a
estrofe “quando os partisans morrem, eles não choram/ seguem olhando para o
horizonte de cabeça levantada e o punho erguido”.
Triste fim teria esta nação multi-étnica, com
inúmeras guerras, genocídios e outros crimes de guerra. Porém, antes do seu
desmantelamento, a seleção jugoslava chegou a fazer grandes aparições
internacionais – com destaque para o campeonato do mundo de sub 20 conquistado
em 1987 – e, a nível de clubes nacionais, a Liga dos Campeões do Estrela
Vermelha em 1991.
A participação da Jugoslávia no Mundial de sub-20
em 1987
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