Imperialismo Germânico: do II Reich ao prelúdio da República de Weimar (Parte I)




Por Felipe Lustosa - graduado em História e Filosofia pela UFF.

Bismarck e o chauvinismo alemão não foram um raio em céu-azul. Fazem parte de um processo de maturação da burguesia e nobreza junker, naquilo que Lênin denomina de anomalismo prussiano-burguês ou via-prussiana (se referindo à conformação da burguesia alemã). Neste arranjo, ambas as classes se soldam em uma só classe e hegemonizam com os avais do chanceler a Brundesrat e a Landtag, conformando uma clara diretriz imperialista para o novo império que se conformava por intermédio da unificação tardia, feita em 1871 por um membro da oligarquia latifundiária Junker: Otto Von Bismarck.


Bismarck exaltaria no II Reich elementos de inclinação nacionalista os quais seriam expressados na Kulturkampf, por intermédio da valorização do “passado heroico”, do rechaço às ideias clericais, por intermédio do rechaço ao iluminismo anglo-francês, etc. Ele também viria a exortar o revanchismo pré-Primeira Guerra, já em voga entre as potências imperialistas que viriam a empenhar-se na divisão canhestra da Ásia e da África (a fim de buscarem mercados consumidores proeminentes e zonas fornecedora de matérias primas).


A nascente Alemanha do II Reich e sua burguesia anômala, engendram então a substituição de importações concernente ao trigo, rompendo a Alemanha com a condição de lacaia do imperialismo emanado pela Rússia, pois que antes da unificação, a Prússia e sua Oligarquia parasitária (associada ao imperialismo Russo) eram forçados a importar o Trigo dos Czares. Com Bismarck a Burguesia Anômala e fracassada do processo de 1848 (em consórcio com os Junkers) ganha uma figurativa autonomia e passa a se entesourar por intermédio da exploração do trigo nacional. Deste consórcio artificial entre Junkers e Burgueses, a Alemanha moderniza-se, arma seu complexo belicista e se lança à partilha afro-asiática apoderando-se de Togo, Camarões, Namíbia e da Tanzânia e Papua Nova-Guiné, tornando-se, a Alemanha, uma superpotência temida internacionalmente, em pouco mais de 10 anos.


A revolução [burguesa de 1884] alemã fracassou, e a burguesia alemã se conformou com seu insucesso. Outros assumiram o que teria sido sua tarefa. Em vez dela, no topo da classe dos Junkers e com ajuda do exército prussiano, Otto Von Bismark se ocupou da unificação tardia nacional –O nivelamento de fronteiras estatais obsoletas e Etc. O Quarto estamento tomou a modernização interna  --o nivelamento de fronteiras nacionais obsoletas-- das mãos, agora enfraquecidas, do terceiro estamento, como uma tarefa inconcluída. Bismarck e o movimento operário alemão em seu início seguravam em suas mãos, cada um, uma ponta do fio que havia sido rompido daquele arranjo artificial no final de 1849. Se tivessem permanecido juntos, então a falta de 1848 poderia ter sido recuperada em torno dos anos de 1870 e um Estado nacional alemão mais moderno, saudável e duradouro poderia ter surgido(...) o resultado foi um império alemão poderoso e temido no exterior, mas que internamente parecia um colete abotoado de forma errada. [1]


Estes elementos foram as forças motrizes para o desponte do imperialismo germânico. Outrossim, não se pode ignorar o fenômeno do transformismo lento e gradual da nobreza Junker em estratos da burguesia, tal como o da burguesia débil e despida de um ‘caráter jacobino’ em defensores da reação nobiliárquica. Para a maturação de uma burguesia inepta, débil, anti-iluminista e reacionária em uma máquina imperialista inserida no mercado mundial, ávida por inserir-se no capitalismo monopolista a qual resultaria no nazismo; foram necessários a retomada dos antigos broquéis e estandartes dos Godos, uma ode à cultura nacional, a exaltação da práxis do desterro e da razia as quais cometiam os povos da antiguidade germânica contra o império Romano. Esses elementos foram incentivados por Bismarck e passados à opinião pública como sendo uma nova era de “avanço da civilização e cultura alemãs” sobre os demais povos europeus. Por isso a unificação tardia e a formação do Estado-Nacional Alemão foram tão importantes para a exaltação da xenofobia germânica a fim de conformar-se calcado nesta uma identidade nacional a qual extirpasse do seio prussiano as disputas religiosas, feudais e nobiliárquicas (antes da unificação, muito frequentes) entre reformadores e católicos.


“A França, Inglaterra, Espanha e Rússia eram inegavelmente “nações” porque possuíam Estados Nacionais identificados com os preceitos clássico do iluminismo e etc. (...) A Alemanha era uma nação atravessada entre o velho e o novo por força de seus numerosos principados feudais (apesar de nunca unidos em um único estado territorial) constituíram outrora o então chamado “Sacro Império Romano da Nação Germânica” e fora  formado, por outro lado, pela Federação Germânica, mas também, considerava-se nação,  porque todos os alemães  eram alemães por educação, tradição e honra: partilhavam a mesma língua, escrita, filosofia e literatura (...)” [2]


O nacionalismo e imperialismo alemães ganhariam nova qualidade em 1914, a qual estaria resoluta no anti-britanismo, anti-eslavismo e anti-franquismo isto é, no Pangermanismo, e para a conformação de uma cultura belicista, teriam de retomar um fictício passado heroico dos povos “bárbaros” germânicos (visigodos, ostrogodos, vândalos, alamanos e etc), passando-os como “ancestrais míticos”, esta ideia aprofundou-se durante a República de Weimar consignada pelo revisionista social-democrata Friedrich Ebert (um dos responsáveis pela repressão da Revolta Espartaquista e pelo assassinato de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknetch). Tais elementos foram a pedra de toque para a conformação de um ordenamento cultural calcado na tradição do irracionalismo-alemão (manifestado de Nietzsche à Wagner) o qual, em um segundo momento, desaguaria na estética nazista, com a revogação do Tratado de Versalhes por Hitler,
com o rearmamento da Alemanha, convocação do povo alemão ao alistamento no serviço militar e conformação da Wehrmacht.

[1] S.HAFNER, A Revolução Alemã.

[2]E. HOBSBAWM, A Era do Capital.


Bibliografia:


A.GRAMSCI. A questão meridional

G.LUKÁCS, El Asalto a la Razón

E. HHOBSBAWM, A Era do Capital

S.HAFNER, A Revolução Alemã

V. I. LENIN, Imperialismo: Fase Superior do Capitalismo.

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Wesley Sousa

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