Por Wesley Sousa (UFSJ)
O
roqueiro canadense Neil Young exigiu que suas produções musicais fossem
removidas do Spotify devido à desinformação de vacinas espalhada pelo podcaster
Joe Rogan, no serviço de streaming, dizendo: “Eles podem ter Rogan ou
Young. Não os dois”.
Neil
Young é escutado por milhões de pessoas que o seguem desde a era Woodstock, no
final dos anos 60, ou o descobriram ao longo dos anos, e que engrossaram a
fileira de seguidores e ouvintes dessa lenda do rock. Um lema radicalmente criado por ele mesmo: “É
melhor queimar de vez do que ir se apagando aos poucos” (It’better burn out
than fade away). Neil está desde meados dos anos 60 em combustão, conforme
o blogger TelesToques.
O
jornal britânico The
Guardian, no dia 25 de janeiro, publicou que Neil Young, em uma carta
aberta para seu gerente e gravadora, postada em seu site e depois
derrubada, onde o cantor assim se expressava: “Eu estou fazendo isso porque o
Spotify está espalhando informações falsas sobre vacinas – potencialmente
causando a morte para aqueles que acreditam que a desinformação está sendo
espalhada por eles. Por favor, aja imediatamente hoje”.
Depois que Neil Young ter sido retirado em suas músicas da plataforma Spotify, outros músicos vêm
sinalizando apoio ao artista e anunciando que querem suas músicas fora da
plataforma, conforme matéria da Carta
Capital. No entanto, a atitude do Spotify atraiu aplausos virtuais de
organizações como o Rumble, uma plataforma de streaming de vídeo popular
entre a direita, que elogiou a empresa sueca por “defender os criadores” e “a liberdade
de expressão”, segundo o YahooNotícias.
As
músicas, em geral, não dão muito lucro (quando não dão prejuízo) à empresa.
Enquanto o podcast de Rogan é realmente lucrativo e rende anúncios de US$
1 milhão (R$ 5,4 milhões, na conversão direta), além de atrair novos ouvintes,
como diz numa matéria do UOL.
Com isso, fica claro que o objetivo do Spotify, em suma, não é apenas um
serviço de streaming que abra mão do lucro, seja como for. Para isso, é melhor
uma conivência com podcasts e publicidades, quais forem, ao invés de filtros
contra desinformações.
O histórico
de luta de Neil Young não é novo. Politicamente, Neil é um cara de esquerda, anti-status
quo, rechaçando o liberalismo e os monopólios de mídia e de manufaturas,
tanto que suas canções, em várias delas, há sempre uma “causa”, uma defesa de
ideais. Apenas para citar algumas: ele defende causas ambientalistas, tanto
que investiu forte contra a fábrica de agrotóxicos Monsanto, que rendeu até
disco. Foram muitas suas investidas. Recusou-se, por exemplo, a se apresentar
numa edição do Hollywood Rock, no Brasil, porque não canta em festival
patrocinado por fábrica de cigarros. Esculhambou o CD, pela qualidade sonora, e
as gravadoras por faturar em cima de um produto novo, sem levar em conta a
qualidade do que vendia, segundo também TelesToques.
Nas últimas
eleições presidenciais nos EUA, apoiando o candidato Bernie Sanders, já se
envolvendo em polêmica com Donald Trump por este usar usando algumas de suas músicas
em campanhas. Pouco tempo atrás processou-o num tribunal de Nova York,
requerendo que este deixasse de usar as canções Rockin’ in the
free world e Devil's sidewalk em campanha eleitoral para a
Presidência da República dos Estados Unidos.
O álbum
“Ohio” é uma solidariedade às vítimas do massacre na Universidade de Ohio, nos
anos 70, na Era Nixon. Em Ohio, inspirado pelo massacre da “polícia de Nixon”,
na Universidade de Kent, um episódio ainda recente. Em 4 de maio de 1970, a
polícia matou quatro e feriu mais nove pessoas ao invadir o campus da
universidade, numa reação contra manifestações estudantis. Também foi contra as
guerras investidas pelos governos Bush (pai e filho).
No
documentário “Heart of Gold” (nome de uma de suas canções mais ouvidas), Neil
disse o seguinte sobre ela: “Na época em que a escrevi, e eu estava em turnê
- apenas, você sabe, sendo um hippie rico pela primeira vez - eu tinha comprado
um rancho, e ainda moro lá hoje. Lá havia um casal vivendo nele que eram os
guardiões, um velho cavalheiro chamado Louis Avila e sua esposa Clara. E lá
estava esse velho jipe azul, e Louis me levou para um passeio neste jipe
azul. Ele me leva até lá na parte de cima do lugar, e lá tem um lago que
alimenta todos os pastos, e ele diz: ‘Bem, me diga, como um jovem como você tem
dinheiro suficiente para comprar um lugar como Isso?’. E eu disse: ‘Bem, apenas
sorte, Louie, apenas sorte de verdade’. E respondeu: ‘Bem, essa é a coisa mais
cruel que eu já ouvi’. Eu escrevi essa música para ele”.
Como
diria o próprio Neil em sua autobiografia: “Meu pai achava que fora escrita
para ele, e eu nunca desmenti, já que as canções são feitas para quem as recebe”.
E, para seus ouvintes, aqueles que apreciam suas canções, isso é muito factível.
Assim, se antes muitas empresas chegaram apoiar e financiar (o que acontece até hoje) governos abertamente fascistas e ditaduras sanguinárias, e hoje algumas delas cinicamente apoiam a “diversidade” e a “inclusão”, claro, garantindo-lhes lucratividades. Porém, no que diz respeito à polêmica com o Spotify – o que ocasionou a retirada de suas canções na plataforma –, Neil Young disse ter tomado a decisão por conta da preocupação de que os jovens sejam “impressionáveis e fáceis de passar para o lado errado da verdade”.
Neil segue sua luta, para o que defende, fazendo de
sua arte não àquela desinteressada, mas compromissada aos ouvintes e para aquilo
que defende. Enquanto, por outro lado, as empresas, como qualquer outra, farão de tudo para manter e aumentar seus lucros, não importando as consequências (Rogan,
por exemplo, tem um contrato de exclusividade de US$ 100 milhões por vários anos
com o Spotify, prevaleceu na decisão da empresa).
Fica aqui a admiração de um fã da boa musicalidade, mas também um admirador das boas posturas artísticas.
Grande wel, bacana o texto amigo, não se pode deixar as letras de protesto alheias, nem as músicas que movem o pensamento, keep rockin
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