Implicações históricas da “Revolução Feudal” sobre o mundo urbano na Idade Média Central

        Para falar de como se deram as implicações históricas da “Revolução Feudal” na idade média central, devemos primeiro, nos situar nesse período. Ele foi caracterizado pela Formação de reinos independentes no final do século V (Reinos Franco, Ostrogodo, Visigodo, Vândalo, Suevo, entre outros), governados por uma nobreza composta por germânicos e descendentes que invadiram o Império Romano, a existência de três camadas sociais, o clero, a nobreza e os servos (os que rezam, os que guerreiam e os que trabalham), Teocentrismo muito forte por parte destes reinos (Deus era o centro de tudo), um fortalecimento massivo do Cristianismo e da Igreja Católica, a ruralização da sociedade, pois viviam em relações de feudos, o que fazia com que o poder fosse descentralizado (dentro das monarquias feudais, existiam reis, que controlavam os seus próprios feudos), e que a circulação monetária fosse baixa, pois não havia comércio, mas sim a troca de itens (escambo), e finalmente, a concentração de terras nas mãos dos senhores feudais e da igreja.

        E aqui vale fazer um destaque importante sobre as relações feudais: elas se davam entre o senhor feudal, o nobre que detinha a posse das terras e as cedia, chamado de Suserano, e o Vassalo, que diferente do pensamento comum, não era um escravo, era também um nobre, mesmo que jurasse fidelidade ao seu Suserano através de um contrato jurídico firmado em um ato solene, chamado Investidura. Os camponeses que trabalhavam na terra, estes sim eram os Servos, que normalmente sofriam mais com as imposições, obrigações, e a miséria a qual estavam submetidos. Portanto, o feudo não é a terra em si, mas a relação jurídica de senhorio entre o Suserano e o Vassalo.

        Podemos encontrar fragmentos das características apontadas acima, em documentos da época, que mostram que era necessário o pagamento por algo, sendo soldos (moeda da época medieval central), ou mesmo feudos, por parte dos camponeses e servos, em nome da igreja e da realeza, pois existia um elo entre os dois, sempre justificado por motivos divinos. A Igreja Católica prevalecia no cenário religioso, influenciava no modo de pensar; recebia feudos como doações de seus fiéis.




        Podemos destacar a maneira como funcionavam as transações da época, com referência clara de ligação com a religião, direta e indiretamente ligada a essa prática,  que fica evidente em um trecho de um decreto da época, que diz “E depois o rei fez tal decreto e ordenou que ninguém dos que morassem na vila, dentro dos limotes do mosteiro, tivesse por direito  hereditário ou  por razão de herança campo nem vinha, nem horto, nem eira, nem moinho, [...], por todos os anos, anos, pagassem cada um deles ao abade um soldo por censo e reconhecimento de senhorio.”, notamos que esta ação foi feita pelo rei, que estava subordinado e era legitimado pela igreja, para frear um crescente lucro que a população, que era composta de diversas nações, estava obtendo através de negociações com estrangeiros, o que enfraquecia o sistema feudal ali vigente.
        Também devemos perceber o modo que a religião influenciou o pensamento e a noção de realidade, ao fazer com que, mesmo com todo sofrimento que as pessoas da época medieval passavam, acreditavam que um paraíso estaria à sua espera, um lugar reservado onde o cansaço, lástima, e as decepções cessariam, e a paz, prosperidade, abundância, prazeres, liberdade, muita comida, boa colheita, algumas transformações no modo de produção, novas igrejas, grandes templos chegariam a eles. Era uma crença muito incentivada, e ela estava relacionada ao ano milésimo da paixão de Cristo, que segundo a tradição, fala que Jesus retornaria e acabaria com todas as mazelas. Para o clérigo o milênio já tinha acontecido, mas a população acreditava a que o milênio era naquele momento, antes do ano mil, pois houve uma revolução social na questão da estrutura e um aumento significativo da produção. Isso os fez pensar que toda a desgraça que se encontrava estava prestes a dissipar, e os motivou a terem uma razão para não se destruírem e se respeitarem, isso era representado para a população, ela olha esse período dessa forma. Por isso, os dogmas estabelecidos pelos mosteiros, deveriam ser obedecidos, porque eles eram a representação da palavra de Deus, e a transgressão das regras, acarretaria em um castigo divino.

        A conclusão que podemos chegar, é que a partir do momento em que a religião se aliou ao poder da nobreza, para um troca mútua de legitimações e riquezas, houve uma profunda mudança estrutural nas relações hierárquicas e sociais, que ao mesmo tempo que trouxe paz e alegria, trouxe muita miséria e desespero, pouco desenvolvimento tecnológico e cultural, por isso alguns classificam esse período como Idade das Trevas, mas já é sabido que houve desenvolvimento, principalmente na arquitetura e na agricultura. Por isso, devemos ter bastante cuidado ao analisar este período para não cometermos anacronismos, e nem julgamentos como historiadores. É um período que ainda tem muito para nos ser revelado e desvendado.

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