Por Wesley Sousa - estudante de Filosofia pela UFSJ
A evidência consumada do por
que o fracasso capitalista se dá é quando um pobre o “defende” ferozmente. Às vezes
de forma irracional a ponto de “normalizar”
a pobreza extrema como algo banal. O próprio site chamado Spotniks fez isso
recentemente. ¹
Mas por quê? Isso tem um
nome: ideologia.
Em A Ideologia Alemã e, depois, em Contribuição à Crítica da Economia Política, o filósofo Karl
Marx percebeu que, grosso modo, o principal papel da ideologia era de naturalizar condições sociais
historicamente construídas. É o mecanismo pelo qual, dizia ele, o capitalismo se faz parecer justo diante do
mar de desigualdades por ele provocado.
A atual população mundial
com cerca de 7,2 bilhões, segundo a ONU, dos quais 18 milhões de mortes por ano
devido à pobreza, a maioria delas de crianças com menos de cinco anos (OMS);
924 milhões de “sem teto” ou que vivem em moradias precárias (UN Habitat 2003);
1,02 bilhões têm desnutrição crônica (FAO, 2009), etc.
Na prática, sustentar a
ideia que um sistema degenerado possa suprir nossas necessidades como um todo e
homogeneamente, é ignorar a realidade concreta.
“A burguesia, pelo rápido melhoramento
de todos os instrumentos de produção, pelas comunicações infinitamente
facilitadas, arrasta todas as nações, mesmo as mais bárbaras, para a
civilização. Os preços baratos das suas mercadorias são a artilharia pesada com
que deita por terra todas as muralhas da China, com que força à capitulação o
mais obstinado ódio dos bárbaros ao estrangeiro. Compele todas as nações a
apropriarem o modo de produção da burguesia, se não quiserem arruinar-se;
compele-as a introduzirem no seu seio a chamada civilização, i. é, a
tornarem-se burguesas. Numa palavra, ela cria para si um mundo à sua própria
imagem.” – Marx, Manifesto do Partido Comunista, 1848.
Noam Chomsky chama atenção
em que “todo discurso (midiática e
religiosamente) é feito para fazer o indivíduo acreditar que ele mesmo é a
única causa do seu próprio insucesso e da própria desgraça. Que o problema é
individual e não tem nada a ver com o social [e econômico]”.
Sempre vemos economistas com
suas linguagens técnicas em redes de rádio e TV falando sobre capitalismo,
crise, crescimento econômico, [des]emprego, etc. Só que, na verdade, a maioria
dos economistas estão apenas cumprindo o seu papel de “criar soluções alternativas”. Não obstante, a Internet, nesses últimos anos,
têm-nos revelado alguns desses adeptos, com páginas, perfis de usuários e até
mesmo sites de “Institutos” dispostos a pegar os mais leigos de surpresa.
Nos últimos 40 anos o
capitalismo tornou-se fracasso profundo e irreversível, culminando agora na
maior falência estrutural da história ao longo dos seus míseros quatro séculos
de existência. Navegando-se em intrínsecas crises.
As citações e a intimidade
dos setores da mídia imperialista aos economistas fracassados que nada
arrumaram na vida a não ser um emprego de repetidor das ordens do patrão. E
entre umas e outras personalidades dispostas a seres ‘santos’ da teologia
mercantil, todos eram chamados pelo primeiro nome como colegas de classe que te
pedem cola.
Fato é que o processo de
acumulação primitiva está avançando em um ritmo mais rápido imaginamos. Esses
multimilionários são o equivalente aproximado, quanto ao seu número relativo, à
classe senatorial da Roma antiga (600 senadores, mais os filhos adultos, em uma
população de 60 milhões) ou à alta nobreza titulada nas grandes monarquias
europeias do século XVIII (algumas centenas em populações de dezenas de
milhões). Os meros milionários podem ser equiparados à classe curial da antiga
Roma (mercadores, conselheiros e funcionários municipais) ou à pequena nobreza
não titulada da Europa pré-revolucionária, ambas perto de 1% da população da
época.
Em 2013, com O Capital no Século XXI, Thomas Piketty
alertou para o crescimento contínuo da desigualdade de riqueza desde
a década de 1970, contrária à tendência dos 60 anos anteriores e muito mais
acentuada e socialmente relevante que a desigualdade de renda, mais fácil de
pesquisar e na qual se concentrava a maioria dos estudos anteriores.
A riqueza acumulada pelo 1% mais abastado da população
mundial agora equivale, pela primeira vez, à riqueza dos 99% restantes. Igualmente
em números proporcionais à Roma da Idade Média!
Essa é a conclusão de um
estudo da organização não governamental britânica Oxfam, baseado em dados do banco Credit Suisse relativos a outubro de 2015. O relatório afirma que
as 62 pessoas mais ricas do mundo têm similarmente quase mesma riqueza a metade
mais pobre da população global.
No processo de produção, os
capitalistas se apropriam do excedente produzido, a mais-valia, sob a forma de mercadorias. Para que essa mais-valia seja convertida em lucro
monetário, essas mercadorias devem ser vendidas no mercado. Pode-se esperar, de
modo geral, que os trabalhadores gastem todo o salário em mercadorias, mas seus
salários podem comprar só parte das mercadorias produzidas (caso contrário, não
haveria qualquer excedente social). O capitalismo, através de sua história, tem
sofrido crescentes e fortes crises dessa espécie.
Pego exemplo do Brasil, em
momento de crise, com forte desemprego, aumento da pobreza e criminalidade, etc. onde li uma matéria da BBC, nela está a
seguinte informação: “Realizado em
2015, o levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe)
revela que, na capital paulista, existem pelo menos 15.905 pessoas em situação
de rua – quase o dobro comparado a 2000, quando eram 8.706. A alta foi de 82%.”.
²
Enquanto muitos dormem as
ruas, outros poucos se enriquecem cada vez mais, como numa matéria da UOL
Economia intitulado: “Apesar da
crise, aumenta o número de brasileiros em ranking de bilionários”. ³
Quanto uma simples resposta objetiva ao
Spotniks e sua desonestidade intelectual, respondo-lhes:
Assim fica óbvio para todos
nós que a acumulação primitiva do capital através da transformação do campesinato
do Leste Asiático, por exemplo, em trabalhadores assalariados na economia de
mercado, não muda o caráter de uma família ter abandonado a autossubsistência –
só que agora “remunerada”. A produção
para consumo próprio, e ingressado, de algum modo, no mundo mercantil não
significa que o seu padrão de vida melhorou automaticamente.
Desde o início da era
neoliberal, a riqueza acumula-se cada vez mais no topo, enquanto as maiorias
empobrecem em termos relativos e até absolutos. As crises mostraram-se,
sobretudo, oportunidades de radicalizar esse processo: para conter as falências
em massa que agravariam a crise, valores imensos são mobilizados pelos Estados
para financiar os poderosos, cuja incompetência é premiada também com cortes de
impostos, salários e direitos trabalhistas; e as massas pagam a conta com um
salário congelado ou reduzido e impostos mais altos, quando não perdem o
emprego e se endividam ainda mais. Criando em ampliando um enorme abismo como
percebemos.
Simplificando:
se antes não ganhava dinheiro, mas supria todas as necessidades alimentares
básicas e, portanto, recebendo dinheiro através da venda de sua força de
trabalho, não consegue alimentar-se condignamente, então a sua situação terá, pelo
contrário, piorado!
Os mores sociais do
capitalismo têm levado as pessoas a acreditar que praticamente toda necessidade
ou infelicidade subjetiva pode ser eliminada comprando-se mais mercadorias. O
mundo competitivo e economicamente inseguro no qual se movem os trabalhadores
cria sentimentos subjetivos de ansiedade, solidão e alienação. A maioria dos
trabalhadores vê como causa desses sentimentos sua própria incapacidade de
comprar mercadorias suficientes para fazê-los felizes – manter suas
necessidades básicas saciadas.
Contudo, à medida que
recebem salários insuficientes ou ficam desempregados, verificam que o
sentimento geral de insatisfação, “fracasso” e desespero aumentam. Assim, os
trabalhadores tendem a concluir que o problema é que o salário não apenas é
insuficiente, mas também essa lógica
que joga uns contra os outros.
A verdade é uma só: “o
capitalismo gera seu próprio coveiro” – Marx.
Referências e bibliografias:
MARX, Karl, Manifesto do
Partido Comunista. 1848.
________. A Ideologia Alemã.
1846 (mas só publicado em 1933 em Moscou).
________. Contribuição à
Crítica da Economia Política. 1859.
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