Por Jean Lucas - estudante de História pela UFF
Os utópicos afirmam: não é
necessária uma revolução e ela não é possível; uma revolução só traz o mal a
todos e corroerá o estado pacífico no qual podem ser resolvidas algumas das
degradantes situações em que se encontram a grande parte da sociedade. Ora, mas
o que é uma revolução socialista? É a emancipação de toda classe trabalhadora
do domínio burguês; é a continuação da história, é o prosseguir da luta gerada
pelo antagonismo das classes.
Tomemos como premissa o antagonismo
das classes para a continuação do texto. Na obra "Miséria da
Filosofia", na qual Marx responde aos devaneios pequeno-burgueses do
anarquista Pierre-Joseph Proudhon, demonstrando que seu tratado econômico não
supera, de forma alguma, os horizontes burgueses, é deixado claro, pelo próprio
Marx, que a história da humanidade até hoje é a história da luta de classes, ou
seja, do antagonismo entre as mesmas. Isto é, as classes oprimidas, que sempre
lutaram pela sua emancipação, chegaram a um determinado estágio que puderam, em
sua instância, projetar seu domínio sobre outra classe, a então classe
dominante.
Para melhor exemplificar o que
estamos falando, tomemos como base a própria revolução burguesa que se impulsionou com a Revolução Francesa, em 1789, e a partir daí, foi se consolidando
com a Revolução Industrial. O estágio de evolução das forças
produtivas - ou seja, da ciência, do pensamento, das máquinas, da tecnologia,
etc -, sobre a base da filosofia Iluminista, permitiu a ascensão burguesa sobre
o modelo feudal até então existente.
A Revolução Francesa foi, nada mais
nada menos, do que a arrancada brutal das estirpes feudais do poder e a tomada
da política pelos burgueses. Foi a demonstração do antagonismo de classes -
burguesia x senhores feudais -, sendo os primeiros a classe então oprimida, que
tomava um papel revolucionário em seus primeiros momentos de suspiro pela sua
própria liberdade, e a segunda a classe dominante, então conservadora, que
lutou pela manutenção dos seus privilégios e das estruturas feudais. O que se
conclui com isso? Que a própria ascensão da burguesia significou o extremar do
antagonismo de classes que existia até determinada época, lançando ao mundo uma
nova espécie de luta, a que existe hoje, sendo a burguesia a classe dominante,
e o proletariado a classe dominada.
"Na burguesia, temos de
distinguir duas fases: aquela durante a qual ela se constitui em classe sob o
regime feudal e da monarquia absoluta, e aquela em que, já constituída em
classe, derruba o feudalismo e a monarquia, para transformar a sociedade em uma
sociedade burguesa. A primeira dessas etapas foi a mais longa e necessitou
grandes esforços. Ela também começara por coalizões contra os senhores
feudais", analisa Marx em "Miséria da Filosofia".
O que significou a ascensão da
burguesia? A nova história, o novo antagonismo de classes. As inovações que se
seguiram à chegada da burguesia ao poder - a expansão das máquinas, o novo modo
de se produzir, as relações de trabalho até então desconhecidas, as fábricas,
os novos produtos, as novas ideias filosóficas, e, principalmente, a nova
classe, a classe do proletariado - só acontecem, obviamente, pelo certo estágio
de evolução das forças produtivas nos quais se encontravam toda a sociedade dos
séculos XVIII e XIX, e pelo próprio domínio político em que se encontra a
classe burguesa uma vez constituída. Mas por que a luta de classes continua a
acontecer?
Marx responde a isso com muita
clareza: a burguesia, antes uma classe revolucionária, que usurpou dos senhores
feudais o poder político e se constituiu como classe dominante, lançou seus
mecanismos de dominação contra a classe trabalhadora, isto é, a classe que
surgiu após as revoluções burguesas. Diz ele que "as condições econômicas
tinham primeiramente transformado a massa do país [a Inglaterra] em
trabalhadores." Após isso, os interesses em comum compartilhados pelos
cidadãos que integram as fileiras do proletariado acabam por se tornar os
mesmos, ansiosos por sua emancipação, porque "a dominação do capital criou
para essa massa uma situação comum de interesses comuns". Que situação
seria essa, portanto? A dominação, é claro.
No país em que mais se estava
avançada a dominação burguesa, a Inglaterra, era muito fácil encontrar o
surgimento desse novo antagonismo de classes, representado, em suma, pela
insatisfação dos trabalhadores e sua união em prol dos seus "interesses
comuns", como assinalou Marx. O surgimento das coalizões que, em seguida,
se transformaram nos trade unions
para o combate pelos anseios proletários são prova da mais recente luta de
classes que a revolução burguesa lançou sobre o mundo. Para Marx, "nessa
luta - verdadeira guerra civil - reúnem-se e desenvolvem-se todos os elementos
necessários para uma batalha futura. Uma vez chegados a esse ponto, a associação
assume um caráter político".
E como se assumiria esse caráter
político e como se daria a consolidação do poder proletariado por sobre o poder
burguês? Através de uma revolução, que significaria o extremo ponto da relação
de antagonismos entre as classes existentes. Para que isso seja feito, assinala
Marx em "Crítica da filosofia do direito de Hegel", ou seja, a
possibilidade de emancipação só é possível "na formação de uma classe
carregada de cadeias radicais, de uma classe da sociedade civil que não é uma
classe da sociedade civil, de uma ordem que é a dissolução de todas as ordens,
de uma esfera que tem um caráter universal em razão de seus sofrimentos
universais, e que não reivindica qualquer direito particular, porque já se fez
que sofresse uma injustiça particular, mas a injustiça absoluta, que não pode
estar relacionada com o título histórico, mas apenas a um título humano, que
não está em oposição parcial com as consequências [...], de uma esfera, enfim,
que não pode emancipar-se, sem emancipar a todas: em uma palavra, em uma esfera
que é a perda total do homem e não pode, pois, reconquistar ela própria sem a
própria reconquista total do homem. Essa dissolução da sociedade enquanto Stand
particular é o proletariado."
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