Na foto, Bunge e Marx. Dois grandes pensadores modernos. |
Um artigo recentemente foi traduzido para o português do filósofo argentino Mario
Bunge no site Universo Racionalista, intitulado Filosofia Marxista: Promessa e Realidade (link do texto). O artigo é instigante, pois é um assunto importante de
ser debatido. Assim, pretendo dialogar com este texto criticamente, de modo a
rebater aquilo que julgo como equivocado – ou sem embasamento plausível.
O
artigo começa falando que “o marxismo tem
sido ignorado, criticado, travestido e difamado por mais de um século. Mas
ninguém pode honestamente negar que Karl Marx foi um grande economista, e
também um corajoso crítico social e organizador de trabalho, um jornalista
brilhante, e o mais profundo e eloquente crítico do capitalismo.”, e
prossegue afirmando, já no segundo parágrafo, que “ninguém duvida que Marx e seu colega de trabalho Friedrich Engels também
conceberam um original e amplo sistema filosófico nomeado materialismo
dialético, o que em suas próprias opiniões “virou Hegel de ponta cabeça” de
forma que mantiveram sua dialética enquanto rejeitavam seu idealismo.”.
Logo
já se percebe um pequeno equívoco onde, em geral, passaria despercebido.
Explico: Marx não só vira a dialética – e essa ideia é stalinismo puro – não é
apenas pegar a dialética e “virar ela de ponta à cabeça”. A dialética em Hegel
é o seu para-si, em outros
termos, ela mesma encadeia o real em sua processualidade até o devir
do Absoluto. É uma força abstrata que vai se complexificando através dos
processos de síntese, que tem seu desenvolvimento expresso nas categorias.
Encadeia tudo no interior da tríade: “Tese - Antítese – Síntese”.
No
terceiro parágrafo, o autor alega que “Marx
e Engels assim como seus seguidores, falharam a entender que a pior
característica do sistema de Hegel não era o seu idealismo, mas sim a confusão
e obscurantismo; e que suas próprias excursões filosóficas eram grosseiras e
estavam em discrepância com a lógica, matemática, e física de seu tempo.”
Pois
bem, não sei onde Bunge poderia sustentar isso. No posfácio da segunda edição
de “O Capital”, Marx escreve: “Sem dúvida, deve-se distinguir o modo de
exposição segundo sua forma do modo de investigação. A investigação tem de se
apropriar da matéria em seus detalhes, analisar suas diferentes formas de
desenvolvimento e rastrear seu nexo interno. Somente depois de consumado tal
trabalho é que se pode expor adequadamente o movimento real. Se isso é
realizado com sucesso, e se a vida da matéria é agora refletida idealmente, o
observador pode ter a impressão de se encontrar diante de uma construção a
priori”.
Não
apenas isto, mas o colega Erik salienta em um de seus escritos sobre “quando Marx aponta tais princípios (ou
“leis”) no próprio objeto, não está aplicando a dialética de Hegel nele, mas
extraindo do objeto o próprio arrimo da aplicação da dialética como método de
exposição. Só por isso, aliás, é que tal aplicação é possível e
não-arbitrária.”.
O
filósofo argentino dá uma visão ao que ele coloca como item 1 o “Materialismo
Dialético”, e escreve logo abaixo: “uma
combinação do materialismo com a dialética de Hegel. Esta doutrina não nos diz
o que é a matéria, mas exalta a dialética como a teoria de tudo. As assumidas
leis da dialética, como formuladas por Engels (1940,1954) e Lenin (1947,1981),
são falsas na medida em que são inteligíveis. Vamos dar uma pequena olhada
nelas.
A primeira “lei” da dialética, sobre
‘transformação de quantidade em qualidade’, não faz sentido como é expressa. De
fato, toda quantidade é numerosidade de um conjunto ou o grau ou intensidade de
uma característica, propriedade, ou qualidade, assim como em ‘um metro de
extensão.’ Significativa e verdadeira é a afirmação de que há pontos críticos,
como a fusão, e até mesmo mudanças de espécies, como a transmutação dos
elementos.”.
Essa
parte é totalmente sem fundamento, portanto, recorro-me aos escritos da fonte
primária de Engels e Marx, em “A
Ideologia Alemã”, onde dizem claramente que “os pressupostos que partimos não são arbitrários, nem dogmas. São
pressupostos reais que não se pode fazer abstração [...]. São indivíduos reais,
sua ação e suas condições materiais de vida, tanto aquelas por eles já
encontradas, como produzidas por sua ação. Estes pressupostos são, pois
verificáveis por via puramente empíricas [...]” (páginas 26 e 27).
A “segunda lei”, nas palavras de Bunge, é “sobre ‘luta e unidade dos opostos’ é
falseada pela existência de coisas simples, como elétrons e fótons. E poucas se
existentes coisas complexas ou sistemas, como organismos e firmas de negócios,
são decomponíveis em opostos. Por exemplo, pessoas normais raramente estão em
desacordo com si próprias, e grupos sociais não se separam no momento em que
emergem. Mesmo em sociedades profundamente divididas, o trabalho colaborativo
pega muito mais tempo do que a luta, e o esforço pela existência supera
conflitos de classes.
A ideia de que a mudança é contraditória
é uma instância de pensar em opostos, típico do pensamento primitivo e arcaico.
Assim Zeno de Elea acreditava que a mudança é contraditória: a flecha que voa
está lá e não está lá – o que é impossível. É claro que os físicos que vieram
logo após Zeno não foram prejudicados por esta dificuldade: para eles, repouso
é apenas a velocidade zero, um caso particular de movimento, não o seu oposto.
No entanto, 25 séculos mais tarde, Engels (1954), ecoando Hegel, repetiu o
raciocínio de Zeno, exceto pela conclusão: enquanto Zeno negou mudança
juntamente com a contradição, os modernos filósofos dialéticos abraçaram ambos.
Assim, tacitamente abdicaram de dois milênios e meio da ciência.”.
Aqui
notavelmente mostra a fragilidade do texto e sua arbitrariedade. A começar pelo
termo “luta e unidade dos opostos”.
Isso porque Hegel fez bem em criticar Schelling ao falar que isso era uma
tentativa de pintar a realidade com uma paleta de duas cores. Séculos após, tem
gente ressuscita o erro que Hegel já corrigira e ainda tenta atribuir a Marx. A
chamada “lei dos contrários”, como
diz Ciro Domingos, é vulgarizada pelos críticos de Marx – e até mesmo por
admiradores. Nada mais é do que a existência de um algo diferente do outro algo,
ou seja; a concepção que o mundo são formadas por diversas qualidades, não
diversas manifestações de uma mesma qualidade. Tudo o que esse raciocínio
equivocado faz é achar que o mundo se divide em dois polos, enquanto é exatamente o contrário. Assim, Bunge
erra em atribuir equivocadamente isso a Marx.
Bunge
nos dois parágrafos subsequentes afirma: “Quanto
à terceira ‘lei’ dialética, aquela da ‘negação’ da ‘negação’, é incompreensível
à medida que não nos é dito o que a ontológica “negação” e ‘anulação’
(Aufhebung) significa. De qualquer forma, eu espero que meus netos não
acreditem que são duplas negações de seu avô.
Em suma, as ‘leis’ da dialética não são
leis universais de mudança, válidas para a matéria de todas as naturezas –
física, química, biótica, social, e técnica. Nós sabemos um número de
leis gerais, válidas para corpos, campos, células, ou pequenos grupos sociais.
Se existem quaisquer leis universais, isto é, padrões de qualquer tipo de
matéria, isto é uma questão aberta. Caso tais leis existam, certamente não
seriam encontradas através do método Hegeliano, mas centrando o foco na
ciência.”.
Novamente,
é importante recorrer à fonte primária para desmistificar outro equívoco
exposto pelo autor: “Não existe uma
estrada real para a ciência, e somente aqueles que não temem a fadiga de galgar
suas trilhas escarpadas têm chance de atingir seus cumes luminosos” (O Capital). Isto é, de forma resumida,
bem como nas palavras do professor e bacharel em Filosofia pela UFMG, Erik, “portanto, Marx não se arrima numa adaptação
absurda da lógica idealista em uma concreção materialista, mas se ergue a
partir do reconhecimento da objetividade e efetividade de processos, entes e
relações, finitos e específicos. A oposição a Hegel é de natureza ontológica,
materialista, assentada no que se define como ser, anterior ao – e definidora
do – conhecer”.
O item 2 é posto como “O Legado Desastroso de Hegel”,
onde escreve: “Ontologia é negócio sério
– não menos que o núcleo de qualquer sistema filosófico. E uma ontologia séria
não pode ser condensada em três sentenças, muito menos se elas são enigmáticas.
Obscuridade é tolerável no começo de uma investigação – e.g., entre os
pré-Socráticos; mas é intolerável depois de Aristóteles. E assim mesmo, Hegel
ganhou admiração por escrever tais absurdos como ‘tornar é a síntese do ser e
do não ser.’
Eu sugiro que qualquer Marxista que
perceba como o Hegelianismo não é reciclável, deva escolher entre ceder à
derrota, ou tentar limpar e desenvolver qualquer coisa possível de ser
recuperada do navio naufragado. A primeira opção é perfeitamente honrada, em
vista que o próprio Marx desistiu da filosofia quando se comprometeu a escrever
sua obra prima; e que mesmo Etienne Balibar, um filósofo Marxista proeminente,
pensa que talvez Marx seja ‘o maior anti-filósofo da era moderna’’.”.
Uma
coisa é concordante com Bunge: ontologia é negócio sério, tanto é verdade
que muita gente sai escrevendo besteiras sobre, não é mesmo?
A
dialética em Marx não é a dialética hegeliana. Tampouco é um “legado”. Ela não é uma lógica externa a
um objeto: é sempre uma lógica interna de um objeto determinado, particular. Inclusive
Marx critica a concepção dialética idealista de Hegel por atribuir ao espírito
(uma entidade mística) a responsabilidade pelo desenvolvimento da história
humana. Se o sistema hegeliano fazia tudo derivar da Ideia Absoluta, Marx
defende que a consciência, o pensamento, a ideia são apenas reflexos da
realidade material. Diferentemente ao que o trecho acima pressupõe.
Mais
abaixo do artigo está escrito: “Por outro
lado, o legado filosófico de Marx e Engels pode ser respeitado como uma
tentativa falha de combinar o ‘método’ de Hegel com o esboço de materialismo de
Ludwig Feuerbach, assim como bem como com quatro botões radicais e promissores
do radical Iluminismo francês: o materialismo sistêmico (Holbach), o
evolucionismo (Buffon), o cientificismo (Condorcet) e igualitarismo
(Rousseau).”. E esta passagem é bisonhamente estranha (isso para dizer o
mínimo) sobre a deturpação feita (quase um sofisma).
Primeiro,
o autor insiste na ideia que Marx “herdou” algum tipo de método de Hegel.
De acordo com Marx, a atitude de Hegel é uma forma mistificadora da dialética. E
outra coisa: Karl Marx opõe a Hegel esse homem sensível de Feuerbach e ao homem
espiritual hegeliano. Marx contrapõe
o homem real feuerbachiano.
Sinceramente, não sei de onde o autor conclui isso...
A
insistência infundada parece não ter fim: “Apego
a Hegel era tão forte, que seus primeiros discípulos famosamente se dividiram
entre Hegelianos de esquerda e direita. E um século depois, quando a Alemanha
estava dividida em duas, existia uma sociedade de Hegel, com seu correspondente
anuário, em cada lado das duas metades. É verdadeiro que Marx e Engels
criticaram o idealismo de Hegel, mas eles não repudiaram seu culto ao absurdo e
sua rejeição a ciência moderna a partir de Newton. Engels até mesmo repetiu a
afirmação absurda de Hegel que as leis particulares de Kepler implicavam nas
leis gerais do movimento de Newton.
Esse desprezo dos marxistas para a
lógica formal teve três consequências infelizes. Uma delas foi a tolerância de
absurdos como exemplos de dialética. Segundo: ataques contra os primeiros
matemáticos soviéticos que ousaram trabalhar na lógica moderna. Terceiro: a
tese de que a lógica matemática é defeituosa em ser estática, enquanto que
‘lógica dialética’ é verdadeira por ser a teoria da mudança. Esta tese é
triplamente absurda. Em primeiro lugar, porque confunde a lógica com a
ontologia, uma fusão que faz sentido para um idealista objetivo como Hegel, mas
é inadmissível para um materialista. Em segundo lugar, porque o estudo
científico de mudança, longe de ser a priori, tem um forte componente empírico.
Em terceiro lugar, porque ‘lógica dialética’ nunca foi além da fase de
programação.”.
Um
dos biógrafos de Karl Marx, Francis Wheen, escreveu que Marx não era nada
“amigável” à filosofia de Hegel, por isso toda uma oposição e retirada dos céus
das abstrações e trazida ao mundo real, concreto.
Quem
estuda Marx sabe que ele não partiu
de nenhuma dialética hegeliana. Como sentencia novamente o professor Erik: “muito menos enxertando nela ‘o material’ (o
que seria um transplante totalmente estranho ao pensamento hegeliano) e
retirando dela a “casca” de ideias irracionais do idealismo; algo que,
convenhamos, teria sido extremamente banal de se ajeitar e não faria Marx
merecer lugar nenhum na história da filosofia e da ciência.”.
O
trecho “porque confunde a lógica com a
ontologia, uma fusão que faz sentido para um idealista objetivo como Hegel, mas
é inadmissível para um materialista.” é um show de horrores. Falar de um “materialismo dialético” é cair
imediatamente em uma contradição nos termos, pois enquanto o materialismo
é ontológico – trata “o ser”
não como categoria pura comum a tudo que existe (portanto, nada tem a dizer de
coisa alguma), mas considera “o ser” como um ser, uma coisa, um
objeto, síntese de múltiplas determinações, ou seja, concreto, particular,
específico, que apela não apenas ao pensamento mas também aos
sentidos (pois dentre sua riqueza singular de predicados estão os que o
tornam material).
A
prosseguir as ressalvas e alertas ao artigo de Mario Bunge, adentramos, a
partir de agora, ao item 3, Materialismo histórico.
Logo
neste item, o autor pontua: “Materialismo
Histórico é a ontologia social que postula que todo o social como econômico “em
última instância” – um piloto que garante infalibilidade. Ele também adota o
postulado de Heráclito “a luta é o pai de todos.” Vamos confinar a nossa
análise a estas duas teses – economicismo e agonismo, respectivamente, bem como
o holismo e o dualismo economia/cultura.”.
No
decorrer do artigo, está escrito: “Economicismo
é a tese de que a economia é o primeiro motor da sociedade. Marx e Engels
defenderam esta tese, também chamada “imperialismo econômico”, que hoje é
defendido por Gary Becker (1976) e outros membros influentes da escola de
Chicago – o bicho papão do Terceiro Mundo.”. E prossegue após dois
parágrafos: “É verdade, em devido tempo,
Marx e Engels qualificaram a tese economicista: em algumas cartas privadas eles
admitiram que, por vezes, a política leva a mão superior, e outras vezes a
cultura faz. Mas esta concessão veio com um pouco de dualismo ideia/matéria. De
fato, em seu Anti-Dühring, Engels dividiu a sociedade em duas: a infraestrutura
material (econômica) e a superestrutura ideal (o resto). Esta é, obviamente,
uma transposição do antigodualismo corpo/mente, da teologia e da filosofia
idealista da mente, ao social.”
Para
responder esta – falsa – acusação de
“economicismo”, vale um trecho de Engels de 22 de setembro de 1890:
“De acordo com a concepção materialista da
história, o elemento determinante final na história é a produção e
reprodução da vida real. Mais do que
isso, nem eu e nem Marx jamais afirmamos. Assim, se alguém distorce isto afirmando que o fator econômico é
o único determinante, ele transforma esta proposição em algo
abstrato, sem sentido e em uma frase vazia. As condições econômicas são a
infra-estrutura, a base, mas vários outros vetores da superestrutura (formas
políticas da luta de classes e seus resultados, a saber, constituições
estabelecidas pela classe vitoriosa após a batalha, etc., formas jurídicas e
mesmo os reflexos destas lutas nas cabeças dos participantes, como teorias
políticas, jurídicas ou filosóficas, concepções religiosas e seus posteriores
desenvolvimentos em sistemas de dogmas) também exercitam sua influência no
curso das lutas históricas e, em muitos casos, preponderam na determinação de
sua forma. Há uma interação entre todos estes vetores entre os quais há um sem
número de acidentes (isto é, coisas e eventos de conexão tão remota, ou mesmo
impossível, de provar que podemos tomá-los como não-existentes ou
negligenciá-los em nossa análise), mas que o movimento econômico se assenta
finalmente como necessário. Do
contrário, a aplicação da teoria a qualquer período da história que seja
selecionado seria mais fácil do que uma simples equação de primeiro grau.”.
Após
isso, o artigo faz um apontamento raso e pouco sustentável: “O dogma de que o modo de produção determina
todo o resto, cega os marxistas da habilidade para pesquisar
desinteressadamente pelo progresso tecnológico, o que por sua vez alimenta a
indústria e o estado. Outra consequência do dogma é que Marxistas ainda estão
debatendo onde se deve colocar a ciência e a tecnologia: se é na infraestrutura
(como “força produtiva”), como Marx uma vez manteve, ou na superestrutura
(juntamente à ideologia).
Fixação nesses dogmas tem impedido a
maioria dos Marxistas de perceber a complexidade da sociedade. Talvez essa
parcial cegueira, junto com a crença de que o materialismo histórico explica
tudo que é social sem a necessidade de mais pesquisas seja o motivo pelo qual
não existe uma sociologia, culturologia e ciência política Marxista. De
qualquer maneira, continuemos.”.
Nem
o próprio Marx “desprezava” os avanços tecnológicos, muito pelo contrário,
aliás. O Capital não “cria” a ciência, e sim, a explora
apropriando-se dela no processo produtivo. Com isto, se produz, simultaneamente,
a separação entre a ciência, enquanto ciência aplicada à
produção e o trabalho direto, enquanto nas fases anteriores da produção a
experiência e o intercâmbio limitado de conhecimentos estavam ligados diretamente ao próprio trabalho.
Marx,
n’O
Capital, escreve que “o modo de
produção da vida material é que condiciona o processo da vida social, política
e espiritual.”. Isso pode soar como as forças produtivas sendo
“determinante” ao resto, mas, o importante salientar que a história é feita de
maneira que o resultado final sempre surge da conflitante relação entre muitas
vontades individuais, cada qual destas vontades feita em condições particulares
de vida. Cada vontade individual é obstruída por outra vontade individual e o
que emerge é uma vontade final não antecipada pelas singularidades envolvidas.
Assim,
a afirmativa que “materialismo histórico
explica tudo que é social sem a necessidade de mais pesquisas seja o motivo
pelo qual não existe uma sociologia, culturologia e ciência política Marxista”,
é infundada porque, nas palavras de Marx, “a
produção capitalista transforma o processo produtivo material em aplicação
da ciência à produção — em ciência, posta em prática, mas somente
submetendo o trabalho ao capital e reprimindo o próprio desenvolvimento
intelectual e profissional.” (Manuscritos
Econômico-Filosóficos).
Bunge
alega que “mesmo com todas as suas
falhas, a ontologia social materialista, uma vez libertada da dialética, em
particular do dogma de que o conflito é a mãe de todas as mudanças, tem sido
muito mais frutífera do que sua contraparte idealista. Na verdade, mesmo uma
análise superficial da literatura da ciência social contemporânea dominante não
mostra nenhuma pesquisa séria inspirada no postulado idealista que ideias movem
a sociedade. Não é que elas não importem, mas, como Marx escreveu, ideias são
eficazes apenas na medida em que orientam ou desorientam as pessoas no sentido
de obter o que elas precisam para sobreviver.”.
O
autor insistentemente escreve sobre “o conflito é a mãe de todas as mudanças”.
Anteriormente já foi explicado sobre essa falácia. Não é preciso explicá-la novamente.
O item 4, tem o subtítulo Epistemologia e a Sociologia do
Conhecimento.
Bunge,
nessa parte, trata da teoria do conhecimento em Marx, e começa o fazendo
alegando que, embora Marx tenha criticado os filósofos empiristas, Engels
recuperou esse empirismo e, a partir disso, a filosofia marxista aplicada à
sociedade tornou-se empirista, contraditoriamente. Ou seja, o autor coloca que
Engels teria feito o trabalho inverso de Marx. Nada mais falso que isso, já
que, na realidade, a teoria do conhecimento de Kant foi apenas abarcada por
Marx e Engels. Marx simpatizou-se com as ideias de Kant no que diz respeito à
teoria do conhecimento porque Kant intermediou o secular debate entre
empiristas e racionalistas quanto à possibilidade de se fazer conhecimento.
Enquanto
os empiristas diziam que todo conhecimento advinha estritamente dos sentidos
humanos, e a partir daí todo conhecimento se formaria, os racionalistas
alegavam que todo o conhecimento advinha da razão e só se produziria por
intermédio desta. Kant resolveu esse problema selecionando a importância de
cada um dos “tipos” de aquisição de
conhecimento. Bunge insinuou que Engels ignorou Kant, e voltou aos empiristas,
acoplando às suas teorias sociais métodos empiristas. Só que o autor não
explicou o porquê de Engels ter caído em um empirismo grosseiro, ou seja, de
ter ignorando as teses de Kant.
Bunge,
partindo do pressuposto que Engels é empirista, desenvolve os posteriores
parágrafos fazendo ilações completamente errôneas até mesmo mediante a
perspectiva empirista, demonstrando um desconhecimento tanto dessa filosofia
quanto da filosofia materialista. Vejamos:
“De acordo com essa tese [a empirista], até
mesmo os mais abstratos conceitos matemáticos, como o de zero infinito, seriam
apenas destilações de perceptos. A socialização dessa tese é a ideia
extraordinária de que todas as ideias, não importando quão abstratas,
“condensam as experiências das massas”. Se fosse assim, mesmo as fantasias
religiosas e pseudocientíficas estariam ancoradas na experiência. E nenhuma
ideia contraintuitiva surgiria. Em instância, física de campo, física atômica,
genética, biologia evolutiva e a teoria quântica nunca teriam sido
concebidas.”.
Ignorando-se
que esse seja uma crítica ao “materialismo
dialético”, já que o autor deixa claro que faz referência à epistemologia
empirista, ainda assim podemos detectar alguns equívocos na concepção de
empirismo pelo autor. Em primeiro lugar, os empiristas, a exemplo de Hume,
diziam que todas as ideias são produtos de associações mentais que os
indivíduos habitualmente fazem por meio da razão que, por sua vez, adquiri que seus
princípios na própria experiência sensível, e essas associações se formam à
medida que os sentidos percebem os objetos do mundo físico. Longe de tornar
inconcebíveis as ciências, o empirismo preza pela Ciência em geral na medida em
que esta trabalha na repetição de experiências e formulações, o que é
fundamental para a aquisição de conhecimento no empirismo.
O
autor demonstra espanto com a tese empirista, demonstrando que não entendeu
nada acerca dela: “Se fosse assim, mesmo
as fantasias religiosas e pseudocientíficas estariam ancoradas na experiência.
E nenhuma ideia contraintuitiva surgiria.”.
O
autor acha que quando se fala em experiência está-se falando precisamente de
testes em laboratório, ou seja, de experimentos, e aqui ele confunde empirismo
- teoria do conhecimento - com realidade. Experimentem substituir a palavra “experiência” por “realidade”. Aí sim, faria algum sentido à colocação de Bunge. Mas,
por enquanto, foi apenas um erro conceitual mesmo.
A
propósito, para o empirismo, esses tipos de fantasias, religiosas ou
pseudocientíficas, são apenas frutos de erros nas sensações ou no processo pelo
qual as sensações se transformam em ideias - o processo de associação e
repetição. Esses erros conceituais, propositais ou não, levaram o autor a cometer
distorções ainda maiores:
“Em suma, o Marxismo não enriquece a
epistemologia: ele apenas temperou a teoria empirista com confusões dialéticas.
Pior, não adotou a melhor contribuição do empirismo, o requerimento científico
de que hipóteses devem ser colocadas a teste. Ironicamente, tal apriorismo
contradiz o empirismo. No topo disso, ele levou a ossificação da teoria
Marxista. De fato, muitos dos filósofos Marxistas argumentaram em um estilo
teológico: “Essa opinião é falsa porque contradiz o que Marx (ou Engels)
declarou naquele trabalho.”.
Basta
debruçar-se para estudar cinco minutos sobre empirismo para se perceber que
esse parágrafo não faz o menor sentido, e apenas expressa preconceitos e
opiniões confusas e tolas do autor. Mais uma vez ele interpretou “empirismo”
como “método científico” ou coisa semelhante, meteu a palavra “apriorismo” do
nada e depois tentou formar alguma frase com sentido, sem sucesso. Esse
parágrafo, de fato, ficou como um verdadeiro ornitorrinco, um ornitorrinco
aleijado, por sinal.
A
seguir, sem dúvida, a parte mais hilariante do texto, pois revela uma
ignorância completa por parte do autor acerca de pós-modernismo e modernismo,
isso é a distinção entre o pensamento moderno e o pós-moderno. Mais ainda, o
autor mais uma vez revela sua ignorância quanto não só aos escritos de Marx
como também ao marxismo. Eis a maior manifestação de ignorância teórica de todo
o artigo de Bunge: “Enquanto Marx e
Engels não enriqueceram a filosofia do conhecimento, eles foram os avôs daquela
peculiar sociologia da ciência que clama que todas as ideias, longe de serem
processos cerebrais, são construções sociais.”.
Façamos uma pequena observação em
primeiro lugar: penso que a crítica aos
pós-modernos foi mal colocada, na pressa de se fazer logo uma caricatura,
aliás, já manjada. A crítica correta é a que os pós-modernos afirmam que fatos
científicos sejam constructos sociais, culturais, paradigmas etc. As ideias, na
realidade, são construções psíquicas que passam por um processo de assimilação
no cérebro humano, mas as ideias não são entidades transcendentais. Elas estão
contidas na materialidade do mundo e, com isso, pode-se dizer que são, sim, de
certa maneira, construções – entendidas como processos de formação e – sociais,
e isso nada tem a ver com colocar todas as ideias em pé de igualdade, como se
todas fossem válidas, já que nem faz sentido se falar em validade ou não de uma
ideia. O que se deve fazer é a apreensão do processo pelo qual determinada
ideia foi constituída, e é essa a proposição marxista.
Mesmo
as ideias mais insanas têm pé na realidade. Ora bem, além da realidade não
existe, penso eu, nada mais. Como pode então alguns ditos racionalistas se
espantarem com a proposição de que “ideias
malucas, insanas” têm, mesmo nessa forma, conexão com a realidade? Se essas
ideias não têm conexão com a realidade, estão conexas a quê, então? Aos deuses?
Estão fora do mundo? A questão que deve ser posta, como fica evidente a partir
disso, é como é possível e como ocorre a formação de determinadas ideias
fabulosas. Que esse processo de formação ocorre no cérebro, todos sabem, mas
parece que os colegas racionalistas creem que para chegar ao cérebro foi
preciso que um deus ou um orixá tenha posto no cérebro o substrato a partir do
qual as ideias puderam se desenvolver.
O
que Marx propõe – e aqui fica patente a negligência de Bunge com o esforço de
pensar – é uma teoria do conhecimento verdadeiramente materialista, factual, a
análise das bases sobre as quais os indivíduos, cheios de ideias, se
desenvolvem, juntamente com essas ideias. Essa base é a sociedade, o mundo,
natureza, interligado entre si. Ideias não são autônomas, elas dependem dos
cérebros humanos para existirem. Os cérebros, por sua vez, não são autônomos,
mas dependem do corpo humano, que depende do mundo para se desenvolver. Ideias,
indistintamente, devem estar atreladas ao mundo, assim como o ser humano. Somos
parte do mundo, da natureza.
“De fato. Marx não apenas assegurou que
“a existência social determina a consciência”, mas também que a classe social
gera ideias, e que o indivíduo as adquire através da educação e tradição. Mas
ele não revelou como a classe, que não possui cérebro, pode pensar, muito menos
como essa estranha conjectura poderia ser posta a teste.”.
Bunge
aqui – mas não só aqui – demonstra que não assimilou os significados dos
conceitos marxistas e, mesmo assim, conseguiu de maneira plena, fazer jus à sua
introdução: “O marxismo tem sido ignorado,
criticado, travestido e difamado por mais de um século”. Neste caso, foi
nosso pobre marxismo, mais uma vez, ignorado. Bunge, talvez por alguma tara,
assimilou “classe” como uma entidade,
além do mundo e das coisas, bem distante dos seres humanos.
Assim,
o autor escreve “ele [Marx] não revelou
como a classe, que não possui cérebro, pode pensar, muito menos como essa
estranha conjectura poderia ser posta a teste”. O coletivo é estranhado e
entificado, o que me leva a crer que Bunge também se indagaria indignado, ao
ser surpreendido por um ataque de uma matilha de cães e após ter levado algumas
mordidas: “como pode?! Uma matilha,
que não tem dentes, morder-me?!”
Para
finalizar, Marx diz na Ideologia Alemã:
“As representações que seus indivíduos
elaboram são representações a respeito de sua relação com a natureza, ou sobre
suas mútuas relações [...]. Os homens são produtores de suas representações, de
suas ideias, etc. mas a consciência jamais pode ser outra coisa que o ser
consciente, e o ser dos homens é o seu processo de vida real.” (páginas 36
e 37).
Mais adiante o filósofo
argentino diz:
“A tese de Marx de que grupos sociais, não indivíduos, fazem o pensar,
foi reinventada um século depois pelos construtivistas sociais, que defendem
que todas as ideias científicas, e mesmo fatos, são construções sociais (e.g.,
Latour e Woolgar 1979). A versão neoliberal dessa visão holista é: Toda
pesquisa é, ou deve ser, motivada pelo lucro; e que o especialista, em
particular o investigador, é ninguém: o Mercado sabe melhor. Consequentemente
as universidades – os templos tradicionais de aprendizado – devem servir os
negócios (veja Mirowski 2011 para uma crítica incisiva) Assim, tragicômica,
Marx e seus seguidores foram sem querer precursores tanto do pós-modernismo
quanto do neoliberalismo. Moral da história: Cuidado com Hegel e holismo em
geral.”.
Bunge, nesse sentido, em
dizer que “Marx e seus seguidores foram
sem querer precursores tanto do pós-modernismo quanto do neoliberalismo”,
mostra o quão desonesto e mentiroso (também infundado) ele foi nesta parte, pois o
pós-modernismo é a expressão mais típica dessa sensibilidade emergente e
afirma-se como um novo padrão cultural dominante nas sociedades do capitalismo
tardio. Seu florescer exige a existência de uma indústria cultural
desenvolvida, tendo à frente os meios eletrônicos audiovisuais, responsáveis
pela midiatização da cultura. Tem
como sua base societária um significativo contingente de novos intermediários
culturais, dotados de formação cultural e/ou profissional universitária, que
estejam inseridos no circuito da produção e consumo de bens culturais – como a
mídia, a publicidade, a moda, o design, e profissões de aconselhamento,
terapêuticas e educacionais. O império da mídia e dos shoppings centers cria um modo de vida baseado na subjetividade, no
desejo, na fragmentação. A vigência do capitalismo tardio supõe a proliferação
de um sujeito pós-moderno, constituído como uma “rede difusa de laços libidinais passageiros”, dotado de uma
subjetividade fugidia e polissêmica o suficiente para atender aos chamamentos
do hedonismo e do consumo.
O pós-modernismo pode se
manifestar como cultura pós-moderna e/ou como pensamento pós-moderno. A cultura
pós-moderna surge como uma reação crítica ao alto modernismo que, depois da II
Guerra Mundial, tornara-se o cânone cultural e passara a representar o establishment em termos de arte,
literatura e arquitetura nas sociedades ocidentais. Na efervescência dos anos
60, a contracultura criou o ambiente para a recusa dos valores da racionalidade
técnico-burocrática e científica então hegemônica que inspiravam a crença no
progresso histórico linear, em verdades absolutas e nas potencialidades do
planejamento racional dos processos sociais e da produção material. No primeiro
momento, em meados da década de 70, o pós-modernismo surgiu como uma
contestação à monotonia estilística predominante no International Style da arquitetura moderna. O pós-modernismo busca
legitimar-se através da rejeição das formas intelectuais modernas, em que
algumas categorias – tais como sujeito, razão, ciência, verdade, história, etc.
– ocupam uma posição axial.
O
alvo da crítica pós-moderna é, em última análise, o marxismo e a esquerda
socialista, sempre de forma rasa e infundada.
O pós-modernismo mantém uma
relação ontológica com o mercado, constituindo uma forma de consciência social
que lhe é perfeitamente funcional. Corresponde à lógica cultural do sistema
capitalista contemporâneo cuja objetivação assumiu as feições de uma rede
mundialmente descentrada e aparentemente fragmentada que dificulta a sua
adequada representação mental. A aceitação celebratória da lógica do mercado e
dos seus efeitos socioculturais indica que o pós-modernismo e o neoliberalismo
são componentes importantes do mesmo Zeitgeist
[espírito do tempo] correspondente à chamada globalização. O pós-modernismo
opera como uma interface cultural que possui uma afinidade estrutural com a
hegemonia neoliberal na economia e na política do capitalismo mundializado.
Portanto, completamente diferente do que Mario Bunge pressupõe em atribuir em
Marx tudo isso.
Já o item 5 o autor comenta sobre Teoria
e Praxis, Apriorismo e Pragmatismo.
O hermano começa dizendo que “Na
última e mais famosa das suas 11 teses sobre Feuerbach, gravada na lápide de
seu túmulo, o jovem Marx afirmou que, enquanto os filósofos têm “interpretado”
o mundo de várias maneiras, o ponto é mudá-lo. Esta declaração é ambígua: pode
ser lida tanto como a alegação de que a práxis supera teoria, ou como uma
chamada à ação social, sem a ciência social.”.
Bunge, novamente aqui,
interpreta como quis sem a seriedade devida digna de um “racionalista” – ou
seja, criou sua própria interpretação para encaixotá-la naquilo onde quer
criticar (típico de idealistas).
A frase não é uma espécie de
“militância”, mas, sobretudo porque o
problema dos filósofos, para Marx, é que se limitaram a interpretar o
mundo de diversas maneiras, evadindo-se da árdua tarefa de modificá-lo, ou
seja, de levar suas interpretações para o plano concreto – com o fim último de
modificá-lo obviamente, mas para mim o cerne da questão é o idealismo dos
filósofos, é o viver alienado do mundo real em um plano das ideias pouco ou
nada concreto.
O filosofo argentino
prossegue dizendo que “De acordo com
qualquer uma das interpretações, a famosa fórmula é uma máxima pragmatista.
Tanto assim, que o filósofo marxista Antonio Labriola chamou o materialismo
histórico a filosofia da práxis. Presumivelmente, outros comentadores de Marx propuseram
leituras alternativas. Esta é a grande vantagem da ambiguidade: ele se presta a
múltiplas leituras, daí as disputas escolásticas infinitas.
De
qualquer forma, a essência da Tese XI é que a práxis é superior à teoria. Se
esta fórmula é aplicada à filosofia da práxis, verifica-se que este último deve
ser substituído com a ação cega, ou seja, ação sem um suporte teórico. Em
outras palavras, o pragmatismo radical é suicida, porque aconselha ação
irracional.”.
A interpretação do mundo
material com os olhos voltados à transformação dele. Mas para que o objetivo
final seja atingido, é necessária uma filosofia bem estruturada, um pensamento
crítico, um conhecimento científico. Científico não em um sentido positivista,
mas em um sentido anti-dogmático, e sério. E a dedicação a um forte princípio
crítico: da dúvida. Só que Bunge alega ambuiguidade na frase, porém algo que
não se sustenta, porque a ‘Filosofia Marxista’ é um espaço aberto de discussão
acerca da filosofia da práxis, sempre buscando – à medida que meu limitado
intelecto seja capaz – principalmente a objetividade aquilo que a filosofia em
Marx é. Certa vez escreveu Lênin: “Sem
teoria revolucionária, não há movimento revolucionário possível.”.
Na verdade, o que Marx
assegurava é que, de fato, a práxis é
extremamente importante se quiser obter resultados, porque apenas teorias e
mais teorias não podem mudar o mundo. O que muda o mundo são as pessoas,
que o fazem através das ações. Paulo freire diz, por fim, que, “A teoria sem a prática vira 'verbalismo',
assim como a prática sem teoria, vira ativismo. No entanto, quando se une a
prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da
realidade.”.
Adiante, o artigo tem-se os
seguintes parágrafos do item 5:
“Como
consequência, a liderança comunista, tanto dentro como fora do bloco Soviético,
carecia de um guia atualizado baseado em pesquisas sociais sólidas: isso foi
confundido pela utilização de slogans simplistas improvisados por líderes
incontestados. Isso foi um caso de pensamento acrítico em escala mundial.
Em
particular, o desmoronamento repentino do bloco soviético pegou todos os
marxistas de surpresa, porque estes haviam se especializado em criticar o
capitalismo em vez de investigar os traços do chamado “socialismo realmente
existente”. Ou seja, a adesão dogmática a ideias que tinham sido originais, um
século antes cegou para o que estava acontecendo debaixo de seus narizes. O
caso mais trágico da incompatibilidade entre a teoria e realidade?”.
Bunge notavelmente se mostra
ignorante à História (sabe-se lá o motivo): antes de qualquer ação tomada na
Revolução Russa, Lenin foi, antes de tudo, um grande teórico preocupado, em
suma, com a práxis. Seus estudos indicavam, basicamente, o que deveria ser
feito na Rússia para que uma revolução socialista tivesse êxito e que o
proletariado pudesse se emancipar do julgo do capital. Reconheceu as condições
materiais do país, estudou profundamente as questões agrárias e econômicas da
Rússia e em que condições se encontravam o operariado crescente. Isso tudo
antes da Revolução. Contudo, sua participação efetiva se deu com sua liderança
na Revolução de Outubro quando, após uma intensa pesquisa teórica, ele foi para
o campo da ação.
O autor alega que, para
corroborar sua premissa, “a adesão dogmática
a ideias que tinham sido originais, um século antes cegou para o que estava
acontecendo debaixo de seus narizes. O caso mais trágico da incompatibilidade
entre a teoria e realidade?”.
Nada mais falso. Explico-lhes:
em maio de 1990 Yeltsin ganhou poder na Federação Russa, e tentou concentrá-lo
todo em suas mãos, tirando-o das autoridades soviéticas. Assim, as instituições
de planificação econômica encontraram-se sem qualquer poder real, e a economia
soviética, que era um todo homogênea, começou a desabar lentamente. É
importante destacar: a crise não veio da incapacidade da economia planificada,
mas do seu desmonte, que levou a uma ausência de meios de coordenação eficazes.
O mais importante a se levar em conta da obra de Marx, é que ela é uma crítica
ao capitalismo.
No entanto, Marx nunca
forneceu uma descrição detalhada como o comunismo poderia “funcionar” (lembrando que comunismo não é uma máquina de lavar onde
se coloca as roupas lá e elas saem limpas e ponto final), mas subentende-se uma sociedade comunista consistiria de
propriedade comum dos meios de produção, culminando com a negação do conceito
de propriedade privada e do capital referente aos meios de produção, na
terminologia marxista. Podemos então tomar como conclusão que nunca existiu o
comunismo de maneira como Marx trabalhou. Portanto, o “dogma” é inexistente, em
definitivo.
Ao
prosseguirmos a série de ressalvas e críticas ao artigo de Mario Bunge sobre a
filosofia de Marx, eis que chegamos ao item
6, cujo é o Estado e Planejamento.
Neste
item, o autor começa dizendo:
“A teoria marxista do Estado resume-se a
tese de que a sua única função é salvaguardar os interesses da classe
dominante. Esta afirmação não se sustenta em geral, porque, desde o seu
surgimento cinco milênios atrás, o estado teve duas funções: manter o regime
social existente, e gerir a coisa pública ou comunidade, em especial, o
território e as obras públicas. Em muitos casos, o Estado também se comprometeu
a proteger os fracos e ajudar os despossuídos. Basta lembrar os governos de
Hammurabi, Péricles, e Asoka, assim como os estados de bem-estar social dos
nossos dias.”.
Isso
não é verdade. A propriedade privada só pode existir graças à existência do
Estado sob forma capitalista. Para Marx, “[…]
o poder político do Estado representativo moderno nada mais é do que um comitê
para administrar os negócios comuns de toda a classe burguêsa.” (Manifesto do Partido Comunista). O Estado
seria originário da necessidade de um grupo, ou classe social, manter seu
domínio econômico a partir de um domínio político sobre outros grupos, as
classes subalternas. Segundo Marx, “toda classe que aspira à dominação […], deve conquistar primeiro o
poder político, para apresentar seu interesse como interesse geral, ao que está
obrigada no primeiro momento.”. É por isso que as ideias dominantes de uma
época, segundo Marx, são as ideias dos grupos dominantes. É nesse contexto
teórico que Marx desenvolverá a ideia de ideologia, a qual seria uma “peça chave” para transmitir as “ideias invertidas de ponta-cabeça” que
lhes possibilitam a manutenção do status
quo. O
centro da questão para Marx não é que uns sejam proprietários de mais coisas
que outros. A diferença fundamental é que os capitalistas são os proprietários
dos meios de produção (fábricas, empresas, latifúndios e etc.) e não precisam
trabalhar para sobreviver; outros, os trabalhadores, por não terem a
propriedade destes meios de produção, se veem obrigados a vender para quem os detêm
os meios de produção, sua força de trabalho. É assim que a propriedade privada
traça as fronteiras entre as classes sociais.
Nesse
sentido, Marx escreveu em seu livro “A
Guerra Civil na França”: “À medida
que os progressos da moderna indústria desenvolviam, ampliavam e aprofundavam o
antagonismo de classe entre o capital e o trabalho, o poder do Estado foi
adquirindo cada vez mais o caráter de poder nacional do capital sobre o
trabalho, de força pública organizada para a escravização social, de máquina do
despotismo de classe. Depois de cada revolução, que assinala um passo adiante
na luta de classes, revela-se com traços cada vez mais nítidos o caráter
puramente repressivo do poder do Estado.” (página 79).
Agora
sobre “os estados de bem-estar social dos
nossos dias”: O Estado de Bem-Estar Social pode ser compreendido, de forma
abreviada, como um movimento realizado por menos de uma dúzia de países
centrais que teceram uma malha de exploração pelo mundo através de empresas
transnacionais para abastecer essa meia dúzia de países “ricos”. Com isso, possibilitou trazer para estas nações
imperialistas uma enorme quantidade de riqueza expropriada dos países
periféricos. O problema é que, esta superprodução necessitava ser consumida e o
cenário do pós-guerra, era desfavorável para essa finalidade.
O
geógrafo britânico (um dos mais conhecidos e respeitados no mundo) David Harvey,
reforça essa perspectiva ao mencionar que “O
fordismo do pós-guerra também teve muito de questão internacional. O longo
período de expansão do pós-guerra dependia de modo crucial de uma maciça
ampliação dos fluxos de comércio mundial e de investimento internacional”
(2002, p. 131). Tal expansão comercial ocorreu tanto por políticas de ocupação,
ou indiretamente por meio do plano Marshall.
O
Estado de Bem-Estar foi uma etapa preparatória para o neoliberalismo que estava
por vir; a dívida externa dos países periféricos e a maior presença dos
capitais imperialistas em suas economias, aliadas à quase inexistência da
reação dos trabalhadores ao neoliberalismo nascente, fez com que a transição do
Estado de Bem-Estar para o Estado neoliberal fosse surpreendentemente
tranquila, levando-se em consideração o que os assalariados perderam. Isso sem
falar da “domesticação” dos
sindicatos trabalhistas, facilitando profundamente a instalação do
neoliberalismo décadas depois sem uma contraofensiva.
Com
a chegada da crise estrutural do capital, o Estado sequer consegue contribuir
decisivamente para resolver de forma profunda os problemas da acumulação
capitalistas gerados a partir do agravamento dessa crise, atuando apenas na
atenuação dos efeitos, assim sendo, as possibilidades de auxílio ao conjunto da
sociedade encontram-se cada vez mais limitados.
Nos
parágrafos seguintes, o argentino diz: “Nem
Marx nem Engels formulou uma estratégia para tomar o poder. De acordo com o seu
determinismo histórico, eles acreditavam que a revolução proletária seria uma
consequência automática da “contradição” econômica do capitalismo: “O modo de
produção sobe em rebelião contra a forma de troca”, como disse Engels
enigmaticamente perto do fim de seu ‘Socialismo: Utópico e Científico’ (1880).
Dada esta visão da história como uma
batalha titânica entre as características da economia, em vez de entre pessoas
de carne e osso, não deve ser surpreendente que os fundadores do
marxismo-leninismo não tinham planos para o dia após a revolução. Planejamento
pareceu-lhes uma coisa para utópicos. (Nota-se a falácia subjacente: “Utópicos
planejam, então o planejamento é utópico”.) Consequentemente, a Revolução de
1917 travou-lhes sem quaisquer planos para a construção do socialismo.”.
Bunge
arbitrariamente acusa Marx de “determinismo
histórico”, quando, na verdade, Engels percebe
a lógica de uma única manifestação (a do capitalismo) para expor o que poderia
vir a serem algo inevitável dada condições materiais e as relações de produção.
Em “Crítica do Programa de Gotha”, Marx
fez referências a aspectos da organização social no socialismo, por exemplo,
logo não poderia considerar “utópico” quem se dedicasse a tal empreitada...
Em
sequência Bunge afirma: “Lenin afirmou
que o planejamento da economia seria ‘tão simples quanto uma brincadeira de
criança’. O resultado de tal improvisação era de que os bolcheviques começaram
a construção do socialismo uma década após a tomada do poder, quando o Primeiro
Plano Quinquenal (1928-1933) foi iniciado. Este plano foi ainda mais
bem-sucedido, uma vez que foi realizado, ao mesmo tempo em que as economias
capitalistas afundaram como uma consequência do crash de Wall Street em 1929.
O planejamento soviético da economia foi
tão bem sucedido, que foi copiado por muitos governos pró-capitalismo. Mas, por
ser excessivamente centralizado e, portanto autoritário ao invés de
participativo, tal planejamento corta a motivação e responsabilidade de base, e
não dá visão para as dificuldades regionais, que apenas gestores locais podem
resolver.”.
Na realidade, o
desenvolvimento da economia soviética dependia, em primeira instância, do
GOSPLAN, um imenso órgão de planejamento econômico da URSS criado ainda no
comando de Lênin. O órgão de planejamento estatal tinha como função a criação
de metas de produção a médio e longo prazo, antes disso sendo órgão consultivo
do Partido junto aos trabalhadores.
Com os planos quinquenais,
todos os planos de produção e as metas tinham de ser muito bem estudadas e
entrelaçadas para evitar quaisquer danos maiores à economia que estava em
ascensão, portanto, qualquer decisão do órgão era tomada em conjunto com os
trabalhadores que trabalhavam em determinado setor industrial, que era quem
determinava as condições de produção daquela fábrica, entre outras coisas, como
a necessidade de máquinas, ou se era realmente possível à produção de
determinada quantidade de produto em determinado tempo.
O
penúltimo item é o 7. Cujo subtítulo é Ditadura e Desastre.
Logo a afirmação: “Em 1848, com a ajuda de Engels, Marx
inventou o comunismo moderno ao escrever o brilhante Manifesto Comunista. Mas o
abortou em 1875, quando criticando o programa de Gotha do Partido Socialista
alemão. O documento anterior (que passou despercebido em seu próprio dia)
proclamou a conveniência e a inevitabilidade da “emancipação universal”. O
segundo documento denegriu a liberdade “burguesa” ou “formal” e propôs que,
quando tomar o poder, os socialistas devem instalar a “ditadura do proletariado”.
Para desmentir isso,
usaremos das palavras de Eric Hobsbawm, contidas em um texto de sua autoria
cujo título é Renascendo das Cinzas: “[...] o termo “socialismo” não
era um termo político e não conotava nenhuma forma específica da organização da
sociedade; diferente do termo mais antigo “comunismo”, que desde o começo
designava basicamente uma sociedade baseada na propriedade coletiva e não-privada,
administrada como tal – e, desde Babeuf, o movimento político para
transformá-la em realidade. “socialismo” e “socialista” eram simplesmente
derivados da palavra “social” e significavam pouco além de que o ser humano é
por natureza um ser social e sociável. Começou a adquirir algo parecido com o
sentido que conhecemos apenas nos anos 30 do século XVIII, quando começou a
fazer parte do vocabulário social e político, espalhando-se a partir da
Grã-Bretanha e da França.”.
Mais adiante no item 7, o argentino alega que “Marx, Engels e seus sucessores tinham a
certeza de que esta ditadura iria “desaparecer” com o tempo, mas eles não dizem
qual é o mecanismo: a sua declaração era apenas um dos muitos dogmas marxistas.
O que é verdade, é que todos os estados tendem a se expandir, porque a
burocracia estatal e as forças de segurança têm interesse em sua própria
preservação.”.
E
ainda: “É igualmente óbvio que o
“socialismo autoritário” é um paradoxo, porque socializar um bem é
compartilhá-lo, e não há participação, sempre que uma pequena minoria, como um
partido político, impõe pela força os seus interesses, ideias e planos. Ninguém
deveria ter se surpreendido que em 1989 os chamados governos comunistas na
Europa entraram em colapso sem disparar um tiro, movidos por algumas
manifestações pacíficas de rua: as ditaduras haviam alienado as massas fartas
de desigualdades injustificadas. Assim, paradoxalmente, a rebelião
anti-comunista foi feito em nome da igualdade, não só da liberdade. Mais uma
vez, os valores se mostraram em pacotes, não um por um.”.
Quando
Marx e Engels teorizaram a ditadura do
proletariado (“ditadura proletária”
é, sobretudo, um jargão do séc XIX que, ‘mais
atual’, significa suspensão das
leis), a questão do conteúdo essencial da revolução proletária, em seu
movimento, e em sua amplitude, estas suas conquistas só tomam corpo através da
ditadura do proletariado. Entretanto, eles não teorizaram um Estado aos moldes
burgueses. Na realidade, o Estado do proletariado é tão somente um Estado que deve
existir enquanto a classe trabalhadora está sendo efetivada no processo
transitório.
Em
“Crítica da filosofia do direito de
Hegel”, Marx afirma que a emancipação do proletariado só pode ocorrer
quando da abolição de todas as classes sociais. E em “A Miséria da Filosofia”, ele afirma que a necessidade de “emancipação do proletariado pressupõe,
também, o fim de todas as classes.”.
Quando
Lenin começa seus estudos sobre o Estado, em específico na obra “O Estado e a Revolução”, ele afirma que
este é um mecanismo sempre de dominação de uma sobre outra, ou seja, que é uma
ferramenta para uma espécie de conciliação forçada entre as classes. Isto é, o
Estado somente existe quando há o antagonismo de classes. Sendo a construção do
socialismo o fim de todo o antagonismo de classes; a emancipação da classe
trabalhadora, o Estado não mais seria necessário porque não haveria mais
classes para serem dominadas por outra.
Finalmente
chegamos ao último item. Ao item 8, que
é a Conclusão:
Neste
final, o autor começa com um “arremate” no mínimo estranho:
“A filosofia marxista nasceu obsoleta
porque resultou da tentativa de combinar os ideais progressistas do iluminismo
radical francês com a filosofia retrógrada de Hegel. Os filósofos neomarxistas
confinaram-se a expandir e comentar os textos clássicos, em vez de atualizá-los
à luz das novidades ciência e lógica. E a maioria dos estudantes marxistas da
sociedade tem dedicado mais tempo para comentar sobre os escritos do que para
investigar os problemas sociais. Enquanto alguns deles denunciaram as
desigualdades inerentes ao capitalismo, nenhum deles denunciou àquelas
inerentes ao chamado socialismo real.”.
Não
só aqui, mas Bunge se mostra disposto a comentar aquilo que desconhece. Nenhum
comunista (ao menos em boa parte deles) nega os erros do “socialismo real”; insiste ainda na ideia que Marx “combina” a filosofia de Hegel ideal e ao
iluminismo francês – o que é somente em partes verdade.
A
pior parte é quando o autor argumenta: “Os
filósofos neomarxistas confinaram-se a expandir e comentar os textos clássicos,
em vez de atualizá-los à luz das novidades ciência e lógica.”. Isso é um
atestado de ignorância. Parece-me ele ter lido manual de Marx para o ensino médio.
Pois
bem. Não há necessidade de “atualizar” (porque o autor diz que está obsoleta)
ou “modernizar” Marx e escrever, como diz Erik “o ‘Capital versão século XXI’ – mesmo que sob a pretensão
legítima de ultrapassá-lo (se bem que o modus operandi habitual do mercado
teorista é costurar calça filosófica de festa junina com retalhos de ideias
alheias, selecionadas, arrancadas e rearranjadas na mais perfeita seriedade do
puro arbítrio, o que compete no ranking dos best-sellers de ficção sofística
com as ‘novas’ teorias que se proclamam substitutas do marxismo) –, mas antes
compreendê-lo.”.
O
filósofo argentino prossegue dizendo que “dado o apego de estudiosos marxistas aos
escritos que consideravam infalíveis e sempre tópicos, não deve ser
surpreendente que quase todos os grandes avanços nas ciências naturais e
sociais durante o século passado ocorreram fora da caixa marxista, e que alguns
deles, os mais revolucionários, foram criticados em nome do marxismo. Assim,
quando ossificado, o marxismo tornou-se um sério obstáculo para o avanço do
conhecimento.”.
Bunge
diz que o “marxismo tornou-se um sério
obstáculo para o avanço do conhecimento”, dá-se a entender realmente que
ele não conheceu Marx a fundo, e por isso com uma retórica mal-ajambrada
parecida daqueles leitores de blogs de
direita. Não lhe passou em sua cabeça que Marx simplesmente nos deixou o mais sofisticado instrumental analítico
para entender a sociedade. Aliás, fica a ideia da incoerência de Marx e
seus estudiosos – o que é uma grotesca falácia.
Por
fim, o argentino argumenta: “Ao mesmo
tempo, enquanto os marxistas no poder obtiveram vitórias sensacionais sobre a
pobreza, atraso cultural e agressão militar, eles não mantiveram a promessa
emancipatória de Marx e Engels, pois mantiveram todos os setores da sociedade
sob seu punho de ferro ao invés de estimular a participação popular. Nunca lhes
ocorreu que a sua fórmula “centralismo democrático” é uma contradição.”.
Aqui
a velha falácia dos antimarxistas de acusarem alguns erros a toda uma
totalidade. A velha falácia da parte pelo todo. A crítica nem sequer é em Marx,
mas em supostos seguidores da filosofia marxista. Eis o espantalho.
E
finalmente, “Diante do fracasso teórico e
prático do marxismo, os intelectuais e políticos socialistas contemporâneos têm
apenas um caminho a seguir: Considerar o marxismo como uma fase inicial,
atualizar a filosofia e os ideais do Iluminismo radical francês, e reinventar o
socialismo como democracia integrada guiada pelas ciências sociais e
tecnologias (…). Em suma, não “Voltar à Marx!”, mas “Avançar a partir de
Marx!”.”.
Bem,
sabemos que a história é feita de avanços e recuos, mas a esquerda não tem qualquer motivo para recuar nesta matéria. Pelo
contrário. Só ela pode manter firmeza nesta posição, até porque ela, mais do
que ninguém, deve ter consciência da inutilidade de pensar de outra forma para
não cair em contradições (às vezes propagadas pelos “críticos”).
Considerações
finais:
A equipe da Acervo Crítico – e alguns de seus colaboradores – com a seriedade na divulgação de conteúdo
filosófico e científico, ao tomarmos conhecimento do artigo publicado pela
equipe da Universo
Racionalista, procuramos analisá-lo criticamente e, assim, poder
contribuir nessa discussão para a busca
pelo conhecimento de forma racional e criteriosa.
Assim, ao ler o artigo (por
sinal, bem escrito), propusemos a necessidade de respondê-lo a altura. Não que
Bunge seja ruim. Nada disso. Nem mesmo o artigo é lá de todo péssimo. Mas, a
vulgarização dos conceitos abordados, cujos avaliamos a possibilidade real de
respondê-los.
Só que ao terminar a crítica
do artigo de Bunge, sentimos a importância de levantar tal debate em bom nível
sobre as pontuações colocadas pelo filósofo em confronto à Marx. A discussão
acerca da dialética, etc., infelizmente, parece nalguns como uma espécie de
tabu – o que compromete deveras a compreensão do mundo real, concreto.
Certa vez o mais importante
filósofo alemão escreveu: “os que têm a
oportunidade de se consagrar aos estudos científicos deverão ser os primeiros a
pôr seus conhecimentos a serviço da humanidade.”. Pois, “convém duvidar de tudo” – Marx.
Colaborações:
·
Frederico Lambertucci (estudante de Ciências
Sociais);
·
Jean Lucas (estudante de História e membro da
equipe Acervo Crítico),