Walter Benjamin e seu pessimismo revolucionário

We should kill time, we'll shut it down [devemos matar o tempo, acabar com ele] Sonic Youth - Pipeline / Kill Time

Após uma leitura das teses de 40 de Walter Benjamin, começamos a nos intrigar sobre o tempo e como ele é percebido, vemos por exemplo que na música de Cazuza – O Tempo Não Para, é uma letra resignada, aceita a história como realmente nos é contada, uma mera repetição de erros; “Eu vejo o futuro repetir o passado/ Eu vejo um museu de grandes novidades”, como diria Löwy em seu livro: Walter Benjamin: aviso de incêndio – Uma leitura das teses “Sobre o conceito de história”, o tempo progressivo, de acumulo, é um tempo vazio e homogêneo, ao contrário deve um revolucionário ou historiador materialista capturar um tempo-de-agora, encharcado de acontecimentos passados. Que a qualquer momento pode abrir um lapso no tempo e reivindicar o passado. Um passado esquecido, um passado de derrotas da classe oprimida, o passado de Spartacus, Comuna de Paris, Liga Espartaquista, e por que não a queda do muro de Berlim?

Essa é só uma das questões levantadas no livro de Michael Löwy, uma obra extremamente importante para começar a compreender Benjamin, um pensador tão inusitado no marxismo, onde faz uma linha entre o messianismo judaico e o marxismo, para Löwy, mais que uma simples junção, mas um pensamento original, em que essas duas linhas são independentes e ao mesmo tempo se complementam. Por vezes o leitor deparará com termos pouco aceitos no marxismo em consenso, por exemplo, totalitarismo, ou uma critica moral e não política para com o Pacto Molotov-Ribbentrop entre a U.R.S.S e a Alemanha Nazista, mas isso é comum, pois estamos nos deparando com um autor Trotskista, como sabemos que Löwy é. Deixemos esses detalhes de lado e veremos como a obra pode nos dar alguns pontos importantes para a teoria marxista.

Ao todo Walter Benjamin escreveu 18 teses e 02 apêndices sobre o conceito de história, mas não quis publicá-las, o filósofo tinha receio de que pudessem ter interpretações errôneas, porém após sua trágica morte em Portbou - Espanha, tentando sair da Alemanha nazista em encontro dos EUA, a obra foi publicada postumamente. O autor das teses comete suicídio para não cair nas mãos da Gestapo.

Löwy nos passa com solidez o pensamento de Benjamin, a sua preocupação com o progresso desenfreado, o historiador e ou revolucionário que abandona a cisão com o tempo (social-democrata), e sua originalidade de nos fornecer uma junção do marxismo com a religião, que mais tarde serviu de base para o a teologia da libertação. 

Irei esboçar de maneira rápida alguns conceitos chave que encontramos nas teses.

Jetztzeit [Tempo-de-agora] – Para Benjamin o tempo até agora foi formado e traduzido por historiadores da ordem como um tempo vazio, homogêneo, onde mesmo sempre é comemorado as vitórias dos opressores, como sempre que lembramos de alguma era, lembramos de reis, rainhas, de vitoriosos em cima de uma classe oprimida que produz o mundo; a história é feita pelos vencedores. Um exemplo a Era Vitoriana, ou quando lembramos do antigo Egito vemos os períodos pelos faraós, etc, etc, mas nunca vemos quem realmente estava sendo escravizado para manter essas eras vitoriosas. Dessa maneira o historiador materialista deve confrontar, rememorando os derrotados, fazendo com que o tempo se torne cheio, encharcado de agoras.

Historuscher Zeitraffer [lapso de tempo] – O historiador e ou revolucionário deve rememorar o tempo, deve fazer do presente um retorno ao passado com um salto para o futuro, “o salto do Tigre”, dessa maneira a história se abre, o tempo da revolução, não que tudo passe rápido, mas sim como Lenin nos lembra; “Há décadas em que nada acontece, mas há semanas em que décadas acontecem.” Um tempo condensado, onde toda historia passada se reanima no agora. Os mortos encontram sua redenção. 

Progresso  Para muitos que criticam Benjamin como um romântico, esse conceito pode se encaixar. A tese mais famosa e citada do texto é a IX. Onde Benjamin nos conduz a uma imagem do anjo da história, que tenta repelir o progresso, que é a tempestade, que empurra o anjo pra frente, mesmo que o nesse cenário ele deixe as ruínas para trás, causadas pelo próprio progresso. Aqui o progresso se diz de forma daqueles que vem a historia como linear, e com isso não se dá conta da rememoração do passado, ele é então homogêneo. O materialista histórico deve sua vida e obra para que isso seja lembrado e mais, deve puxar o freio desse progresso, para que as ruínas cessem, para que recolha e se reconstrua tudo. Em todo o livro de Löwy ele nos avisa; quem deve fazer isso são as classes oprimidas, a classe trabalhadora que forja e produz o mundo.

Estado de exceção  No pensamento de Benjamin também encontraremos o que reforça os outros conceitos anteriores, o historiador deve lembrar que o estado de exceção é a regra, permanente, e que em alguns lampejos na história da humanidade as classes oprimidas venceram, mas por curto período e logo foram esmagadas, a comuna de Paris de 1871 é o mais célebre exemplo, o primeiro governo proletário da história, durando apenas 72 dias, com o resultado de 20 mil mortos, entre socialistas e anarquistas. Esse seria um hiato do estado de exceção, hoje como é dito que o estado de sítio é para preservar a ordem, mas a ordem dos vencedores, da burguesia, “que não tem cessado de vencer”. E assim como lembra Benjamin na tese VII; “Nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie.”, e com isso quem as preserva e conduz conforme as eras. Podemos citar um evento recente, as pichações do Monumento às Bandeiras em São Paulo. O monumento é da conquista sobre os povos europeus sobre os povos originários do Brasil; os indígenas, mas como temos uma consciência de um tempo homogêneo e vazio, não nos damos conta disso, e criminalizamos quem pichou e não o contrário; quem fez esse monumento da barbárie!

Esses são apenas alguns conceitos breves que encontramos na obra que Löwy elucida sobre as teses de Benjamin. Um pensador ainda pouco conhecido, mas que ganha força pela sua maneira única de escrita.

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