Imperialismo: a fase monopolista do capitalismo



O texto a seguir é um pequeno apanhado geral do que se trata o imperialismo. Este, por consequência, é inexorável à expansão capitalista


Wesley Sousa - estudante de Filosofia pela UFSJ.
 

Para o historiador britânico Eric J Hobsbawm o imperialismo do final do século XIX era novo, ou pelo menos, “era sentido e discutido como novo”. Mas a novidade para ele era vista mais na esfera econômica e na modificação do contexto social e político dos países capitalistas industrializados e não mais pré-industriais; além de destacar a política econômica de concorrência entre potências rivais, ou que leva ao enriquecimento, e de poder. Isso é o que ele descreve em “A Era dos Impérios” (1987).

A este respeito é bom consultar o livro em que Eric J. Hobsbawm analisa a formação do moderno imperialismo. Entre outras coisas, ele esclarece que a própria palavra “imperialismo” passou a fazer parte do vocabulário político e jornalístico nos anos 1890, no decorrer da discussão sobre as conquistas coloniais. Ademais, foi adquirida a dimensão econômica jamais tendo perdido seu valor. (*)

No Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels escreveram:

“A burguesia não pode existir sem revolucionar permanentemente os instrumentos de produção, portanto as relações de produção, portanto as relações sociais todas. (...) A burguesia, pela sua exploração do mercado mundial, configurou de um modo cosmopolita a produção e o consumo de todos os países. Para grande pesar dos reacionários, tirou à indústria o solo nacional onde firmava os pés. As antiquíssimas indústrias nacionais foram aniquiladas, e são ainda diariamente aniquiladas. (...) Para o lugar das velhas necessidades, satisfeitas por artigos do país, entram [necessidades] novas que exigem para a sua satisfação os produtos dos países e dos climas mais longínquos. Para o lugar da velha autossuficiência e do velho isolamento locais e nacionais, entram um intercâmbio unilateral, uma dependência das nações umas das outras. (...) A unilateralidade e estreiteza nacionais tornam-se cada vez mais impossíveis, e das muitas literaturas nacionais e locais forma-se uma literatura mundial. (...) A consequência necessária disto foi a centralização política. Províncias independentes, quase somente aliadas, com interesses, leis, governos e direitos alfandegários diversos, foram comprimidas numa nação, num governo, numa lei, num interesse nacional de classe, numa linha aduaneira.” (MARX, ENGELS. p. 28-29)

Globalismo ou imperialismo é, nesse sentido, o capitalismo no seu auge, ou seja, com a renda cada vez mais concentrada; e tudo cada vez mais monopolizado por algumas classes a nível internacional usando de sua influência política pra se manter no poder. Milton Santos chamou o atual período da história de internacionalização do capital de Globalitarismo, denunciando uma globalização perversa. O documentário “Milton Santos: o mundo global visto do lado de cá” (2006) – Link YouTube – explica bem essa questão, assim como o livro que inspirou o documentário “Por uma outra globalização” (2000).

O imperialismo é uma fase histórica especial do capitalismo. As transformações econômicas que marcam essa nova fase histórica vem desde um ponto de vista econômico, o imperialismo (ou a época do capital financeiro) é o grau superior do desenvolvimento do capitalismo, precisamente o grau em que a produção é gigantesca que a livre concorrência foi substituída pelo monopólio, isto é, a essência econômica do imperialismo. O imperialismo é, portanto, um filho legítimo da grande indústria, mais precisamente do casamento desta grande indústria com os bancos e a formação, consequente, do capital financeiro. 

Emir Sader, em um artigo publicado no site Carta Maior, comenta que o imperialismo extrapola a questão econômica:  

O imperialismo e os monopólios são a consequência natural da concorrência capital no mercado, em que os mais fortes se tornam cada vez mais fortes, os poderosos cada vez mais poderosos. A concentração de renda e de poder é um resultado obrigatório das condições da concorrência, em que o Estado tem um papel estratégico, seja de favorecer os grandes grupos econômicos, seja de promover os interesses das grandes potências nos conflitos internacionais.”. 


No mesmo texto Emir Sader prossegue afirmando:

“Os EUA passaram a defender os interesses do bloco capitalista em escala mundial, mediante sua força militar, sua capacidade de ação politica, de exportação global dos valores das suas formas de vida o modo de vida norte-americano. Defendeu a esse bloco durante a Guerra Fria do término da Segunda Guerra Mundial até o fim da URSS (de 1945 a 1991) contra os ‘riscos do comunismo’. Terminado esse período, passaram a buscar inimigos que justificassem a manutenção e a contínua militarização da sua economia e dos conflitos. Encontrou no “terrorismo” esse novo inimigo. As guerras do Afeganistão, do Iraque e agora da Líbia, expressam a forma concreta que essa luta adquire contra países árabes, portadores de recursos energéticos que os países ocidentais não dispõem ou dispõem de forma insuficiente.”.

As expressões atuais dos monopólios são as grandes empresas multinacionais, empresas gigantescas, que foram muito além das fronteiras nacionais, organizando sua produção de fato em uma escala global, monopolizando ramos inteiros da produção. É uma tendência, onde uma nação, por meio do poderio do capital, subjuga a outra, e cria um sistema de exploração ou parasitismo semelhante ao do proletário X capitalista, mas em escala de países.

Outro aspecto resgatado por Lênin foi o domínio do capital financeiro, a partir da fusão do capital bancário com o industrial, sobre o modo de produção capitalista, cujo trabalha no seu livro: 

“Do ponto de vista puramente econômico - escreve Kautsky -, não está excluído que o capitalismo passe ainda por uma nova fase: a aplicação da política dos cartéis à política externa, a fase do ultra-imperialismo”(1*), isto é, o superimperialismo, a união dos imperialismos de todo o mundo, e não a luta entre eles, a fase da cessação das guerras sob o capitalismo, a fase da "exploração geral do mundo pelo capital financeiro, unido internacionalmente”(2*).

A exportação de capitais, segundo Lênin, caracterizava o imperialismo, que se agigantou tanto na forma de capital-dinheiro, vide o crescimento da dívida externa em todo mundo, como na forma de empresas, com a produção mundial. Além disso, outras formas de exploração entre os países foram desenvolvidas como a Propriedade Intelectual, que passou a ter uma grande importância com o desenvolvimento de novos ramos como a informática e a chamada exportação nos setores de serviços.

A existência dos monopólios gerou uma nova situação no capitalismo: Em seu conjunto, o capitalismo cresce com maior rapidez, mas esse crescimento não é somente cada vez mais desigual, senão que essa desigualdade se manifesta de um modo particular na decomposição dos países onde o capital ocupa posições firmes.


O imperialismo tende a aumentar as desigualdades entre os países ricos e pobres, que em 1780 era de três a um. Hoje é de setenta a um!


O outro lado da desigualdade é a potencialização e o parasitismo, como citado anteriormente. Sua maior expressão são os Estados Unidos. Com uma dívida nacional de U$ 7 trilhões, que cresce à razão de U$ 1,83 bilhão ao dia, esse país funciona como um parasita, absorvendo, na forma de repatriação dos lucros, pagamento das dívidas externas etc., as riquezas geradas pelos trabalhadores no resto do mundo ou roubando diretamente pela força, como é o caso do Iraque, etc.

Mas a questão central do conceito de imperialismo é a conclusão política que Lênin e outros teóricos tiraram desse processo das transformações econômicas: o controle do mundo por um punhado de potências tem como consequência o aumento das desigualdades mundiais e uma nova época de enfrentamentos e guerras, que expressa à decadência do sistema. É impossível que as nações coloniais possam chegar a avançar em seu desenvolvimento e superar as travas impostas pelo capital financeiro pela via do desenvolvimento capitalista.

A desigualdade é a forma com a qual o sistema funciona e se reproduz. Por isso, o imperialismo é a porta de entrada da revolução social proletária. E isso foi confirmado em 1917. E a globalização atual, mantém a dependência econômica, política, militar – sob âmbito social, exaltando uns e suprimindo outros até que se reverta isso.


(adaptado)


Notas:




Referências:

LÊNIN, Vladmir. “V.I. Lenine obras escolhidas”, volume 1. ed. Alfa Omega.

HOBSBAWM, Eric. Extraído da 2º edição do livro “A era dos impérios 1875-1914”, Ed. “Paz e Terra”. Tradução de Sieni Maria Campos e Yolanda Steidel de Toledo. p. 92.

MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. “Manifesto do Partido Comunista”. Tradução: Sueli Barros Cassal.  Porto Alegre. L&PM. 2014. p. 28-29.


Acervo Crítico sempre abre espaços para colunas de Opinião para nossos seguidores e leitores. Caso queiram contribuir, entrem em contato conosco!
Wesley Sousa

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem