Quando falamos em drogas,
precisamos atrelar fatores de risco e de proteção. Cada indivíduo, portador de
uma história patológica individual e familiar, entorno social e ambiental, bem
como suas fragilidades e potencialidades, vai ter uma relação particular com a
droga. Existem tolerâncias diferentes
entre um e outro.
A pesquisa que eu trago abaixo
compara diversas drogas e os fatores que permeiam seu consumo, quer seja
abusivo ou dependente também. O álcool é lícito, o que permite ao indivíduo consumir
sem grandes restrições. Isso leva ao consumo de risco, assim como também a
assumir comportamentos de risco atrelados ao consumo indiscriminado. O consumo
da maconha tem uma cultura particular, bem como as restrições legais, o que
pode nos pensar em menos chances de haver consumo abusivo. Porém, tanto abuso
quanto dependência de maconha. A
diferença é que nela a dependência não é química, mas psicológica. E que não existe uma dose tóxica que
possibilite uma overdose.
A pesquisa sobre o efeito das drogas para o indivíduo e
para os outros (prejuízo social, neste caso), em inglês: http://www.ias.org.uk/.../News.../dnutt-lancet-011110.pdf
O consumo de risco do álcool tem implicações orgânicas, psicológicas e,
sobretudo, socioeconômicas. A maconha tem mais propensão a causar danos
orgânicos do que socioeconômicos, principalmente por não envolver incapacidade
produtiva ou, no caso, do comportamento de beber e dirigir e da violência
doméstica. Há danos psicológicos, principalmente se estivermos falando de risco
para o prejuízo neurológico/psíquico. Pessoas com tendência para transtornos mentais
psicóticos podem a maconha.
O álcool é imediatamente mais
prejudicial (em menos tempo e com quantidades menores), enquanto que a maconha
pode ser prejudicial a longo prazo (em mais tempo e com quantidades maiores).
Fumar a erva não é, de fato, ‘seguro e
ponto final’. Só que é bem mais plausível aceitar que a maconha é mais
‘segura’ com relação ao álcool.
Existe uma segunda pesquisa
que aponta os efeitos nocivos da maconha, a longo prazo, ao cérebro do
consumidor. Prejudica cognição, principalmente. Claro que varia de um organismo
para o outro, mas estou fazendo uma ponderação a respeito dos riscos e do
comportamento de consumo ao longo do tempo.
A pesquisa sobre o efeito da maconha a longo prazo (em
inglês): http://www.ncbi.nlm.nih.gov/.../PMC410.../pdf/npp201467a.pdf
É importante a gente
pensar que:
• O álcool gera receita com vendas
e impostos, embora seja uma droga envolvida com violências e mortes quando do
seu abuso;
• A maconha gasta receita com
apreensões de drogas e prisões de usuários, e a marginalização da droga está
envolvida com a geração da criminalidade – além de políticas irracionais do
tipo “guerra às drogas”.
Toda droga pode ser
prejudicial, depende da relação que o ser humano estabelece com ela.
Entretanto, não adentrarei na parte sociopolítica da questão, é apenas um texto informativo sobre efeitos e
implicações.
Se for observar dose e
frequência, a letalidade está relacionada ao uso abusivo e em curto espaço de
tempo. Por isso o álcool é imediatamente
mais letal, embora a longo prazo seja difícil precisar – além de variar de
organismo com o outro. E nem todo mundo que fuma será dependente, mas poderá
fazer um uso abusivo. Assim como nem todo bebedor de álcool será alcoolista,
mas poderá ter problemas antes de chegar no alcoolismo. Como nem todos que fumam
serão dependentes, mas poderão fazer um uso abusivos. Vale ressaltar que os
mesmos mecanismos que tornam a maconha prejudicial, são os que a tornam benéfica. A diferença é que o canabidiol tem mais importância clínica
que o THC.
Particularmente, partindo agora
de um olhar mais objetivo, a descriminalização das drogas já seria um
importante passo para o avanço nessa questão, já que estudos apontam que algum
dano, por exemplo, da maconha, é estritamente ligado ao indivíduo, ou seja; é a
sua íntegra pessoa, na sua liberdade individual de usuário.
Nota: o texto tem revisão de Pedro Henrique Costa, trabalha na Cepad -
Centro de Estudos e Pesquisas sobre Álcool e outras Drogas, no estado do
Espírito Santo – ES.
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