Data 25/08/17
MOVIMENTO
ESTUDANTIL E OS DEVANEIOS SOBRE “ACADEMICISMO”
Pessoal,
pelo amor de dios. Antes de utilizar
conceitos, primeiro entendam de onde provêm e o que significam. Virou-se mania
acadêmica aprender dois ou três termos e utiliza-los na “discussão
política” sem o mínimo de pudor e reflexão sobre, o velho praticismo,
voluntarismo, etc.
O
mais irritante de todos é o tal “academicismo”. No movimento estudantil
virou-se consenso pensar que qualquer estudo teórico é academicismo. Chega a
ser bizarro a total inépcia com que o termo é empregado, se define tudo por
academicismo.
Gostaria
de lembrá-los que academicismo é fundamentalmente a produção de conhecimento “desinteressada”,
sem vinculo com as lutas sociais e sem nenhuma perspectiva revolucionária. Coisa
que alias, 99% dos que usam o termo fazem, pensam a ciência ou como forma de
dominação de classe (nos termos pós-modernos de um Derrida) ou a pensam como
uma “entidade” separada da vida e da luta cotidiana, justamente porque não
conseguem minimamente se pôr acima de sua própria individualidade e contemplar
as necessidades do gênero humano como suas. Daí pensam em torno da fragmentação
própria da sociedade burguesa, e a universidade é tomada como um meio para um
fim particular, qual seja, o diploma e o possível emprego, é por isso que o
conhecimento e o estudo aparecem aos militantes do movimento estudantil como
algo lá da vida privada, sem relação alguma com seus fins, já que a leitura é
uma obrigação protocolar e por isso quase nunca realmente feita, para essa
finalidade objetivamente alienada. Os efeitos para qualquer organização é algo
terrível. Justamente porque sem conseguir chegar nunca a uma universalidade, os
objetivos que o movimento estudantil se coloca são sempre frutos do politicismo
mais débil.
O
academicismo do qual tanto acusam outrem, torna-se, na verdade, sua justificativa para a prática pela prática, e essa é separada de qualquer luta e possibilidade
de mudança real, já que ao se limitar a "crítica" da universidade,
torna impossível a visualização da própria função social desta mesma. Em suma,
o fato de a universidade existir como produtora de intelectuais da burguesia e
força de trabalho qualificada para ocupar o exército industrial de reserva
(gente, desempregada) não comparece, por isto mesmo o movimento estudantil
pensa que a critica radical, aquela que lembra o que a universidade de fato é e
qual a sua função social nesta sociedade, é algo muito fora das preocupações
estudantis.
Não
é por acaso, que os debates e o pós-modernismo reinam e imperam na
universidade, primeiro porque qualquer lembrança do mundo social, que não seja
a mais rebaixada possível (o politicismo), é rapidamente lançada para fora do
campo da preocupação universitária (isto quando não se quer sanar o desemprego
com fórmulas matemáticas), de outro lado os que acusam os outros de
academicismo são justamente os que estão mais no seu interior, já que pensam
que a universidade não é uma instituição que cumpre uma função de classe,
apesar das formas variantes que a luta de classes assume em seu interior.
A
realidade é que, justamente pelo movimento estudantil não tomar uma posição de
classe, mas sim pensar-se como movimento autônomo, sem vinculação com classes e
interesses particulares, toma a posição da burguesia na manutenção da ordem,
mesmo sem o saber. Justamente através do... academicismo.
A
questão é simples, se não conheço a realidade, porque vedo essa possibilidade
desde o princípio (porque o estudo, a leitura são academicistas), logo vedo
qualquer reflexão que tangencie a elaboração das finalidades da luta e a
análise sobre quais os meios mais eficazes para alcançar tal fim, e assim
circunscrevo a minha prática aos aspectos mais efêmeros do processo (hoje tem
bolsa, amanhã não tem, depois de amanhã tem algumas), e termina-se por
confundir necessidades do capital com vitórias da classe trabalhadora. Devemos
repetir até a exaustão, bolsas podem existir porque o capital precisa que
existam, e nesse sentido, não há vitória da classe trabalhadora quando se
aumentam as bolsas, e isto não significa que não seja algo bom para
trabalhadores que possam estudar, mas ainda quando o fazem, continuam a serem
mercadorias e tiver o valor da sua força de trabalho como reconhecimento
social, como carimbo que o permite sobreviver nessa sociedade.
A
vitória da classe trabalhadora só existe quando por meios revolucionários ela
deixa de ser classe trabalhadora, porque nesse ai, não existirão classes
sociais e o conceito de trabalhador parecerá tão absurdo, quanto a escravidão
parece ser aos olhos da emancipação política.
O
resultado último desse conjunto de fatores é que a militância estudantil vira
uma colcha de retalhos, uns falando de desconstrução (sem nem saber que o
conceito é de Heiddeger e foi desenvolvido por Derrida) e sem nem saber o seu
conteúdo e a sua premissa, a de que é possível desconstruir juízos de valor e
alterar a realidade a partir de consensos intersubjetivos (já que está negada
toda a objetividade, inclusive aquela institucional contra a qual o movimento,
com mais frequência o estudantil, se dirige).
De
outro lado, se defende o “direito” dos estudantes, querendo uma pluralidade que
efetivamente não existem; os interesses da classe trabalhadora deve ser
assumidos mesmo se contrariar os anseios subjetivos de uma parcela dos
estudantes.
E
não há que se falar que é plural, se se diz isso, o que se está propondo é que
mesmo com um corpo universitário que seja 89% favorável às privatizações irão
deixar nossa posição de classe e iremos defender porque somos “plurais”, porque
somos democráticos. Não somos democráticos, porque a democracia é a forma
burguesa de dominação de classe, não à toa eles gostam tanto de falar em
democracia.
“Democracia” e “ditadura” são duas
formas distintas de dominação de classe, mas com o mesmo fundamento real. São as formas políticas pelas quais a burguesia domina
o proletariado e a classe trabalhadora.
Por
fim, gostaria de esclarecer que o texto não se trata de uma agressão pessoal a
ninguém, já que temos que fazer esses esclarecimentos nos dias de hoje.
Vídeo do filósofo José Chasin falando acerca da "democracia".