Movimento estudantil e os devaneios sobre “academicismo”



Por Frederico Lambertucci*– graduado em Ciências Sociais pela UFGD

Data 25/08/17


MOVIMENTO ESTUDANTIL E OS DEVANEIOS SOBRE “ACADEMICISMO”



Pessoal, pelo amor de dios. Antes de utilizar conceitos, primeiro entendam de onde provêm e o que significam. Virou-se mania acadêmica aprender dois ou três termos e utiliza-los na “discussão política sem o mínimo de pudor e reflexão sobre, o velho praticismo, voluntarismo, etc. 

O mais irritante de todos é o tal “academicismo”. No movimento estudantil virou-se consenso pensar que qualquer estudo teórico é academicismo. Chega a ser bizarro a total inépcia com que o termo é empregado, se define tudo por academicismo. 

Gostaria de lembrá-los que academicismo é fundamentalmente a produção de conhecimento “desinteressada”, sem vinculo com as lutas sociais e sem nenhuma perspectiva revolucionária. Coisa que alias, 99% dos que usam o termo fazem, pensam a ciência ou como forma de dominação de classe (nos termos pós-modernos de um Derrida) ou a pensam como uma “entidade” separada da vida e da luta cotidiana, justamente porque não conseguem minimamente se pôr acima de sua própria individualidade e contemplar as necessidades do gênero humano como suas. Daí pensam em torno da fragmentação própria da sociedade burguesa, e a universidade é tomada como um meio para um fim particular, qual seja, o diploma e o possível emprego, é por isso que o conhecimento e o estudo aparecem aos militantes do movimento estudantil como algo lá da vida privada, sem relação alguma com seus fins, já que a leitura é uma obrigação protocolar e por isso quase nunca realmente feita, para essa finalidade objetivamente alienada. Os efeitos para qualquer organização é algo terrível. Justamente porque sem conseguir chegar nunca a uma universalidade, os objetivos que o movimento estudantil se coloca são sempre frutos do politicismo mais débil. 

O academicismo do qual tanto acusam outrem, torna-se, na verdade, sua justificativa para a prática pela prática, e essa é separada de qualquer luta e possibilidade de mudança real, já que ao se limitar a "crítica" da universidade, torna impossível a visualização da própria função social desta mesma. Em suma, o fato de a universidade existir como produtora de intelectuais da burguesia e força de trabalho qualificada para ocupar o exército industrial de reserva (gente, desempregada) não comparece, por isto mesmo o movimento estudantil pensa que a critica radical, aquela que lembra o que a universidade de fato é e qual a sua função social nesta sociedade, é algo muito fora das preocupações estudantis. 

Não é por acaso, que os debates e o pós-modernismo reinam e imperam na universidade, primeiro porque qualquer lembrança do mundo social, que não seja a mais rebaixada possível (o politicismo), é rapidamente lançada para fora do campo da preocupação universitária (isto quando não se quer sanar o desemprego com fórmulas matemáticas), de outro lado os que acusam os outros de academicismo são justamente os que estão mais no seu interior, já que pensam que a universidade não é uma instituição que cumpre uma função de classe, apesar das formas variantes que a luta de classes assume em seu interior. 

A realidade é que, justamente pelo movimento estudantil não tomar uma posição de classe, mas sim pensar-se como movimento autônomo, sem vinculação com classes e interesses particulares, toma a posição da burguesia na manutenção da ordem, mesmo sem o saber. Justamente através do... academicismo

A questão é simples, se não conheço a realidade, porque vedo essa possibilidade desde o princípio (porque o estudo, a leitura são academicistas), logo vedo qualquer reflexão que tangencie a elaboração das finalidades da luta e a análise sobre quais os meios mais eficazes para alcançar tal fim, e assim circunscrevo a minha prática aos aspectos mais efêmeros do processo (hoje tem bolsa, amanhã não tem, depois de amanhã tem algumas), e termina-se por confundir necessidades do capital com vitórias da classe trabalhadora. Devemos repetir até a exaustão, bolsas podem existir porque o capital precisa que existam, e nesse sentido, não há vitória da classe trabalhadora quando se aumentam as bolsas, e isto não significa que não seja algo bom para trabalhadores que possam estudar, mas ainda quando o fazem, continuam a serem mercadorias e tiver o valor da sua força de trabalho como reconhecimento social, como carimbo que o permite sobreviver nessa sociedade. 

A vitória da classe trabalhadora só existe quando por meios revolucionários ela deixa de ser classe trabalhadora, porque nesse ai, não existirão classes sociais e o conceito de trabalhador parecerá tão absurdo, quanto a escravidão parece ser aos olhos da emancipação política. 

O resultado último desse conjunto de fatores é que a militância estudantil vira uma colcha de retalhos, uns falando de desconstrução (sem nem saber que o conceito é de Heiddeger e foi desenvolvido por Derrida) e sem nem saber o seu conteúdo e a sua premissa, a de que é possível desconstruir juízos de valor e alterar a realidade a partir de consensos intersubjetivos (já que está negada toda a objetividade, inclusive aquela institucional contra a qual o movimento, com mais frequência o estudantil, se dirige). 

De outro lado, se defende o “direito” dos estudantes, querendo uma pluralidade que efetivamente não existem; os interesses da classe trabalhadora deve ser assumidos mesmo se contrariar os anseios subjetivos de uma parcela dos estudantes.

E não há que se falar que é plural, se se diz isso, o que se está propondo é que mesmo com um corpo universitário que seja 89% favorável às privatizações irão deixar nossa posição de classe e iremos defender porque somos “plurais”, porque somos democráticos. Não somos democráticos, porque a democracia é a forma burguesa de dominação de classe, não à toa eles gostam tanto de falar em democracia. 

“Democracia” e “ditadura” são duas formas distintas de dominação de classe, mas com o mesmo fundamento real. São as formas políticas pelas quais a burguesia domina o proletariado e a classe trabalhadora.

Por fim, gostaria de esclarecer que o texto não se trata de uma agressão pessoal a ninguém, já que temos que fazer esses esclarecimentos nos dias de hoje.


Vídeo do filósofo José Chasin falando acerca da "democracia".
Wesley Sousa

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