Educação e economia – alguns fatos por trás do mito



Por Diogo Zarzar  

Publicado originalmente no blog Conhecimento Econômico

Data 09 de Janeiro de 2018


Investimento em educação ou alocação de recursos em capital humano gera desenvolvimento? Ou induz o crescimento econômico de forma linear? Nem sempre.
É um tema polêmico que há muito tempo eu espero colocar no blog e assim espero esclarecer alguns pontos do meu pensamento. É um assunto onde a direita e a esquerda política ora concordam e ora divergem. É interessante notar como há falta de homogeneidade no assunto.
Os motivos são diferentes, mas o resultado do pensamento acerca da educação gerar ou induzir crescimento e/ou desenvolvimento são parecidos, em termos de correntes de pensamento político (socialismo, liberalismo, capitalismo, etc.).
Mas por que direita e esquerda política ora concordam e ora discordam do assunto? Normalmente a direita “liberalista”, leia-se, liberais clássicos, costumam correlacionar o tempo de estudo com a renda, de acordo com um estudo da OCDE. Fora isso costuma correlacionar também o nível de capacitação, a educação e a produtividade, sendo essa última fundamental – na opinião deles – para o crescimento prolongado e o consequente desenvolvimento. No blog vinculado à UOL “Por quê? Economês em bom português” vocês observam bem explicitado em alguns posts esse pensamento. Também é um raciocínio compactuado por gente do mainstream, como: Ricardo Amorim, Ricardo Paes de Barros, Mansueto Almeida Jr, Samuel Pessoa, Marcos Lisboa, Claudio de Moura Castro e afins.
Além do economista pernambucano Alexandre Rands, que lançou um livro tentando provar que o desnível do PIB per capita – e da Renda per capita – entre a região Nordeste e as regiões Sul e Sudeste, além do desnível do Nordeste nos mesmos indicadores em relação ao próprio Brasil, se dava por grau médio de escolarização das populações referidas, hipótese que eu acho bem equivocada, para dizer o mínimo. Ele muito influenciado por artigos de Daron Acemoglu, George Psacharoupolos e um artigo dos brasileiros Hélio Zylberstajn e Afonso Celso Pastore. Fontes do próprio livro dele, além de várias menções a economistas famosos da escola novo institucionalista e novo clássica (Robert Lucas Junior, por exemplo).
Mas há uma parte da direita que não concorda tanto com esse pensamento, que no caso são os libertários (ancaps e minarquistas). Alguns deles costumam criticar a cultura “bacharelesca” do Brasil e costumam falar que o número de profissões ou de competências para trabalho é brutalmente maior que o número de cursos superiores registrados pelo MEC. O que é verdade, diga-se de passagem. O problema é a conclusão que eles tiram disso e a prévia intenção, que é vangloriar a figura do “empreendedor bronco”. Chega a ser pitoresco, mas funciona assim.
O caso da esquerda brasileira é diferente. Grande parte da nossa esquerda atual tem origem nos centros acadêmicos e no Movimento Estudantil. Todo esse pessoal tem uma mentalidade bastante academicista e viveu parte da vida no ambiente universitário, justo na idade onde se constrói a personalidade, sobretudo política. A defesa da universidade pública e a bandeira da educação portanto é um dos pilares desse estrato sócio político. Devido a isso muitas vezes parte da nossa esquerda brasileira defendia a bandeira dos tais “10% do PIB em educação”.
Dito isso, primeiramente precisamos diferenciar crescimento de desenvolvimento.
O crescimento da economia diz respeito ao crescimento do PIB (descontado a inflação, obviamente) e do PIB per capita. Talvez possa ser considerado também o crescimento da renda per capita, que apesar de ser uma identidade em relação ao PIB per capita no ponto de vista da contabilidade social, tem algumas diferenças de um pro outro. Aqui vou levar em conta apenas crescimento do PIB e crescimento do PIB per capita.
Desenvolvimento é um conceito vago. Há vários tipos de desenvolvimento, mas no hábito do “economês” geralmente diz respeito ao IDH. Atualmente as Nações Unidas remodelaram a fórmula de cálculo do IDH, adicionando a desigualdade aos três itens avaliados (PIB per capita, tempo de estudo e longevidade) para compor o índice.
É bom alertar: todos esses indicadores tem erros, omissões e externalidades. Mas nesse texto não dá pra discutir acerca disso com profundidade. Levarei em conta todos eles.
Já diferenciados, partiremos para o que interessa de maneira objetiva.
Analfabetismo, educação básica e PIB – mentiram pra vocês:

Dizem alguns liberais e economistas do mainstream que o aumento da educação básica (alfabetização e ensino fundamental) gera mais produtividade do que a educação do ensino médio, e por sua vez bem mais que o ensino superior (sendo essa inferior à produtividade do aumento do ensino médio), funcionando como uma forma de escala de grau de aumento de produtividade. Supondo que a produtividade é a chave do crescimento econômico no longo prazo, como diz o economista Paul Krugman, e é algo não polêmico da parte dele, sendo uma ideia compactuada por todas as vertentes do mainstream mais o pessoal da Escola Austríaca (que é um ramo da heterodoxia), logo, deveríamos então supor que a cura do analfabetismo seria fundamental para o crescimento no médio e longo prazo, visto que essa afetaria diretamente a produtividade do trabalhador. Óbvio. E quem está curando o analfabetismo, mesmo que de forma acelerada, está atrás de quem já tem zero de analfabetismo. Também óbvio.

Mas aí lembramos do caso de Cuba, que tem zero analfabetismo e a economia definha desde a segunda metade dos anos 80… Mas aí falam de embargo, socialismo falho, estatismo, blablabla. Já mudam o assunto. O fato é que Cuba tem uma taxa de escolaridade altíssima em todos os níveis, mas a economia não funciona há décadas, depois dos altos crescimentos nos anos 60 e 70.
Mas Cuba é uma exceção? Não. Então vamos citar mais exemplos parecidos: Argentina, Venezuela, Filipinas, Albânia, Azerbaijão, Bósnia & Herzegovina, Geórgia, Grécia, Maldivas, Tajiquistão, Coréia do Norte, Quirguistão, etc. Todos esses países tem índices de alfabetização da população altíssimos, mas o crescimento econômico de todos não convence nas últimas décadas. Ora, pela lógica deveriam estar com alta produtividade do trabalho e consequentemente com alto crescimento econômico. Mas não é a realidade.
——- ps: pequeno adendo que eu posso estar errado em relação a alguma taxa de crescimento desses países. Se for o caso, perdoem o erro e podem corrigir nos comentários. Como eu sempre digo, eu aceito todos os comentários do blog, mesmo os trolls, haters, críticos sábios e afins ——-

A Bósnia, por exemplo, ainda herda a boa educação do período socialista da antiga Iugoslávia do Marechal Tito, mas desde a desintegração do país e a terrível guerra civil do começo dos anos 90, a economia do país está desindustrializada e estagnada. E sem muita expectativa de algum “take-off” no curto e médio prazo, infelizmente.
Fora que nesse raciocínio simplista países com forte educação em todos os níveis como EUA e Islândia nunca entrariam em crise, mas ambos entraram em crises em 2008. Em 2011 entraram Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda, também todos países com alto grau de educação em todos os níveis.
A Grécia é um caso bem ilustrativo nesse sentido, pois continua definhando atualmente, convivendo com uma crise social, fiscal e econômica sem precedentes e até então sem cura. Até o fascismo voltou por lá. E a população é muito educada em todos os níveis.
Exemplos de economias de forte crescimento nos últimos trinta ou vinte anos e com alto analfabetismo ou baixa taxa de educação? Indonésia, Malásia, Paraguai, Vietnã, Guatemala, El Salvador, Angola, Bolívia, etc. Não se tornaram países desenvolvidos ainda, mas tem forte crescimento do PIB no passado recente (pelo menos nos últimos dez anos). Se vai haver sustentabilidade disso é outra história. Mas pela lógica linear da taxa de educação, não deveriam crescer mais que Cuba, por exemplo. E nem do que a atual falida Venezuela.
Toda essa minha visão veio de leituras de Ha Joon Chang, que apenas comprovaram algo que eu presenciava na prática do mercado de trabalho no auge da economia brasileira e no auge do desenvolvimentismo do complexo industrial e portuário de Suape em Pernambuco. Época em que nossa ex-presidente Dilma vinha a Pernambuco e dizia que o estado era a “Onça do Nordeste” (referência parecida com os “tigres” dos “tigres asiáticos), devido ao forte crescimento do estado na segunda metade dos anos 2000 e à atração de novas indústrias, além de investimentos em infra-estrutura (muitos deles não conclusos).
Os jornais da época viviam noticiando a demanda por mão de obra qualificada, mas a prática era muito diferente das notícias. Sobravam jovens bem formados e educados sem conseguir colocação no mercado. Muitos trabalhadores vinham de outras regiões do Brasil e às vezes até estrangeiros eram alocados.
Agora vou dividir o texto elencando alguns mitos.
– Os principais erros de análises em relação a algumas pseudo verdades sobre a formação de capital humano de uma região, país e afins:

1 – Em relação a um estudo da OCDE correlacionando formação superior com renda, o principal erro é que análise se baseia em pessoas formadas já alocadas em cargos relativos às suas profissões. Exemplo: uma arquiteta formada que já trabalha como arquiteta. Vocês devem saber que várias profissões, como praticamente todas as engenharias, possuem fortes conselhos de classe com piso mínimo estipulado de salário. Então, logicamente, se você pesquisar engenheiros trabalhando em empresas como engenheiros de fato, de acordo com o piso mínimo estipulado pelos conselhos de classe, eles vão ganhar o salário estipulado. Obviamente, comparar um formando em engenharia trabalhando como engenheiro, ele vai ter uma renda muito maior do que um trabalhador alocado em qualquer função ou cargo exigido apenas o nível médio. Onde está o erro? Não são todos os formandos que se alocam nas vagas que os próprios tem interesse. Partir para o próximo item.

2 – O Brasil tem 13% da população com formação superior (Semesp e Inep). No entanto, apenas 6% da população brasileira ganha uma renda mensal de R$ 4000 ou mais (IBGE). Lembre-se que o DIEESE calcula em torno de  R$ 3700 a 4000 uma renda básica para todo brasileiro ter apenas o básico. Parece muito? Mas é só o básico. Acredite: com essa renda uma pessoa física mal consegue financiar um apartamento da faixa II do Minha Casa, Minha Vida. Portanto para curso superior deveria ser uma renda até abaixo da média, mas não é, caso você compare as duas proporções (taxa de graduados e renda básica calculada do DIEESE). Alguma coisa não bate com a realidade, concorda? É simples de entender. Nem todas as pessoas que concluem a graduação no ensino superior conseguem ser alocadas em funções para nível superior. Quer outro indicador disso? Observe a concorrência nos concursos públicos para vagas de ensino superior. Observe também a concorrência para vagas no setor privado, geralmente em grandes multinacionais, em processos para entrada de trainees. Normalmente a concorrência ultrapassa por muito as cem pessoas por vaga. A correlação da OCDE é falha e engana as pessoas leigas.

3 – O termo chave é MOBILIDADE SOCIAL.

O Brasil não tem mobilidade social. Uma pessoa socialmente vulnerável, moradora de periferia, sem acesso a amizades na alta sociedade, apenas munida de curso superior, muito dificilmente dará um salto de renda ou conseguirá alocação ótima no mercado de trabalho. O motivo é simples: falta trabalho e sobra oferta de trabalhadores  qualificados. O contrário do que a grande mídia informa pra você. É isso que causa outro termo chave, inclusive que eu já utilizei no meu blog antes e peguei emprestado de Ha Joon Chang, inflação de grau.

4 – O que é a inflação de grau?

Uma maior oferta de pessoas com curso superior conclusos do que a verdadeira demanda por elas. O setor produtivo no geral não tem como alocar todas, seja por falta de dinamismo econômico ou mesmo por questões simplistas de corte de custos para fazer frente aos concorrentes. Você nunca ouviu falar de engenheiros lotados como técnicos em indústrias? É o que mais existe no caso do Brasil. O motivo é simples: as indústrias não podem pagar muitos engenheiros. Onera a folha de pagamento e, logicamente, os custos.

Então por que os grandes industriais e empresários no geral sempre vão pra mídia falar que falta mão de obra qualificada? Primeiro pela busca por facilidade de reposição e segundo porque quanto maior a oferta menor tende a ser a remuneração.
A inflação de grau é o aumento de requisitos e de titulações exigidos para trabalhadores do setor privado. Línguas estrangeiras, certificados pagos, experiência prévia requerida, experiências de intercâmbios, indicações de colegas da empresa (algumas multinacionais colocam isso como diferencial no próprio preenchimento de cadastro pela internet), limite de idade, mínimo de idade, etc. Até o ponto que fica quase impossível uma pessoa comum conseguir alocação. Assim cria-se toda uma geração de desalentados, frustrados e infelizes. Ao mesmo tempo que todo esse comportamento gera um mercado bilionário de ensino superior privado e ensino de línguas estrangeiras. A apreensão e a busca incessante pela qualificação é lucrativa.
5 – A mobilidade social no Brasil praticamente inexiste e a meritocracia é uma farsa.

Jessé de Souza, sociólogo brasileiro, em seus recentes livros “A Tolice da Inteligência Brasileira” e “A Elite do Atraso” versou muito bem sobre o assunto, apesar das críticas ao trabalho dele por acharem excessivamente partidário (petista). Os conceitos de “Capital Cultural” e “Capital de relações sociais”, muito por influência de suas leituras do sociólogo francês Pierre Bourdieu (muito provavelmente na obra “O Senso Prático”), definem bem a realidade brasileira. Basicamente a formação fundamental, médio ou superior não garante automaticamente a alguém do Brasil um acréscimo linear de renda. Jamais.  Pode acrescentar, mas nem sempre.

6 – O fator produtividade existe no senso prático da prática do trabalho, mas também não é linear. A questão da produtividade do trabalhador, já abordada aqui no meu blog em outros dois posts, também pode ou não ser afetada pelos diferentes níveis de educação.

Exemplo positivo: uma linha de produção tem um operário de máquinas com torno CNC e a máquina quebra. Se é necessário chamar um técnico externo para consertar a máquina e o mesmo dá um prazo de dois dias para chegar, a indústria perde produção e consequentemente vendas, caixa, oportunidade de lucros, etc. Caso o trabalhador saiba consertar a máquina por qualificação própria, a produção continua. Logo, a produtividade aumenta. Agora potencialize isso para o todo da economia. Isso serve para trabalhadores que aprendam a ler em cargos que seja necessário saber ler ou que saibam utilizar softwares sofisticados em vagas que necessitem dessa habilidade.

Exemplo negativo: o trabalhador conclui um curso de informática, e/ou de línguas e/ou graduação tecnológica, mas o faturamento da empresa que ele trabalha não se altera. Logo, sua produtividade não será aumentada por titulações, aumento do tempo de estudo ou educação. Esse é o caso do grosso dos casos no Brasil. O faturamento bruto e os movimentos da elite empresarial é o que definem a produtividade, além da própria dinâmica macroeconômica do país. Muito mais do que a ação – autônoma ou não – dos trabalhadores.

7 – Todo problema de análise nesse assunto, ou quase todos, decorre de uma crença em uma falsa premissa. A  crença que o indivíduo qualificado gera sua própria alocação bem remunerada. Descredenciando assim as falhas de mercado no campo do mercado de trabalho. Algo que é abundante, diga-se de passagem. Os setores de RH, os processos de seleção obscurantistas e a falta de sofisticação econômica (conceito do economista Paulo Gala) do Brasil contribuem bastante pra essa imensa falha de mercado.

8 – A crença na falsa premissa que o trabalhador qualificado gera sua própria alocação ótima, numa nítida remodelação tosca do equilíbrio geral da microeconomia (que muitas vezes é dito de forma cínica que é apenas uma “aproximação da realidade”), desconsidera as seguintes externalidades: desemprego estruturaldesemprego tecnológico, fuga de cérebros e sub-alocação do trabalhador.

O desemprego estrutural e o desemprego tecnológico são fenômenos já conhecidos na literatura básica de economia.
A fuga de cérebros seria o fenômeno do trabalhador qualificado em área X migrar para outra área atrás de alocação ótima, estando desempregado previamente. Ou então quando muda de um trabalho local sub-alocado e sub-remunerado para uma área mais desenvolvida economicamente através de alocação ótima e remuneração adequada. Ou seja, é um fenômeno de imigração/emigração e transferência de capital humano. Diferente do capital físico, como uma estrada ou uma linha ferroviária, que não tem como transferir de um local X para Y, o capital humano migra.
Coréia do Norte e Cuba usam a exportação de trabalhadores qualificados para conseguir transferências unilaterais de renda para os governos de seus países. É uma das principais fontes de renda de ambos. Mas são casos específicos e, além dos países continuarem definhando economicamente, as regras não são as mesmas para trabalhadores dos países mais liberais na questão de emigração. Essa exportação de trabalhadores qualificados ficou muito conhecida no Brasil com o programa “Mais Médicos” de Cuba. Mas a Coréia do Norte também tem programas do mesmo tipo.
A sub-alocação é um termo inventado por mim agora, que diz respeito ao trabalhador qualificado estar sendo alocado em áreas de menor potencial intelectual do que ele é capaz. É o caso do engenheiro lotado como técnico no chão de fábrica ou de um cientista social trabalhando com o aplicativo de caronas UBER. Seria o sub-emprego, basicamente. Isso ocorre em todas as áreas no Brasil e de diversas maneiras. Não é só com UBER e outros mecanismos mais conhecidos. Há muitos publicitários formados trabalhando com atendimento de agências de publicidade, formados em administração de empresas trabalhando como vendedores comissionados, analistas de sistemas trabalhando como programadores júnior, bacharéis em direito no famigerado status de “estudando para concursos” (em longos períodos improdutivos para a economia), gerando assim um conceito mais importante que o desemprego do IBGE, que é a taxa de ociosidade do capital humano disponível para trabalho do Brasil.

– O que as péssimas análises e a omissão fundamental não passa para o grande público leigo do Brasil, o que acaba por desviar montantes de dinheiro e poupanças próprias das famílias para os gárgulas da educação privada 

O conceito chave para entender o problema é a causalidade reversa.

Não é A que causa B, mas B que causa A. Esse é um dos pontos abordados pelos best-sellers de economia norte-americanos, Freakonomics e Economia Clandestino. Assim como o fenômeno de variável omitida.

A questão fundamental é que não é a formação superior e o tempo de estudo que causam a alta renda. A relação é inversa no Brasil. É a alta renda que proporciona o alto tempo de estudo e a boa formação.

Os filhos da elite, com tempo de sobra para os estudos e munidos de “capital de relações sociais” (Jessé Souza e Pierre Bourdieu), podem se dar o luxo de não trabalhar para se dedicarem a cursinhos, graduação na USP (por exemplo), mestrado (ganhando bolsas-pesquisas raquíticas, tipo 1200 reais e quando ganha), etc. Além de formação no estrangeiro, seja graduação (undergraduatenos EUA), PhD, pós-doutorado, etc. Por essa razão há um descompasso entre as pessoas com alta renda no Brasil e a proporção de gente com ensino superior concluso (13% contra 6%), visto que nem todos os graduados possuem capital de relações sociais.

Lembre-se também que os 6% de “alta renda” incluem várias pessoas que ganham “apenas” de  R$ 4000 a R$ 10000, que se você for parar pra pensar nos custos de vida, passa longe de ser “rico”.
Se for colocar rico mesmo, com mais R$ 10 milhões em conta bancária disponível pra saque, não dá 1% direito. E dentro desses 1% há muitas pessoas com pouco tempo de estudo e completamente ignorantes em diversos assuntos. Ou você acha que o dono da Riachuelo conhece Fenomenologia do Espírito em Hegel? Muito difícil, para não dizer impossível.
A segunda causalidade reversa, fundamental argumento e informação dos papers/artigos correlacionando aumento do capital humano e da taxa de educação com o crescimento econômico: não foi o aumento da taxa de educação que ocasionou o crescimento econômico dos países (sobretudo a sempre citada Coréia do Sul nesse aspecto), foi o alto crescimento econômico que gerou essa maior abundância de investimento em educação e capital humano.

O crescimento por vezes coincide com o aumento do capital humano. Mas um não é fator para o outro de maneira linear. E nem a educação.
Os fatores de crescimento são variados. Industrialização, condições dos empréstimos internacionais, superação da especialização em produtos primários, a gestão político econômica, a taxa de poupança, o acúmulo de capital, os meios de financiamento tecnológico, a formação da burguesia industrial dos países, a sofisticação econômica, os acordos comerciais, a geopolítica, etc.
Para isso existem os diversos tipos de modelo de crescimento. Solow, Harrod-Domar, Kuznets, Rosenstein-Rodan, Hirschman, Leontief, Leonid Kantorovich, Rostow, etc.
– A educação gera desenvolvimento via IDH?

Sim. Ponto. Caso de Cuba e tantos outros países. Sem economia robusta, mas com IDH alto.
É bom lembrar que o IDH da falida Venezuela continua mais alto que o do Brasil. Pode ter inflação fora do controle e falta de papel higiênico, mas o analfabetismo é praticamente zerado no país.
Notas gerais

§  Evidente que o acúmulo de conhecimento, o binômio ensinado-aprendizado, o “learning by doing”, a P&D (pesquisa e desenvolvimento), a pesquisa e extensão, a universidade, a escola e a formação de capital humano são importantes no curto, médio e longo prazo. O intuito do texto é desmistificar a correlação simplista e linear de educação/formação com renda/emprego.

§  O principal do texto, creio, é a ênfase na causalidade reversa.

§  O mito de que o investimento na educação gera ou induz o crescimento econômico flerta com mais dois mitos: o da meritocracia e o do Equilíbrio Geral (microeconomia).

§  Evidente que existem casos onde uma pessoa X trabalha em tal empresa, a própria empresa banca o curso superior do trabalhador e após a formação conclusa do mesmo, há um salto de cargo e de renda. Mas esse não é o caso da maioria, infelizmente.

§  A empresa brasileira, na sua grande maioria, não gosta de arcar com custos de formação, binário ensino-aprendizado e a chamada “curva de aprendizagem” do trabalhador. Por isso muitas empresas não se contentam mais com a simples graduação. Mas é por um erro delas próprias, caso haja recursos suficientes paras as devidas práticas. O serviço público é muito mais eficiente nesse sentido.
Wesley Sousa

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