SOBRE CORTES E FUTURO –
por Matheus Meneghini
– graduando em Economia pela UFSC.
Os 30% de cortes no orçamento do sistema de educação
federal sobre os IF's às universidades federais é posto um contingenciamento de
verbas que aprofundará nosso já estado calamitoso.
Os 30% de cortes tem um significado para além do aparente, pois
já dizia Marx “se essência e aparência coincidissem a ciência seria supérflua”,
tem algo estrutural: o por quê um corte desses pode ser feito, através de um
rechaço propagado pelo ministro da educação (a balbúrdia universitária), sem
qualquer mobilização da sociedade.
O movimento estudantil hoje tem na sua prática a resposta
para essa questão. A forma de incidência política do movimento dos estudantes a
nível nacional se põem hoje meramente reativa. Espera-se o pior para que
inflame a chama da resistência, até porque a resistência é apenas quando fere a
minha existência. A forma política reativa é diagnóstico da doença. Um
movimento estudantil que perde seu conteúdo histórico de formulação, agitação e
prática em conjunto do movimento dos trabalhadores por um projeto de nação que
supere a condição das condições de miséria e ausência de futuro. Em suma, temos
então uma ausência de projeto político, uma ausência de direcionamento e,
portanto, uma incapacidade de atingir as massas, de se fazer valer frente aos
ataques de uma burguesia parasitária.
O projeto de Bolsonaro de acabar com o resto do sistema
superior público é hoje continuidade e só pode se dar por conta da ampla
estruturação nos governos petucanos dos grandes monopólios da educação privada
que a partir da ampliação do financiamento estudantil como Ford e ProUni – que
restringe o futuro daqueles que se formam os endividando por anos a fio – abriu
terreno para a possibilidade de fechar o caixão da universidade pública
brasileira. A estruturação deste projeto privatizante é, contudo, condição
necessária para os cortes amplos que diuturnamente a educação pública vem
sofrendo. Todo o discurso de ampliação das universidades e de maior formação
dos jovens que fomentou o tema “Pátria educadora” simplesmente deixou de lado
os problemas centrais do país, regando o discurso – através da cega ampliação
de vagas, da possibilidade de ascensão individual, do empreendedorismo e da
abertura das entidades privadas como solução possível para a educação e o
futuro dos trabalhadores.
Nada mais falso e nocivo. O Brasil é um país
subdesenvolvido regido pela superexploração da força de trabalho, não se trata
aqui de pomposos discursos de país emergente e país de classe média, pelo
contrário, aqui se põe a impossibilidade dentro do capitalismo de conseguir
superar a condição miserável da população, o desemprego e o desalento. A
mediocridade do projeto universitário estruturado pela universidade do
petucanismo reside em não atentar a estes problemas e a miséria e a
incapacidade de agir do movimento estudantil está em ter como horizonte
político a defesa reativa da miséria posta. A universidade por não tocar nas
questões centrais hoje apenas endivida os jovens, rebaixa o valor da forma de
trabalho especializada e joga grande parte no desemprego e na informalidade. Nós
formamos para nos tornarmos Uber. Esse é o legado petucano. Essa universidade
não tem qualquer tipo de mérito. Sua autonomia é apenas em relação aos
problemas do povo. Sua defesa, portanto, só pode ser abstrata.
Neste cenário o movimento estudantil se põe. Incapaz de
direcionar uma ação política pois defende o indefensável, aparece sem projeto,
sem pulso e sem movimento. A reatividade é a única forma política de um
movimento que não tem um projeto político que supere os grandes problemas da
nação, que tenha uma leitura da realidade brasileira crítica, uma capacidade de
leitura da crise que nos encontramos.
O movimento estudantil hoje é a reação
resignada, é a impotência em ação. Urge a necessidade de retomar as rédeas de
um movimento que se paute pelas demandas históricas da classe trabalhadora
brasileira e coloca na ordem do dia os problemas centrais da nação para a
estruturação de um programa político coerente e que de um direcionamento à
superação da condição do país. Urge a reconstrução do movimento estudantil que
compreenda seu sentido histórico e que se afirme perante as massas. Só assim
sairemos da reação miserável e teremos de fato força política não apenas para
sustentar o que está dado mas para superá-lo e de fato fazer com que deixemos a
pré-história da humanidade.
O futuro não é outro senão o da revolução brasileira, o do
socialismo!
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