Artigo originalmente escrito
por Josh Jones para o site Open Culture.
Texto em inglês disponível
neste link.
Tradução de Andrey Santiago - graduando em Serviço Social pela UFSC
Uma
robusta rede de previdência social pode beneficiar tanto os indivíduos numa
sociedade quanto a sociedade em si. Livre do medo da extrema pobreza e com a
possibilidade de realizar a suas necessidades básicas, as pessoas têm uma
melhor oportunidade de alcançar seus objetivos a longo-prazo, a inventar, a
criar e a inovar. É claro que existem diversas pessoas que pensam o contrário.
E existem alguns, incluindo os apóstolos de Ayn Rand, que acreditam como Rand falava:
que aqueles que se utilizam dos sistemas de previdência social são – para usar
o horrível termo dela – “parasitas”, e aqueles que detém gigantes riquezas
privadas são os verdadeiros heróis.
Um
discipulo de Rand, chamado Alan
Greenspan, por exemplo, iniciou a era do “Reagonomics” no começo dos
anos 1980 ao engenhar “um aumento na mais regressiva taxa sobre os pobres e a
classe média”, escreve Gary
Weiss, “a taxa de Previdência Social – combinada com um corte nos
benefícios,” Para Greenspan, “isso não era nenhuma contradição. A Previdência
Social é sistema de altruísmo na sua pior face. Seus beneficiários são
saqueadores. Aumentar as taxas para eles e cortar seus benefícios não foi
nenhuma perda para a sociedade”.
Um
problema com o raciocínio de Rand é: tanto “parasita” ou titã da indústria,
nenhum de nós é mais do que um ser humano, um sujeito as mesmas reviravoltas da
vida, a mesma incerteza existencial, as mesmas doenças. O sofrimento pode ser
desigualmente distribuído pela agência humana, mas a natureza e as
circunstâncias gerais encontram um jeito de equilibrar as coisas. Rand mesma
experienciou esse efeito de nivelamento na sua aposentadoria. Depois de uma
cirurgia feita em 1974 por questões relacionadas a um câncer de pulmão causado
pelo seu grande uso de cigarros, ela se encontrou um circunstancias apertadas.
Dois anos
depois, ela foi colocada junto ao cuidado de uma assistente social chamada Evva
Pryor, que deu uma entrevista em 1998 sobre a relação delas. “Raramente eu
respeitei alguém tanto quanto respeitei Ayn Rand”, disse Pryor. Quando
perguntara sobre seus desacordos filosóficos, ela respondeu “Minha formação foi
em Serviço Social. Isso deveria te dizer tudo que você precisa saber sobre nossas
diferenças”, Pryor foi perguntada sobre a persuasão de Rand para aceitar a
Previdência Social e o Medicare (de modo grosso, equivalente ao SUS do Brasil)
para ajudar com as exorbitantes e crescentes dividas médicas.
Eu li o
bastante para saber que ela não gostava da interferência do governo, e que ela
sentia que as pessoas poderiam e deviam viver independentemente. Ela estava
chegando num ponto da vida dela que ela iria precisar justamente da coisa que
ela não gosta… Para eu fazer meu trabalho, ela deveria reconhecer que existiam
algumas exceções na teoria dela…. Ela teve que ver que existia uma coisa
chamada ganancia nesse mundo… Ela estaria totalmente sem dinheiro pelas
despesas médicas se ela não olhasse com atenção a isto. Já que ela trabalhou a
vida inteira e contribuiu para a Previdência Social, ela tinha esse direito.
Ela não sentiu que um indivíduo deveria buscar ajuda.
Finalmente,
Rand relentou. “Se concordávamos ou não, isso não era a questão”, disse Pryor,
“ela viu a necessidade dela e de seu marido Frank.” Ou como Weiss coloca, “a
realidade apareceu nos sonhos ideológicos dela.” Esse é um jeito de interpretar
essa contradição: que a filosofia de Rand, o Objetivismo, “não tem nenhum
propósito prático exceto o de promover os interesses econômicos de pessoas que
financiam essas ideias” – a única função do seu pensamento era justificar a
riqueza, explicar de longe a pobreza e normaliza esse tipo de guerra Hobbesiana
de todos contra todos que Rand via como o ideal societário.
Rand
pensou que “não havia coisa nenhuma como o interesse público”, que programas
como os de Previdência Social e Medicare roubavam de seus “criadores” e
ilegitimamente redistribuíam sua riqueza. Isso era “um argumento sutil para os
homens de negócios ricos que não tinha nenhum interesse sobre o interesse
público… Mesmo assim, os pagadores de impostos dos EUA pagaram pelas despesas
médicas de Rand e Frank O’Connor”. Randianos ofereceram diversas explicações
confusas para o que os críticos dela veem como pura hipocrisia. Nós podemos ou
não achar esses argumentos persuasivos.
Nos
termos mais simples, Rand descobriu ao fim da sua vida que ela era também um
ser humano e que precisava de ajuda. Em vez de sofrer de fome ou cair morta – o
que ela deixaria que acontecesse a muitos – ela aceitou a oferta de ajuda. Rand
morreu em 1982, enquanto seu admirador Alan Greenspan começou a colocar suas
ideias em prática na administração de Reagan, dando certeza, escreve Weiss, que
o sistema era “mais favorável aos criadores e empreendedores que eram mais
valiosos para a sociedade”, na sua análise Randiana, “que as pessoas da ladeira
abaixo do sucesso”. Depois de três décadas dessas políticas, nós podemos tirar
conclusões sobre seus resultados.
Extraído do blogsite Traduagindo
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