publicado originalmente no site A Verdade.
link para acesso averdade.org.br
Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que
aconteceram no mês passado, reuniram [texto de 2016, alertamos] delegações de
atletas de mais de 200 países. EUA, Grã-Bretanha, China e Rússia lideraram o
quadro de medalhas, respectivamente, com o primeiro chegando a 46 ouros.
Contudo, esta “hegemonia” dos estadunidenses foi quebrada por atletas da União
Soviética em seis dos nove jogos olímpicos de verão que disputaram, entre 1952
(Helsinque) e 1988 (Seul), nos quais conquistou a primeira posição no quadro de
medalhas. Nos jogos olímpicos de inverno, que ocorrem dois anos antes dos de
verão, a URSS foi primeira colocada em sete de nove jogos de que participou.
A partir da
Revolução Russa de outubro de 1917, dezenas de países iniciaram um longo
processo de boicote, velado ou armado, à Rússia soviética e, posteriormente, à
URSS, nos terrenos econômico, político e, até mesmo esportivo. Em 1920, o
Comitê Olímpico Internacional (COI) excluiu a delegação russa dos Jogos
Olímpicos de Antuérpia, na Bélgica, junto com os países derrotados na Primeira Grande
Guerra. Porém, a URSS trabalhava para se tornar um país industrializado, com
uma economia socialista forte, consolidando direitos à classe trabalhadora
soviética, e o acesso ao esporte foi garantido à população. Entre as décadas de
1920 e 1940, ocorreram as Olimpíadas Operárias e as Espartaquíadas, que
reuniram delegações de atletas trabalhadores de várias cidades, num clima de
confraternização e consciência social.
A gigantesca
vitória da URSS na Segunda Grande Guerra a colocou e obrigou o COI a rever sua
política segregacionista em relação à pátria soviética. Nos Jogos de Londres,
em 1948, a URSS foi convidada, porém ainda estava se recuperando dos desastres
provocados pela Alemanha nazista, e não pôde participar. Em Helsinque, em 1952,
a URSS inicia sua participação em Olimpíadas, alcançando a segunda colocação,
com 71 medalhas, sendo 22 de ouro. A partir de 1956, nos jogos de Melbourne,
nos quais a delegação soviética conquistou 98 medalhas, sendo 37 de ouro, a
URSS começa a mostrar ao mundo o potencial que os esportes podem alcançar em
pátrias socialistas. Em sessenta anos, apenas três vezes os EUA não ocuparam o
primeiro lugar. Em 1956 destacou-se o imponente ouro no futebol olímpico
conquistado pela seleção soviética.
Três dos cinco
maiores medalhistas olímpicos de todos os tempos disputaram os jogos com o
uniforme soviético. Larissa Latynina (18 medalhas/1952-1964), Nikolai Andrianov
(15 medalhas/1972-1980) e Boris Shakhlin (13 medalhas/1956-1964), que
disputavam as provas de ginástica, surpreenderam o mundo com extraordinário
talento, e Larissa foi, por mais de 40 anos, a atleta com mais medalhas da
história, sendo superada recentemente pelo nadador Michael Phelps, porém
continua sendo a mulher com mais medalhas olímpicas. Em 1960, em Roma, a URSS conquista
103 medalhas, sendo 43 de ouro, e, pela segunda vez, é a primeira colocada dos
jogos olímpicos. Em 1964, em Tóquio, a URSS obtém o maior número de medalhas,
96, conquistando 30 ouros, mas fica atrás dos EUA na quantidade de medalhas
douradas (os norte-americanos conquistaram 36). Na Cidade do México, em 1968,
os EUA venceriam pela última vez a URSS no quadro de medalhas. Ao todo, os
estadunidenses levaram para casa 45 ouros de um total de 107, enquanto que os
soviéticos subiram ao alto do pódio 29 vezes de 91 medalhas conquistadas.
Em 1968, o
lendário atleta soviético Viktor Saneyev, três vezes campeão olímpico do salto
triplo e recordista mundial, disputava sua primeira olimpíada. Em 1972, nos
Jogos Olímpicos de Munique, tornou-se bicampeão, sendo condecorado com a Ordem
de Lênin, uma das maiores honrarias concedidas a um cidadão soviético. Em
Munique, a URSS voltou a ocupar o primeiro lugar no quadro de medalhas,
conquistando 50 ouros e 99 medalhas no total. Destacou-se a histórica vitória
do basquete soviético, vencendo o até então imbatível time dos EUA por 51 a 50,
no último segundo da partida. Em Montreal, em 1976, a URSS conquistou 49 ouros,
de um total de 125 medalhas, ficando mais uma vez na ponta de cima do quadro de
medalhas. A delegação da Alemanha Oriental surpreendeu o mundo ao ficar à
frente dos EUA no número de medalhas, levando 40 ouros para casa, enquanto que
os estadunidenses ficaram em terceiro, conquistando 34 medalhas douradas.
A memorável
Olimpíada de Moscou, em 1980, marcou gerações. Apesar do boicote dos EUA e de
vários países aliados, entre eles várias ditaduras militares, como a Argentina
– por conta do socorro prestado pelo Exército Vermelho, no ano anterior, ao
governo afegão, que lutava contra grupos terroristas –, os Jogos de Moscou
foram um verdadeiro sucesso, sendo considerado pelo COI “como modelo a ser
seguido a partir de então”. O evento reuniu 80 países e mais de cinco mil
atletas. A URSS conquistou 195 medalhas, sendo 80 de ouro, tendo mais uma vez a
Alemanha Oriental na segunda posição, com 47 ouros. A famosa cena do ursinho
Misha chorando, na cerimônia de encerramento dos Jogos, se tornou um símbolo
olímpico. Aleksandr Dityatin, ginasta soviético, se tornou herói nacional ao
receber, pela primeira vez nas Olimpíadas, uma nota 10 nas provas do individual
geral, levando mais dois ouros, quatro pratas e um bronze na ginástica.
Em 1984, nos
Jogos de Los Angeles, diante do agravamento do quadro de perseguição aos
comunistas promovido pelo governo neoliberal de Ronald Reagan, o Comitê
Olímpico Soviético decidiu não participar. Alemanha Oriental e Cuba, duas
potências olímpicas, seguiram a URSS e boicotaram os Jogos. Em sua última
participação, nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988, mais uma vez o bloco
socialista demonstrou seu enorme potencial esportivo, com a URSS levando para
casa 132 medalhas, sendo incríveis 55 ouros, ficando em primeiro lugar seguida
pela Alemanha Oriental, que conquistou 37 ouros e 102 medalhas, enquanto que os
EUA, mais uma vez, ocuparam a terceira posição, com 36 ouros e 95 no geral. Em
1988, o basquete olímpico soviético mais uma vez foi campeão, derrotando na
final a forte seleção iugoslava.
A
contraofensiva imperialista, junto ao revisionismo do PCUS, que levou à
extinção da pátria soviética e ao retrocesso social gigantesco, nos quais
indústrias foram desmanteladas, bancos e terras privatizadas e milhões de
trabalhadores ficaram sem emprego, o esporte também sofreu um duro golpe. Ainda
mantendo parte do legado esportivo soviético, a delegação dos países da
ex-URSS, agrupados sob a bandeira da CEI (Comunidade dos Estados Independentes,
com exceção dos países bálticos), manteve a primeira posição nos Jogos
Olímpicos de 1992, em Barcelona, levando 112 medalhas, sendo 45 de ouro. A
partir daí a Rússia, principal herdeira do potencial soviético, restabeleceu o
capitalismo e jogou seu povo numa profunda crise econômica, com desemprego em
massa e guerras localizadas. A Rússia, que em 1996 conseguiu chegar à segunda
posição nos Jogos de Atlanta, continuamente vem decaindo, lutando, nos atuais
Jogos, para conquistar a quarta colocação.
O verdadeiro
espírito olímpico, baseado na paz e na confraternização dos povos, precisa ser
rediscutido, pois, cada vez mais, grandes empresas se apropriam dos Jogos,
mercantilizando-os, oferecendo “milhões” aos melhores atletas para se tornarem
seus “garotos-propaganda”. Enquanto o esporte for secundarizado e até mesmo
negado para milhões de crianças ao redor do mundo, continuaremos a ver como
distante um evento tão importante à humanidade, responsável por suspender
guerras na Grécia Antiga. Porém, como provaram a todo o mundo os simples
atletas soviéticos, que não recebiam salários milionários nem se sentiam acima
do povo, mas que honravam a história de luta de sua pátria, as conquistas
dependem, principalmente, da construção de uma nova sociedade, na qual o
esporte será interligado com o trabalho e com a cultura, e todos poderão ter
acesso, seja na fábrica ou universidade, à prática esportiva.