Konder e a arte marxista

Sunday (Edward Hopper) e Black and White Suprematist Composition (Kasimir Malevich), mashup: Fernando Pereira.

Por Fernando Pereira - graduando em Filosofia pela PUC-MG.


Na história do marxismo encontramos diversos estudiosos que se aprofundaram da questão estética, a mesma, não possui um estudo sistemático ou uma obra estética de autoria de Marx, por esse dado obras marxistas resgatam tanto na história do marxismo quanto também ao longo das obras de Marx fundamentos para uma estética marxista. Por ser uma história longa e demasiada de problemas, reduzi a um pensador contemporâneo Leandro Konder que resgata as ideias estéticas de Marx, trazendo apontamentos para uma introdução as ideias de como o marxismo, e, claro o próprio Marx enxergava a Arte em geral. 

Konder em sua obra "Os Marxistas e a Arte" faz uma trajetória dos principais teóricos da arte que se envolveram de certo modo com o marxismo, nesse momento vale a pena ressaltar o retorno que o mesmo faz sobre Marx. A princípio Konder nos mostrará os fundamentos para a estética nos escritos de Marx, ressaltando a importância da visão materialista dialética, “Marx (…) ao entender, (…) que o homem não se afirma no mundo unicamente como ser pensante, mas através de uma práxis não só teórica como prático-sensorial.” (KONDER.1967. p.26). Apontando que o pensamento idealista era superado por Marx, o homem não somente pensa como também age na natureza, modificando, transformando o mundo com seu telos (trabalho) e também se modificando junto à natureza, promovendo uma reabilitação dos sentidos enquanto fundamentais na teoria estética marxista, “o materialismo marxista, promovendo uma reabilitação dos sentidos, promove também uma revalorização do conhecimento artístico.” (KONDER 1967. P.26). Adolfo Sánchez citado por Konder, explora mais ainda esse sentido, “os sentidos são tão humanos como o pensamento e, como ele, nascem e se enriquecem na relação humana especifica que se dá na humanização da natureza por meio do trabalho” (KONDER.1967. p.26/27). 

Seguindo nesse sentido Konder nos mostra que a historicização na teoria estética de Marx é de suma importância, pois o homem com o tempo adquire uma nova “roupagem”, o homem conforme evolui, modifica a si mesmo, transforma seus sentidos mais apurados para a arte, movido pelo trabalho, nas palavras do autor: “precisamente na medida em que os sentidos se tornaram historicamente mais humanos, a perspectiva marxista o dignifica.” (KONDER.1967. p.27). E vai além: “A atividade sensorial criadora do homem como artista não forma apenas objetos para o sujeito humano: forma, igualmente, um sujeito especial para os objetos” (KONDER.1967. p.27). O homem em questão somente apurará uma música se tem um ouvido musical, somente gostará de uma leitura se se esse tem vínculos com tal leitura, se tem em si introjetado a leitura,

o objeto só existe na medida em que o sujeito desenvolveu a faculdade necessária à apreensão do objeto. O desenvolvimento da capacidade do homem criar objetos através do trabalho, o desenvolvimento da capacidade do homem de plasmar o mundo objetivo à sua feição. Se faz acompanhar de exigências no sentido que se desenvolva, também uma rica sensibilidade humana subjetiva (KONDER.1967. p.27).
A “genialidade” de um artista está ligada com a história da humanidade, da apreensão do mundo, pois é nesse sentido que vemos sua “genialidade”, na captura do real, 
o desenvolvimento humano dos cinco sentidos é obra de toda a história anterior. O sentido subserviente às necessidades grosseiras possui apenas uma significação limitada. Para um homem faminto, a forma humana do alimento não existe; só existe o seu caráter abstrato de alimento. Ele poderia existir mesmo na mais tosca das formas; e nesse caso, não se poderia dizer em que a atividade do homem se alimentar seria diferente do animal. O homem premido pelas necessidades grosserias e esmagado pelas preocupações imediatas é incapaz de apreciar mesmo o mais belo dos espetáculos. (MARX apud KONDER.1967. p.27/28). 

Na leitura de Konder nesse aspecto, uma vez que a arte como produto do homem também o humaniza, como dito no começo do texto. Nesse sentido a arte como é antes de tudo um trabalho de duplo aspecto: interior e exterior: interior como uma autonomia particular do sujeito, e exterior dado que o trabalho e a natureza que o homem transforma e também se educa, se modifica.

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