A ditadura do capital e o flagelo da “democracia”: The Intercept, a arte da tragédia

Foto Marighella, o comunista.


Por Wesley Sousa - graduando em Filosofia pela UFSJ.

Recentemente o site The Intercept Brasil publicou um texto chamado “Elogiar ditadores é a melhor maneira de a esquerda continuar perdendo”. O intuito desse texto é não apenas trazer alguma resposta, mas aprofundar a discussão. O texto do site é tão raso e tão fraco que sequer tem alguma “teoria” por detrás: apenas reproduz ideologia.

Vejamos: o pensamento foucaultiano pode ser ainda mais intrigante. Esse é o verdadeiro tumor teórico da sub-esquerda hipster. Normalmente pinta a realidade numa desconstrução racional da razão moderna e a formulação de uma proposição política transgressiva viável à intervenção social de uma esquerda que no pós-68 (culminante após a Queda do Muro) que passa a descrer do socialismo, mas, se põe romanticamente na postura rebelde e transgressiva contra o sistema. Esta rebeldia de esquerda tipicamente adolescente resulta na condenação das forças de contestação à ordem vigente a um fatalismo irremediável.

Não preciso ficar trazendo trechos do pequeno texto. O título é evidente por si. Tudo que se está fora da “ordem democrática” é sinal de “matar a democracia”. Talvez deveríamos dizer isso aos PM’s... Ou as milícias no RJ... talvez precisássemos de mais “violão e menos violência” (quem sabe sexo nas ruas?). Vai saber!

Assim, é a romantização da pobreza e da exploração de classe, como fazem valer nas suas palavras de “gratidão pela vida bela e humilde”; e o tal “socialismo cristão” (versão mal arrumada da Teologia da Libertação) que encaixa nesse minimalismo fajuto, pela qual quem produz o excedente material deve ter a “consciência limpa” de suas “virtudes” (embora o cristianismo seja melhor fundando ontologicamente que essa ideologia).

Se acham “bolsa família” comunismo ou ‘bolsa-vagabundo’, imagina o que não fazem diante da socialização dos meios de produção? Pregar diálogo com quem assassina, tortura e venera “salvadores da pátria”, se vende ao imperialismo, sabota e destroi nossa sociedade, é desconsiderar a realidade concreta. Não se emancipa ninguém nem se constroi alternativa libertária com a nossa pátria esmagada pelo imperialismo e pela contrarrevolução. Isso que se chama de “democracia” liberal?

O camarada Lênin dizia que a democracia liberal e a ditadura da burguesia seriam duas formas distintas de dominação de uma classe sobre outra. Mas, para os “intelectuais” de quatro paredes, que tentam pintar a realidade com a força do pensamento, precisaríamos “democratizar a democracia” ou então não deixá-la “morrer”. É esse tipo de gente que se diz engajada, procurando saber “como derrotar o fascismo nas urnas”, para “salvar a democracia”. O resultado disso é o florescer de todo tipo de oportunismo com uma concepção frágil que não viola o interior do parco conhecimento da própria situação de classe e da realidade material. Debruçam em pilhas de textos e artigos fajutos, que não procuram exatamente aqueles fundamentos que residem na propriedade privada, no capitalismo como modo de produção (em todas as suas formas de manifestação) e no Estado como produto histórico da sociedade de classes que precisa ser superado.

Basta, aqui, que lembremos a figura de Rosa Luxemburgo, que era do Partido Socialdemocrata alemão. Ela foi uma combatente de primeira hora contra o revisionismo teórico que irrompeu no interior da socialdemocracia alemã. Condenou duramente o oportunismo de direita que ganhava corpo nas direções dos sindicatos alemães e defendeu a experiência da revolução russa de 1905, especialmente o uso da greve geral como instrumento importante na luta revolucionária. Rosa se colocou ao lado de Lênin contra a guerra imperialista e na defesa da revolução socialista.

É isso que chamam de “autoritarismo”: ou seja, o projeto responsável por desencadear um processo de emancipação jamais visto em toda a história da humanidade – o socialismo! Então, rejeito categoricamente a acusação de estar defendendo “meios que contrariam os fins” ou de “defender ditadores”. O que contraria os “fins” é pregar a tolerância para com exploradores e assassinos do povo e serviçais do imperialismo, tudo em nome da “boa política” e do “desenvolvimento” que segrega pessoas e matam diariamente, pobres, negros e comunistas, torturando e sabotando-os.

A questão da “ditadura proletária” é, sobretudo, a questão do conteúdo essencial da revolução proletária. O seu movimento, a sua amplitude, as suas conquistas só tomam corpo através da ditadura do proletariado. A ditadura do proletariado é o instrumento da revolução trabalhadora, o seu órgão, o seu ponto de apoio mais importante, criado com o fim, em primeiro lugar, de ‘esmagar’ (suprimir) a resistência dos exploradores derrubados e consolidar as conquistas da revolução e, em segundo lugar, de levar a termo a revolução proletária, levar a revolução até a vitória completa do socialismo.

No caso em questão, o site The Intercept não é aliada da classe trabalhadora. Esse site representa a autocracia burguesa vigente no método de extrair a mais-valia. Almeja um capitalismo “mais humano”, “democrático”, mas como todo liberal, almeja, moer vossa carne nas moendas de sobretrabalho enquanto promove uma burguesia filantrópica.

O trágico é o seguinte: aqueles que deveriam ser os dirigentes da classe operária, são seus maiores detratores e traidores; rendem loas e elogios molhadíssimos ao liberal arendtniano Glenn (o qual se encontra sob cerco de Moro e demais ministros bolsonaristas, todos democráticos!) mas que coaduna rotundamente com o anticomunismo emanado de seus pares e prosélitos liberais e promove tal linha editorial bizarra, reacionária e de pouca seriedade intelectual a qual é vista neste panfleto liberal supracitado; nesta gazeta digital dantesca que só é capaz de raptar o coração e engabelar pequeno-burgueses burros e sem filosofia, os quais colocam no mesmo saco nazismo e marxismo. São inimigos políticos, falsificadores da história e ineptos.

Aquele que compara Lênin a um autocrata burguês, além de profundamente ignorante e mal-intencionado, não merece, sequer, um sorriso de piedade. A tragédia de nossos dias não é a “falta” de democracia, talvez seja seu “excesso”. Marighella foi torturado, perseguido e assassinado. Será que ele precisava de mais “democracia” do capitalismo em plena ditadura militar?

A ditadura do proletariado surge não sobre a base da ordem burguesa, mas no processo da sua demolição, depois da derrubada da burguesia e seus espoliadores, no curso da expropriação dos latifundiários e dos capitalistas, no curso da socialização dos meios e dos instrumentos essenciais de produção, no curso da revolução e emancipação da classe trabalhadora. 

Podem chamar de “ditadura”, o que for. Para mim, Revolução Socialista é algo atual a ser construído no dia a dia, em casa, na escola, na rua, etc., isso implica na luta contra a ideologia capitalista e na construção de uma nova consciência. Essa consciência que se materializará nas forças das armas versadas pelas armas da crítica. Hoje utilizamos as armas da crítica, da intelectualidade, indo de encontro aos problemas. Amanhã, cedo ou tarde, chegará a hora da crítica das armas. 

Somente isso ocorrerá se, em todos nós, houver uma só intenção, uma só ideia, um só projeto:


                     A CONSTRUÇÃO DO SOCIALISMO!
Wesley Sousa

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