Maradona: o gênio rebelde encostou nas mãos de Deus



 Por Yuri Lorscheider - graduando em História pela UFSC

Perdemos uma lenda. Um gigante. O maior personagem da História do Futebol. 2020 é devastador e nos levou Diego Armando Maradona, El Pibe de Oro finalmente encostou nas mãos de Deus. Em Lanús, província de Buenos Aires, nascia o gênio rebelde. Como Galeano afirmava, Maradona era “o mais humano dos deuses”, era o anjo e o demônio; o herói e o vilão; infelizmente foi seu próprio vilão, mas não estamos aqui para fazer julgamentos morais de sua vida.

Recordemos de seus grandes momentos, desde o início de sua carreira no pequeno Argentinos Júniors - sim, o mesmo time que revelou Riquelme, Redondo e Sorín -, no Bairro de La Paternal, em Buenos Aires. Lá marcou 116 gols, o maior artilheiro da história do Clube. Inclusive, o estádio do Argentinos Jrs. chama-se hoje Diego Armando Maradona. No chamado “Bicho Colorado” jogou 1976 até 1981, quando transfere-se para o gigante Boca Juniors. Na Bombonera jogou  a temporada de 1981, marcando 35 gols em 40 partidas. Foi apenas um ano, mas suficiente para erguer a taça do campeonato nacional.

Transfere-se para o Barcelona, conquistou títulos, mas foi um momento de altos e baixos. É vendido para a modesto Napoli. Ali, sua vida viveu grande uma reviravolta. Era uma nova estrofe no tango maradoniano. É na Itália onde vive seus melhores momentos no futebol. Leva a equipe napolitana ao bicampeonato nacional, mudando a “squadra” de patamar no futebol italiano - e europeu -. Todavia, na opinião deste que aqui escreve, o maior momento de Dom Diego foi no Mundial de 1986. A maior atuação individual de todos os tempos em uma Copa do Mundo. O Mundial de um homem só.

Existem documentários e reportagens sobre o mundial do México em 1986. Foi um mundial peculiar devido a uma série de fatores. O jogo entre Argentina e Inglaterra foi um marco histórico. A Argentina havia perdido a Guerra das Malvinas para os ingleses três anos antes da partida, o sentimento de revanche por parte de nossos hermanos era evidente. O clima na torcida, horas antes do jogo, já estava inflamado. E naquele fatídico 22 de junho de 1986 o “Pibe de oro” foi protagonista do maior jogo de todas as copas.

Em questão de minutos los hermanos marcam dois tentos. No primeiro o céu foi tocado por “La mano de Dios”, tão famoso, já citado por muitos. O segundo é uma jogada magistral. Maradona driblou quase meio time inglês, nem o fundo das redes conseguiu parar o camisa 10 da Argentina. Esse gol é um episódio singular do futebol, segue a narração incrível de Víctor Hugo Morales (https://www.youtube.com/watch?v=1wVho3I0NtU)

“Ahí la tiene Maradona, lo marcan dos, pisa la pelota, Maradona, arranca por la derecha el genio del fútbol mundial, y la deja el tercero, y va a tocar a Burruchaga. Siempre Maradona! Genio! Genio! Genio! Gol! [...] Quiero llorar, Dios Santo, viva el fútbol! [...] ¿de que planeta viniste?”

Para mim, essa narração é inesquecível. Nem o gol do melhor jogador inglês, Gary Liniker, no final da partida pôde salvar a pele dos britânicos. Maradona vingou seus companheiros patriotas derrotados e humilhados anos antes naquele desleal conflito envolvendo as duas nações supracitadas. Honrou o uniforme bordado pelas Madres de La Plaza de Mayo.

Nenhum texto é ser capaz de dar conta do tamanho de Diego Armando Maradona. Nem o realismo mágico latino-americano de García Márquez poderia descrever os atos desse gênio. A Argentina decretou luto de 3 dias. Uma perda tão grande quanto de Evita e Gardel. Hoje encerrou el caminito do tango maradoniano. Uma vida digna de uma canção portenha de Piazzolla, dramática, linda e singular.

Maradona foi o maior personagem (e destaco a palavra personagem, não jogador) da História do Futebol. Por tudo que representou dentro e fora de campo. O mais humano dos deuses nos deixou, é hora de descansar em paz, finalmente. Obrigado por tudo que tua pessoa fez por esse esporte tão amado por milhões ao redor do mundo. Gênio, rebelde, herói, pecador, humano. Deus.

Hasta siempre, Diego.


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Wesley Sousa

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