Título original Financiamento do clima
por Michael Roberts, economista britânico
Traduzido
por Wesley Sousa
Publicado
originalmente no The Next Recession
Data 05
de nov. 2021
A
COP26 se estende em Glasgow [Escócia], com pequenos sinais que algo
significante está sendo acordada em direção à reversão do aquecimento global e
acabando com a degradação da natureza. Abaixo de todas as manchetes de mídia,
governos e corporações não estão colocando seu dinheiro onde suas bocas estão.
O suporte financeiro para medidas destinadas às reduções das emissões de
carbono e outras formas de destruição do ambiente é lamentável.
Em 2009, as principais nações ricas prometeram enviar pelo menos 100 bilhões de dólares por ano em financiamento climático para os países mais pobres até 2020. Esse entendimento formou a base do acordo de Paris, em 2015, que visava limitar o aquecimento global bem abaixo de 2°C, idealmente 1,5°C. Mas, nas vésperas da COP26, os países doadores admitiram terem falhado nessa meta em 2020. Agora, eles esperam alcançá-la em 2022 ou 23, anos depois do planejado.
Na
verdade, a maioria das nações ricas não estão cumprindo suas promessas. Só a Noruega,
Suécia e Alemanha podem afirmar isso, enquanto os EUA estão a bilhões a menor e
estão no fim da lista da OCDE.
Além
disso, a maioria dos 100 bilhões prometidos não são em forma de subsídios, mas
de empréstimos. Então, países pobres que tentam lidar com o aquecimento global
e reduzir as emissões, devem pagar a maior parte das doações dos países ricos
de volta. Cálculos da Oxfam sugerem que o nível ideal de subsídios para
o clima é de cerca de 1/5 dos números de ‘financiamento climático’ da OCDE, uma
vez que os empréstimos não são tomados. Esses compromissos climáticos foram
“uma milha de largura e uma polegada de profundidade”, disse Backy Jarvis, um
estrategista do Banco em nossa rede de campanha Futuro.
Depois
há a companhia de coalizão de financiamento internacional, liderada por Mark
Carney, que assinaram para combater as alterações climáticas. Ex-dirigente do
Banco da Inglaterra, Carney é o enviado oficial da ONU sobre o financiamento
climático. Ele reivindica que a Glasgow Financial Alliance for Net Zero
(GFanz) – composta por mais de 450 bancos, seguradoras e gestores de ativos
em 45 países – poderia entregar algo como 100-130 bilhões de dólares do
financiamento para ajudar a transição das economias ao zero líquido sobre as
próximas três décadas. Michael Bloomberg, um bilionário da mídia, ia juntar-se
ao Carney como co-presidente. O grupo ainda apresentará periodicamente ao Conselho
de Estabilidade Financeira do G20 um relatório sobre o seu trabalho. Carney
apontou a União Europeia análise que sugeriu ao setor privado podendo auxiliar
com 70% do total de investimentos necessários para atingir metas zero líquidas.
Finanças privadas podem salvar o dia, argumenta Carney.
Mas
quando você olha mais de perto para esta imagem, você descobre que os gestores
de investimentos representam 57 trilhões dos ativos, com 63 tri provenientes de
bancos e outros 10 tri de proprietários de ativos, como os fundos de pensões. E
43 desses 221 gestores de investimentos signatários revelaram que apenas 1/3
dos seus ativos se destinava a investimentos com objetivos de “líquido zero”. Bem
Caldecott, diretor do Oxford Sustainable Finance Group, na Univ. de
Oxford, disse em manchete que 130 trilhões não eram “uma piscina fresca de dinheiro,
e a maioria não seria alocável”. Ele incluiu hipotecas e dinheiro para
financiar a infraestrutura de combustíveis fósseis. “Qual proporção dela você
pode realmente desviar para as soluções ou usar de uma forma para financiar as empresas
poluidoras a se tornarem sustentáveis?”, ele perguntou.
A Rainforest
Action Network, um grupo ambiental, aponta que os 93 bancos que assinaram o
compromisso continuaram a fornecer 575 bilhões de empréstimos e subsídios para
a indústria de combustíveis fosseis em 2020. “A desconexão entre
compromissos climáticos e as decisões da diretoria é impressionante [lamentável]”,
disse Tom Picken, diretor florestal e financeiro. Os gestores de avitos que
tinham assinado na Gfanz tinham até agora alinhados apenas 35% dos ativos
com metas líquidas, disse ele. “Isso não é um financiamento verde, não é
totalmente dedicado ao mínimo para combater as alterações climáticas, enquanto
os financiadores têm grande interesses na expansão de combustíveis fósseis”, adicionou.
“Esse anúncio já ignora o maior elefante na sala”, diz Richard Brooks,
diretor financeiro do clima Stand.earth. “Não há nenhuma menção da palavra
floresta nesta nova declaração dos clubes ‘zero líquidos’. Não podemos manter
abaixo de 1,5°C [o aquecimento] se as instituições financeiras não pararem de
financiar empresas de carvão, petróleo e gás”.
Entretanto,
economistas bem-intencionados oferecem vários esquemas para resolver o problema
do financiamento nos limites da economia de mercado. Raghuram Rajan, professor
de finanças na Escola de Administração na Universidade de Chicago, reconhecido
pelas suas soluções pró-mercado, sugere que todos os países que emitem mais do
que a média global [de gases de efeito estufa], [contribuam] com cerca de 5x de
salário per capita por ano para um fundo global. O montante pago seria o
excesso de emissões per capita pela população e ainda multiplicado por
um valor em dólar chamado GlobalCarbonIncentive (GCI). Se o GCI começasse
a 10 dólares por tonelada, os EUA pagariam cerca de 33 milhões de dólares por
ano. Enquanto isso, países abaixo da média global receberiam um pagamento
proporcional com base no quanto eles emitem abaixo da média (Uganda, por ex.,
receberia cerca de 2 bilhões).
Rajan
vê o esquema como autofinanciamento. Os países com baixos níveis de emissões,
frequentemente os países mais pobres, os mais vulneráveis às alterações climáticas
que não causaram, receberiam um pagamento que poderia ajudar suas populações a
adaptarem. Por outro lado, a responsabilidade para pagamento recairia apropriadamente
sobre os grandes e ricos emissores, que também estão nas melhores posições de
pagamentos. Países seriam livres de escolher seus próprios caminhos doméstico
para a redução de emissões. Em vez de cobrar um imposto sobre o carbono, politicamente
impopular, um país poderia impor regulamentos sobre o carvão, outro poderia
incentivar energias renováveis.
Em outro
esquema, Avinash Persaud aponta que para cumprir o acordo de Paris, o mundo
teria que eliminar 53,5 bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono por
ano durante os próximos trintas anos. Essas são as variáveis de estimativas de
quanto isso custaria, mas o banco de investimento Morgan Stanley colocaria um adicional
de 50 trilhões, divididos entre cinco áreas-chaves de tecnologia de carbono zero.
Essa comparação é com os patéticos 100 bilhões mencionados acima que foi
colocado por 6 anos pelos países se juntarem. Persaud diz que “precisamos de
acordo global – não aspiração global ligado a um orçamento municipal da aldeia”.
Os países
que mais contribuem para os estoques da GHG’s poderiam emitir um instrumento que
daria a qualquer investidor em projetos em qualquer lugar do mundo que reduzem
os GHGs o direito de pedir emprestados a partir deles em taxas de juros baixas –
que estão em torno de zero – e para arrolarem aos empréstimos enquanto o projeto
fornecer uma taxa mínima de redução GEE por dólar investido. Se a emissão anual
coletiva deste financiamento de custo ficar perto de zero, algo de 500 bilhões
aumentados nos investimentos, a tal ponto que o retorno ao longo de 15 anos reuniria
em economias privadas para 50 trilhões necessários.
Todo
esse esquema falha por 2 motivos [destaques da tradução]. Primeiro,
eles exigem uma ação global e instituições globais para as implementarem. Não há
nenhuma perspectiva que isso aconteça. Assim como os governos nacionais falharam
em coordenar os financiamentos e recursos para lidarem com a pandemia COVID-19,
os governos não estão dispostos a tomarem medidas significantes globalmente sobre
o clima e a natureza. Cerca de 50 trilhões em 30 anos são aparentemente necessários
– outras estimativas são de 4 trilhões por ano, nos próximos 10 anos. Este
[segundo númeiro] é realmente um pequeno custo, não mais do que 2,5% do PIB
mundo anual. Mas, até agora, os governos prometeram apenas 100 bilhões e nem
sequer [irão] atender a isso.
Segundo,
as soluções de mercado ainda não vão dar conta, como mostrado na COVID-19. Somente
a intervenção dos governos, com um plano de investimentos e intervenções em
escala podem dar à humanidade e a natureza uma chance de sucesso antes que
muita degradação seja permanente [destaques da tradução]. O preço do
carbono não vai alocar o investimento adequadamente ou mudar o consumo
suficiente – e só beneficia os países mais ricos (1 bilhão de pessoas) em
detrimento dos mais pobres (6,5 bilhões).
O financiamento
privado organizado por bancos e fundos de investimentos não produzirão resultados.
Isso porque as empresas capitalistas controlam e fazem decisões baseadas na
rentabilidade privada. O aquecimento global não será parado ou revertido sem
acabar com a exploração de combustíveis fósseis. Nada disso está na agenda da
COP-26. [estaques da tradução]
Como Jeff
Sparrow disse em seu novo livro, “Crimes contra a natureza”, “A cada
ano, o mundo gasta mais de 1,9 bilhão de dólares com armas, bombas e outros
equipamentos militares. O número comparável em publicidade é cerca de 325 bilhões.
Esses números impressionantes representam uma mera fração do que poderíamos imediatamente
direcionar para programas ambientais em terra, mar e ar. Nós poderíamos iniciar
um sistema de descarbonização, o encerramento de centrais elétricas alimentadas
por carvões minerais e a substituição de combustíveis fósseis por energias renováveis
como a energia solar, utilizando o processo para produzir em vez de aumentar as
nossas necessidades energéticas. Poderíamos expandir massivamente o transporte
público de baixo carbono, de modo que trens elétricos e bondes eficientes fáceis
de usar e convenientes substituíssem motores de combustão interna. Poderíamos replanejar
nossas cidades e municípios para a conveniência humana, um pouco do que está
para o uso dos automóveis [atualmente]; poderíamos estabelecer métodos de reciclagem
e o reuso do que reduziriam genuinamente na produção material”.