Steven Pinker: falso amigo do Iluminismo


Por Landon Frim – professor assistente de filosofia no St. Joseph’s College-New York

Harrison Fluss – um editor correspondente da Historical Materialism e professor de filosofia na St. John’s University e no Manhattan College

Tradução Gabriel A.

Publicado originalmente no site Jacobin

Nota introdutória Wesley Sousa

 

Nota introdutória

O canadense Steven Pinker é um autor popstar estilo “Olavo de Carvalho” da chamada “psicologia evolutiva” e do liberalismo tardio. Nas últimas duas décadas, tem se tornado um autor bastante lido e admirado na direita – uma espécie de um “intelectual homologado”. Sua pompa de “grande intelectual” em nosso tempo chama a atenção: arrojado na escrita e nos argumentos, conquistou adeptos e leitores de suas obras. Publicou obras tais como “Tábula rasa”, “O Novo Iluminismo”, “Como a mente funciona”, entre outras.

Não apenas por seus apelos “racionalistas”, com claros pressupostos anti-humanistas e marxistas, suas pesquisas giram em torno de um arquétipo à priori de que “tudo hoje nunca esteve tão bom”, logo não precisamos fazer nada além de manter o que está, pois tudo segue um “curso” normal. Não apenas o anacronismo e a irrazoabilidade argumentativa, que desconsidera inúmeros fatores, mas há um ponto interessante cuja base é de matriz liberal-conservadora que Pinker adota. Primeiro, ele desconsidera que a explicação imanente de toda sociedade deve se dar nela mesma, ou seja, na verdade, é o capitalismo dado como um sistema que exige uma padronização social intensa, literalmente transformando a sociedade humana em uma sociedade de abelhas: as pessoas precisam trabalhar em uma cadeia produtiva extremamente hierárquica e fechada. Toda práxis e trabalho humano na sociedade capitalista é realizado para manter esse sistema, seja o que nós assistimos, seja o que estudamos, seja como nos relacionamos, seja como compramos… Assim é gerada essa “falta de expectativa”, ou seja, a subjetividade despedaçada da vida, já que viramos “apêndices” da cadeia produtiva no capitalismo.

Segundo, pela recusa consciente do materialismo, é inevitável que seus ímpetos e anseios “de um mundo melhor” se enredem em um tanto de contradições por navegarem no idealismo. Pois a superação das formas de consciência que este ser tem do mundo engendra dados pelo aspecto de externalidade com o qual o mundo aparece, nisso “as leis sociais aparecem como objetividades de igual estatuto que as leis naturais”, e o mundo parece como absolutamente externo. Evidentemente, a forma de consciência (que constitui uma necessidade da reprodução social) é aquela que o filósofo Lukács chamou, tomando o conceito de Nicolai Hartmann, de intentio obliqua, isto é, a explicação de mundo é uma necessidade dos homens de explicarem sua vida, encontrarem sentido na sua cotidianidade, feita por explicações falsas do mundo que, no entanto, permitem aquela reprodução. Um exemplo é dado por Lukács, ao explicar como o geocentrismo servia para a orientação no mar, mesmo que não fosse um conhecimento verdadeiro. Igualmente, a forma religiosa produz um mecanismo de explicação e regulação social já que está imbricada na moral e na ética para o ser que faz dessas “leis” – religiosas, por exemplo – sua forma de vida. 

Em outros termos, sua racionalidade apenas convém para a defesa irrestrita do capitalismo, da tirania do mercado, enquanto se “preocupa” com sujeitos singulares como totalitários, “nivelando” Hitler e Fidel, por exemplo. Segundo ele, em seu livro “Iluminismo Agora”, os inimigos do “progresso” seriam Martin Heidegger, Jacques Derrida, Michel Foucault, Jacques Lacan, “pessimistas culturais rabugentos” em geral, “guerreiros da justiça social”, Edward Said, Franz Fanon, a Escola de Frankfurt de Teoria Crítica, bioeticistas, fundamentalistas religiosos irracionais, partidários da regulamentação de tudo, os esquerdistas farisaicos das universidades e Thomas Piketty.

Os “inimigos” de Pinker, em suma, são o marxismo e o socialismo – quaisquer teorias ou pensamentos que julgue como “coletivistas” ou “totalitárias”. Como bom “racionalista”, ele precisa criar seus fantasmas “científicos” para poder corroborar suas alucinações. No entanto, sua ideia de um progresso histórico, linear, com base numa metafísica do pensamento (ignorando que as “melhoras” se deve justamente pelas ações históricas do ser social em sua sociabilidade, levando adiante os dilemas e buscando resolvê-los à base da força, mediante a luta de classes, diga-se), no capitalismo de hoje, sabemos que mundo não está ficando cada vez melhor de modo linear ou exógeno – mas, poderia estar de fato se suprimisse-o. Cada vez mais as ideias da esquerda e da denúncia do capitalismo como um sistema autodestrutivo são vistas como as soluções pertinentes e aceitáveis para fazer tudo isso, ao contrário do palavrório “neutro” que alimenta a direita e os ideólogos da catástrofe.

O texto abaixo é uma crítica pontual a alguns dos argumentos de Pinker no seu livro referido. A sua obra é vasta e, confesso, seria um trabalho bem mais exaustivo desmenti-la. Assim, realmente com o “Novo Iluminismo”, em Iluminismo Agora” ele vai adiante, que além de não ter grandes novidades, tampouco é Iluminista no sentido verdadeiro (revolucionário), vale questionar se cada vez mais a alternativa socialista vista como alvo de ataque desesperado, suas ideias são ainda sustentáveis. Porque é essa alternativa socialista quem subverte a sociedade em declínio (sabe-se que as melhorias sociais são oposições ao capitalismo, não sua afirmação) – a contradição entre forças produtivas e as relações de produção (trabalho assalariado, destruição ambiental e abismos sociais, descrédito científicos/filosóficos e distopias tecnológicas). Portanto, será mesmo “uma escolha muito difícil” para Pinker? Vejamos.

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O liberalismo tecnocrático de Steven Pinker não tem nada a ver com o espírito radical do Iluminismo

Iluminismo Agora [em inglês Enlightenment Now] de Steven Pinker é um manual para a autoglorificação Liberal. Esse tempo orgulhoso professa uma abordagem pragmática e quantitativa dos problemas do mundo. Para Pinker, a democracia capitalista moderna basicamente fez as coisas certas, e o ativismo deveria no máximo consistir em impulsionar pequenas melhorias, mitigando os maus sintomas.

Críticas sistêmicas, ideologias, e “grandes ideias” são completamente perigosas. A crítica ao capitalismo liberal é, então, a proveniência de populistas histéricos de ambos os lados, esquerda e direita. O que “professores marxistas” e apoiadores racistas do Trump têm em comum é que eles apenas não sabem (ou não querem admitir) o quão bom é eles terem o capitalismo liberal. Pinker é apaixonado por sua falta de sensibilidade, e desdenha qualquer um que se atreva a criticar a atual ordem mundial.

Superficialmente, Iluminismo agora é convincente para o leitor imparcial, pois está cheio de estatísticas e gráficos ostensivamente demonstrando a marcha do progresso desde a “Era da Razão”. Os liberais aplaudirão os elogios frequentes de Pinker a programas sociais e ao estado de bem-estar social como suplementos necessários para o “livre mercado”. Ao mesmo tempo, ler Pinker dá um sutil, mas persistente sentimento de náusea que aparece todas as vezes em que ele critica “guerreiros da justiça social” ou cita capitalistas fundamentalistas como Friedrich Von Hayek.

O Iluminismo Agora é desprovido de seus elementos mais igualitários e democráticos — já não se assemelha à fermentação intelectual da Revolução Francesa. Em vez disso, o “Iluminismo” de Pinker imita a hierarquia, o conservadorismo e o autoritarismo do antigo regime — aquele inimigo histórico do Iluminismo Radical.

Mas esta enlameação das águas ideológicas faz parte da estratégia deliberada de Pinker. Mesmo quando ele cobre figuras históricas, ele faz questão de juntar racionalistas radicais como Baruch Spinoza ao lado de conservadores clássicos como Edmund Burke. As ideologias dessas figuras são, assim, embotadas, confusas, e maleáveis em suas mãos. Pinker não celebra tanto a Razão do Iluminismo, mas a coloca em nova embalagem para sua agenda neoliberal. Ele limita a razão para dar espaço ao mercado.

Visão de mundo do Pinker

O herói do conto de Pinker é o sujeito humano — mas apenas certos sujeitos humanos. Estes são o cientista e educador, mas mais importante ainda, o analista quantitativo, o empreendedor e o político pró-mercado. Não é à toa que a sobrecapa do Iluminismo agora se orgulha de ser o “novo livro favorito de todos os tempos de Bill Gates”. Os heróis de Pinker são os criadores, os produtores de música, ou (para continuar citando aquele outro magnata, Willy Wonka), os “sonhadores de sonhos”.

O que Pinker valoriza é a criação heróica de negócios, mercados, ideias e informações em relação a um universo que tende para a suavidade, a mesmice e a monotonia “desinteressante”. Estes tipos criativos são valiosos precisamente na sua luta contra um mundo hostil, ou pelo menos indiferente, às necessidades humanas e florescente. Este é o sentido em que Pinker é, supreendentemente para a maioria, um tipo de pessimista.

É o esforço e a vontade humana que devem criar sua própria salvação contra o terrível pano de fundo da falta de sentido cósmica. Pinker é líder de torcida por ciência e tecnologia. Ele se opõe ao irracionalismo do eco-pessimista, e seu desejo de prostrar-se diante de Gaia.

O princípio fundamental e orientador de Pinker é o da “entropia”. Emprestada da segunda lei da termodinâmica, entropia é a ideia de que em sistemas fechados as coisas se tornam menos ordenadas e mais caóticas ao longo do tempo. A organização e a cultura humanas são, portanto, uma batalha sísifica, onde o esforço humano bate contra a gravidade inflexível da existência. Aqui, os valores estão invertidos, e em vez de lamentar que as pessoas estejam matando a Mãe Terra, a Terra está tentando desesperadamente nos matar. Ele quer dizer isso de uma forma profunda — não um medo do ecossistema da Terra, mas um medo metafísico do próprio universo.

Um psicólogo cognitivo, Pinker gosta de importar conceitos científicos para reforçar seus argumentos políticos. Neste caso, Pinker emprega uma lei aceita da física e passa a elevá-la descontroladamente a um primeiro princípio metafísico — e, mais bizarramente, torna-a a pedra angular de sua política. Não só são fechados, sistemas físicos entrópicos, mas assim é a própria existência, incluindo a condição humana.

Na opinião de Pinker, ser como tal tende ao caos e desordem. Sua visão do universo não é menos “caída” do que a do mais desencantado existencialista ou religioso penitente. O resultado de tudo isso é que o esforço humano deve ser concebido como essencialmente “heroico”. Estamos sempre a lutar contra a invasão da noite de um universo hostil. “Iluminação” é, portanto, quase uma palavra literal para Pinker, e é equiparada com a busca (ou criação de) informação.

Este é realmente o ponto de vista de Pinker demonstrado por suas declarações sobre a pobreza, a guerra e a ignorância humana. Por exemplo, Pinker sustenta que a pobreza não precisa de explicação alguma. É o estado natural (entrópico) das coisas. Nós nascemos pobres, burros e violentos, e é somente através de grande esforço — esforço que corre contra o grão da própria natureza — que podemos esperar, ainda que timidamente, emergir desta primeira posição caída.

Politicamente, isso tem implicações perniciosas. Pinker, por exemplo, é bem explícito que não precisamos culpar ninguém pela desigualdade que marca nossas vidas econômicas e financeiras. Novamente, é meramente “natural”. A lei de entropia de Pinker, afinal, identifica a igualdade absoluta com uma espécie de “morte por calor” em que a variação e a organização interessante se equilibram em um cinzento, brando, nada.

Pinker está ansioso para explicar por que ele acha que a desigualdade não é prejudicial em si mesma, mas sim uma causa ocasional de infelicidade subjetiva na pior das hipóteses. Em qualquer caso, seu programa político é claro: o marxismo, o socialismo e, na verdade, qualquer forma de igualitarismo são, em última análise, equiparados com a morte por calor da sociedade, e assim estes contam como ameaças existenciais à civilização.

Os seres humanos são, portanto, os heróis e vilões da história de Pinker. As pessoas boas são as que enfrentam humildemente um universo entrópico e decaído, e tentam o seu melhor para melhorar pragmaticamente suas circunstâncias caóticas. Pessoas perigosas e más tentam entender o Todo — elas desenvolvem ideologias e metafísica, o que Pinker zomba como “Grandes Ideias”. Essas pessoas ruins, embriagadas em sua própria arrogância, procuram pela “raiz das causas” dos males da sociedade, ao invés de fazer a coisa sensata e meramente tratar os sintomas à medida que eles aparecem.

O “Guerreiro da Justiça Social”, não é, portanto, meramente um reclamador histérico, para Pinker, mas é afligido pelo pecado mortal do orgulho. Eles zelosamente querem fazer o Céu na Terra, e ao fazê-lo arriscar “revoluções com mortes em massa”, gulags e campos de reeducação como expedientes necessários para suas cruzadas morais. No mínimo, estes Guerreiros da Justiça Social, irritam constantemente as pessoas boas, humildes, com seus protestos moralistas. Eles lançam eleições para populistas de direita e geram ressentimentos de longa data e divisão social.

Por toda a afirmação de Pinker de que “ideias importam”, ele também acha muito melhor que esses ativistas socialmente conscientes simplesmente se calem. Afinal, em sua opinião, a maré irresistível do progresso impulsionado pelo mercado expandirá o investimento social, aumentará a alfabetização e eliminará a homofobia, o racismo e o sexismo automaticamente. Não importa o papel central desempenhado por tais “iniciativas infantis dos guerreiros da justiça social” como o Movimento dos Direitos Civis, movimentos feministas, lutas antiapartheid, e campanhas pelos direitos dos trabalhadores.

A resistência de Pinker ao pensamento sobre “raiz das causas” é essencial para o seu anti-Marxismo. Central para a economia marxista é a percepção de que a desigualdade não é o resultado da má distribuição da riqueza, mas ocorre no ponto de produção. É o próprio fato de fazer coisas para o lucro que exige que os trabalhadores sejam mal pagos por seu trabalho — caso contrário, não haveria lucro para o capitalista.

Esta situação é o que gera estratificação maciça e desigualdade hoje. Há os exploradores e os explorados — aqueles que extraem o trabalho de outros para o lucro, e aqueles que não possuem capital próprio, e por isso devem vender seu trabalho por menos do que vale a pena. Portanto, não se trata de ricos versus pobres (o “sintoma”), mas sim de uma questão fundamental da própria exploração (a “raiz das causas”).

Pinker não quer nada disto. Teimoso em sua crença de que somos todos apenas indivíduos, ele desdenha a consciência de classe como apenas outra forma de tribalismo, não diferente do chauvinismo étnico, racial, ou religioso. A lealdade ao proletariado é simplesmente uma forma de má fé, onde uma pessoa renuncia a sua individualidade para se tornar parte do que ele chama de “superorganismo”. Isto é para ecoar o ditado de Margaret Thatcher de que “não existe tal coisa como a sociedade”. Apesar de evitar excessos libertários [libertário em um sentido mais recente e deturpado do termo], Pinker segue fielmente a crítica da Escola Austríaca de Economia ao socialismo.

Pinker quer ver o mundo como ele realmente é, além de qualquer meta-narrativas ou grandes ideologias. Mas desde o início, este é um projeto condenado. Os seres humanos não são scanners ópticos que passivamente absorvem pontos de dados isolados; nós necessariamente narramos nossas percepções em alguma visão de mundo inteligível. Então a questão não é se devemos fazer metafísica — desenvolver alguma narrativa para explicar o mundo — mas apenas se a nossa metafísica é boa, e pode ser suficientemente argumentada. Apesar de criticar Grandes Ideias, o trabalho de Pinker é, no entanto, tomado através de uma série de suposições a priori. “Queda” e “Heroísmo” são princípios místicos interligados que não podem ser derivados da análise quantitativa.

O melhor que podemos fazer, de acordo com Pinker, é colocar nossa fé cega nos mecanismos igualmente cegos do mercado; pois eles determinam, melhor do que o intelecto humano jamais poderia, o preço das coisas, que tipo de trabalho é valioso, que tipo de educação é necessária, e que tipos de mercadorias devem ser produzidas, e para quem.

Esta fé nos mecanismos de troca é complementada por uma fé igualmente cega nas elites. Pois na mitologia de Pinker, o mercado não funciona inteiramente por si só, mas deve ser constantemente revitalizado por qualquer número de deuses criativos. Sem as faíscas de um gênio de um Peter Thiel ou um Elon Musk, a troca não poderia ocorrer porque nenhum valor seria criado. O valor, aqui, não é o produto do esforço comum, mas sim da inspiração, da visão e da vontade individuais.

Pinker e Peterson

Se Pinker soa mais como um existencialista romântico do que um pensador iluminista, isso não é coincidência. Seu livro provocou entusiasmo de outro intelectual público ascendente, Jordan Peterson. Peterson, que julga a controvérsia muito mais abertamente, vê o livro de seu colega como realizando a mesma função básica de seu próprio best-seller, 12 regras para a Vida; ou seja, é um “antídoto para o caos”.

É esclarecedor que um conservador Nietzschiano como Peterson teria tanta facilidade em elogiar um conservador aparentemente monótono, liberal quantitativo, como o Pinker. O que eles compartilham é uma rejeição fundamental da política ativista e da visão de mundo do ressentimento que eles veem subscrevendo. O que eles compartilham também é um alto louvor pela humildade, e uma invocação constante dos limites humanos — tanto epistêmicos quanto morais.

Mas este estranho romance é mais do que uma peculiaridade. É indicativo de uma tendência de longa data de liberais e reacionários autoritários para abraçar um ao outro em tempos de agitação política. Pinker expressa as restrições liberais padrão sobre Peterson, especialmente sua filosofia baseada na fé e anti-humanismo. Ao mesmo tempo, ele é rápido em defender Peterson contra os críticos da esquerda. O que eles compartilham é um medo primitivo, não de hierarquia elitista, mas sim de um populismo raivoso vindo de baixo.

Para evitar esse apocalipse zumbi, Pinker — e muitos outros liberais centristas — estarão dispostos a cruzar o corredor e formar alianças com a direita. “Bipartidarismo”, e uma valorização do individualismo e da humildade, são feitos inimigos da política democrática de massa.

Porém, o centro não pode manter-se por si só, e necessariamente dá espaço à Direita. Pois na cosmovisão entrópica, caída, a ordem deve ser criada ex nihilo. O liberalismo tecnocrático de Pinker é inadequado a esta tarefa; este é um assunto pré-moderno, até mesmo místico. Para a criação de valores, o que necessário é alguma autoridade transcendente, um Pai que dá a lei para governar e julgar-nos. O liberal nos dirá que a auto-organização das massas é fútil e perigosa. Mas isso é apenas um aviso negativo. O reacionário insistirá positivamente que as massas devem ser governadas com mão firme, e que a hierarquia é um bem em si.

O liberal-burguês concebe uma monarquia sem um monarca — a necessidade de autoridade sem a resposta final sobre quem será essa autoridade. Seu agnosticismo ao estilo do Novo Ateu os impede de se aventurar em qualquer resposta particular. Neste vácuo de indecisão, o reacionário avança com uma resposta definitiva própria e pega a coroa.

Wesley Sousa

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