A crise do neoliberalismo

Margareth Thatcher e Ronald Reagan

Por Wesley Sousa (graduando em Filosofia pela UFSJ).

O neoliberalismo é o reordenamento da economia segundo os preceitos pós quebra da socialdemocracia europeia keynesiana. Em suma, é a volta do liberalismo, mas de acordo com a realidade dos anos 80. Os grandes nomes do neoliberalismo, sem dúvida, foram Thatcher e Reagan. E Pinochet também programou o neoliberalismo no Chile, sob uma ditadura fascista e genocida.

Os avanços sociais dos países desenvolvidos não se devem ao livre-mercado, como liberais econômicos e vivem repetindo, adotando a tática de Goebbels. Partes desses países largaram o liberalismo ainda no séc. XIX outros o largaram no início do séc. XX, devido ao desastre social, político e econômico que a crença no livre mercado provocou (o qual nunca representou um entrave para o imperialismo da época, é bom lembrar). Hoje a maior parte desses países, depois de uma economia bem consolidada, à base de extremo intervencionismo, adotaram medidas liberalizantes pontuais, com o claro objetivo de privatizar lucros e socializar prejuízos. Daí surge o termo neoliberalismo que os analfabetos político-econômicos não conseguem compreender até hoje.

Parece cada vez mais que no século 21 estamos retornando à economia do século 19, quando a riqueza estava tremendamente concentrada nas mãos de alguns poucos proprietários e especuladores astutos. Nem à direita nem à esquerda parecem ser capazes de criar uma sociedade na qual todos se beneficiem do aumento da prosperidade e da segurança econômica.

As alegações da direita de que os mercados livres enriquecerão todos os setores da sociedade são visivelmente falsas, enquanto o tradicional welfare state, ou Estado de bem-estar social, europeu parece penalizar a inovação e a criação de riqueza, condenando desta forma os pobres e os profissionalmente desqualificados à pobreza e ao desemprego institucionalizado.

A privatização dos serviços públicos abriu novas áreas de acumulação ao capital e a globalização financeira integrou os mercados mundiais de modo instável. As empresas multinacionais passaram a ter como objetivo a criação do valor para o acionista e, ao mesmo tempo em que expandiram suas atividades pela aquisição de empresas ao redor do mundo, concentraram mercados e reduziram investimentos “produtivos”.

Os dois ídolos do neoliberalismo, Thatcher e Reagan, criaram um enorme aparelho de repressão! Primeiro, Thatcher, reprimiu duramente os sindicatos, as torcidas de futebol e o movimento trabalhista inglês, e o outro – Reagan, um facínora, além de extremamente racista e preconceituoso, foi responsável direto por milhares de assassinatos e guerras da política externa americana.

O governo Reagan restringiu os benefícios sociais e reduziu os impostos visando aumentar a disponibilidade de capitais de investimentos nas indústrias bélicas e, no entanto, os excessivos gastos, a elevação das taxas de juro, o déficit orçamentário, a desvalorização do dólar e o crescente déficit da balança comercial constituíram terríveis manifestações da crise estrutural em que os EUA viviam. (Esse argumento que liberdade econômica garante liberdades civis é uma falácia e devaneio ideológico!) Pelo contrário, quanta maior a liberdade econômica para os detentores do capital, mais repressão existe.

Apesar disso, Reagan foi eleito em 1984, o que pode ser explicado pelo conservadorismo da sociedade, pela propaganda anticomunista dos discursos presidenciais e pelo nacionalismo agressivo adotado na política externa. Desde a derrota na Guerra do Vietnã (1973) os americanos se sentiram humilhados. O governo republicano, por algum tempo, restituiu aos americanos a confiança no poderio do seu país. Refletindo tais sentimentos, Hollywood passou a produzir filmes tipo “Rambo” e “Rocky”.

Na era Thatcher a pobreza dobrou no Reino Unido, e este número tornou-se permanente sob o Novo Trabalhismo. A parcela da riqueza, excluindo habitação, desfrutada pela metade inferior da pirâmide social caiu de 12% em 1976 para apenas 1%, número registrado hoje. Atualmente 13 milhões de pessoas vivem em estado de pobreza relativa. A mobilidade social caiu para níveis anteriores ao da Segunda Guerra Mundial.

Consenso de Washington foi criado justamente para aplicar as medidas neoliberais nos países em desenvolvimento. Implantar medidas neoliberais no terceiro mundo, através do sofisma de que isso desenvolveria tais países. O que, na prática, a tal politica da escola de Chicago se deu como um verdadeiro fracasso e abismo nos países latino-americanos, dentre eles o Brasil, no governo FHC.


O neoliberalismo é uma política econômica que saiu sendo vendida mundo afora como a nova solução para os problemas do mundo depois do colapso econômico da União Soviética (causada por uma corrida armamentista e ideológica desleal por Reino Unido e EUA). Nós passamos o final da década de 80 e a década de 90 inteira chamando as políticas econômicas difundidas, principalmente pelos americanos, de neoliberalismo sem ninguém reclamar e agora que o negócio está dando errado os liberais vem com essa história bizarra que neoliberalismo é um tipo de “socialismo”. Os liberais estão vendo que o neoliberalismo é um filho tão feio que não querem assumir a paternidade do garoto.

A crise final do neoliberalismo trás consigo o espectro do final da hegemonia norte-americana.  A questão é controversa, mas parece estar se formando um consenso de que também na geopolítica as mudanças são iminentes e inexoráveis, embora lentas. Em resumo, o fracasso do neoliberalismo é ideológico e econômico. A burguesia dos EUA busca os culpados pelo fracasso, e fala em “irresponsabilidade na construção de uma pirâmide insustentável de dívidas”.

Assim como bem escreveu André Luís Forti Scherer (professor da FACE/PUCRS e Economista da Fundação de Economia e Estatística do Estado do Rio Grande do Sul): “O liberalismo é a causa do fracasso do mundo desenvolvido e da apreciação do real que faz com que, aos poucos, estejamos reconstruindo uma formidável dívida externa enquanto “auxiliamos”, com nosso novo déficit exterior, os EUA a se recuperarem de sua crise. Quem defender a causa do liberalismo nesse momento estará politicamente morto, se não imediatamente, em prazo muito curto”.

Atualmente, a Argentina, sob o comando do neoliberal Macri, está vivendo um flagelo; com 30% a inflação econômica depois de um 2015 de baixo crescimento (1,5%, segundo o Fundo Monetário Internacional, FMI). A venda de carros caiu 15% em janeiro; a de eletrodomésticos, 4,8%; a de alimentos, 2,5% e a de roupas, 2,7%, segundo os dados das organizações patronais. E ainda com aumento significativo da pobreza e altas taxas de desemprego.

Referências e dicas de leitura: 



Wesley Sousa

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