Para deixar ainda mais escandaloso o quadro, se fazemos as
contas com os 10% mais ricos, veremos que eles acumulam 89% de toda a riqueza
do mundo!
Equivale a 1% da população mundial.
São os adultos que pertencem ao grupo dos mais ricos do mundo, e que reúnem 51%
da riqueza global. Do outro lado da pirâmide, os adultos que compõem a metade
inferior do espectro social, possuem juntos apenas 1% dessa riqueza.
Para deixar ainda mais escandaloso o quadro, se fazemos as contas com os 10% mais ricos do planeta, veremos que eles acumulam 89% de toda a riqueza do mundo! Esta é a nova cifra calculada pelo informe anual da riqueza global do banco Credit Suisse. A cada ano, o Credit Suisse apresenta este informe, escrito pelos professores Tony Shorrocks, James Davies e Rodrigo Lluberas – que antes o elaboravam para a ONU. Costumo escrever sobre ele a cada ano, em artigos que geralmente terminam se posicionando entre os mais populares.
Da última vez que tratei dos
resultados desses informes, o 1% mais rico tinha 48% da riqueza global. Logo,
neste um ano e meio, a desigualdade global aumentou ainda mais, segundo a
pesquisa. Entretanto, a proporção de riqueza acumulada pelo 1% ou pelos 10%
mais ricos se reduziu entre 2000 e 2007, de um 50% (percentual similar ao deste
último estudo) a um 46%. Uma diferença não muito grande, mas que marcava uma
tendência de queda, que se inverteu depois da crise financeira, com os setores
mais ricos voltando a perceber os níveis de concentração observados no começo
deste século.
Os investigadores do Credit
Suisse estimam que estas
mudanças refletem principalmente a importância relativa dos ativos financeiros
dos lares, que voltaram a aumentar de valor a partir de 2008, fazendo crescer a
riqueza de muitos dos países mais ricos, e de muitas das pessoas mais ricas, em
todo o mundo. Apesar de a proporção dos ativos financeiros se reduzir este ano,
as partes dos grupos de riqueza superiores continuaram aumentando. No outro
extremo da pirâmide da riqueza mundial, a metade inferior dos adultos possui
coletivamente menos de 1% da riqueza total.
A principal razão principal desta enorme desigualdade é que há muitos pobres (em termos de riqueza) no mundo. Não se necessita muito para se estar na parte de cima da pirâmide. Deduzidas as dívidas, a pessoa só necessita ter 3,7 dólares para formar parte do grupo dos possuidores de riqueza.
Entretanto, se necessita cerca de 77
mil dólares para pertencer aos 10% mais ricos, e 798 mil para se chegar ao 1%,
o patamar superior, onde estão os donos de mais da metade da riqueza mundial.
Assim, se você é dono de uma casa (ou seja, não paga aluguel) em qualquer
cidade importante num país desenvolvido do hemisfério norte, você provavelmente
é parte desse 1% superior. Não se sente rico por isso? Pois o cenário que
demonstra essa riqueza é o do contraponto, a situação dos pobres, que são a
grande maioria das pessoas no mundo: sem propriedade, sem dinheiro e,
evidentemente sem ações, títulos ou bônus.
A investigação mostra que 3,5 bilhões
de pessoas – 73% de todos os adultos do mundo – possuem bens e renda inferiores
a 10 mil dólares em 2016. Outros 900 milhões de adultos (19% da população
mundial) estão no leque entre 10 mil e 100 mil dólares. Os pobres se concentram
no continente africano, na Índia e nas nações mais pobres da Ásia. Porém,
também há um número significativo de pessoas que são pobres segundo esses
parâmetros, e que vivem na América do Norte e na Europa – entre eles 9% dos
norte-americanos, a maioria com um patrimônio líquido negativo, e 34% dos
europeus. Essas pessoas não só carecem de riquezas como também vivem
endividadas.
E quem são os que estão cada vez
melhor? Certamente não são os indianos. A Índia tem só 3,1% das pessoas de
classe média do mundo (com uma riqueza de entre 10 mil e 100 mil dólares) e
essa proporção praticamente não mudou nos últimos anos. Pelo contrário, a China
conta com 33% da população em níveis médios de riqueza, dez vezes mais que
Índia, e essa proporção se duplicou desde o ano 2000. Isto nos mostra que a
expansão econômica sem precedentes da China tirou centenas de milhões de
pessoas da pobreza, ainda que a desigualdade tenha aumentado.
Além disso, o número de milionários,
que se reduziu em 2008, mostrou uma rápida recuperação depois da crise
financeira, e agora é mais que o dobro da cifra de 2000. Na atualidade, há 32,9
milhões de milionários a nível mundial (ou sejam adultos com mais de 1 milhão
de dólares em propriedades ou economias, descontadas as dívidas). Há somente
140 mil pessoas em todo o mundo com patrimônio superior a 50 milhões de
dólares. E também há mais de 2 mil multimilionários, que são realmente os donos
do mundo.
Supondo que não haverá mudanças na
tendência de aumento da desigualdade com respeito à riqueza mundial, se espera
que haja mais 945 multimilionários nos próximos cinco anos, elevando o total a
quase 3 mil. Mais de 300 desses novos multimilionários devem ser da América do
Norte. A China, segundo esses cálculos, somará mais novos multimilionários que
toda Europa junta, situando o total de chineses nesse patamar acima dos. O Credit Suisse estima que a riqueza global total
agora é de 334 bilhões de dólares, ao redor de quatro vezes o PIB mundial
anual. No começo deste século, houve um rápido aumento da riqueza mundial, com
um crescimento mais rápido na China, na Índia e em outras economias emergentes,
que representaram 25% do aumento da riqueza, apesar de que possuíam somente 12%
da riqueza mundial no ano 2000.
A riqueza mundial se reduziu em 2008,
mas mostrou uma lenta tendência de recuperação a partir de então, com uma taxa
significativamente mais baixa que a exibida antes da crise financeira. De 2010
em diante, a riqueza (em dólares) caiu em todas as regiões do planeta fora da
América do Norte, Ásia-Pacífico e China. A riqueza per capita por adulto
registrou crescimento pífio, e a riqueza média caiu desde 2010. Logo, o adulto
médio é cada vez mais pobre.
Nos últimos 12 meses, a riqueza mundial aumentou em 1,4%, mal podendo manter o ritmo do crescimento da população. Como resultado, neste ano de 2016, a riqueza média por adulto se manteve sem mudanças pela primeira vez desde 2008, aproximadamente uns 52,8 dólares. Portanto, a população mundial em seu conjunto não se tornou mais rica no último ano e meio, mas a desigualdade aumentou.
Nos últimos 12 meses, a riqueza mundial aumentou em 1,4%, mal podendo manter o ritmo do crescimento da população. Como resultado, neste ano de 2016, a riqueza média por adulto se manteve sem mudanças pela primeira vez desde 2008, aproximadamente uns 52,8 dólares. Portanto, a população mundial em seu conjunto não se tornou mais rica no último ano e meio, mas a desigualdade aumentou.
* Artigo de Michael Roberts, um reconhecido economista marxista britânico.