Li e reli. De início, achei tais críticas válidas, apesar do impressionismo para dar bons views (afinal, cada um vende seu peixe da melhor maneira, não é mesmo?). Refleti comigo mesmo sobre os argumentos e recorri alguns amigos que entendem mais do assunto. Analisei o texto novamente e percebi que ele contém doses ácidas de espantalhos (ou a falácia do homem de palha).
Portanto, farei alguns rabiscos em resposta ao texto citado.
Na foto Luís Carlos Prestes. Militar e político comunista brasileiro, uma das personalidades políticas mais influentes no país durante o século XX. |
Por Wesley Sousa - estudante de Filosofia pela UFSJ
Sempre aparece alguém com a sapiência e autoconfiança da
consciência política para “jogar a real” aos esquerdistas sobre os
possíveis “fracassos” da militância desse espectro. Concernente a isso,
atribuem-se as derrotas eleitorais nas últimas eleições municipais e
nacionais; Trump; e o neofascismo europeu. Como apontou a autora do texto na tentativa frustrada de um ataque baixo e superficial.
Parte destes críticos acusam os esquerdistas de “não saberem dialogar” com o povo, assim, o povo cai nos discursos fáceis da direita (mesmo que a direita seja hipócrita e “suja”). Nesse sentido, a esquerda estaria “cega” em não ver isso acontecer e a “onda conservadora” encurralar os progressistas.
Na verdade, tal descompasso não é – ou não deveria ser – novidade,
principalmente para a esquerda. Só que a direita parece-me ter um problema
gravíssimo – ou finge não o entender – a ideologia. Às vezes, tal
crítica é calcada na “esquerda é o melhor cabo eleitoral da direita”. Só
que aí reside o equívoco da direita: a política não é
como a matemática que os resultados independem do sujeito.
As ideias de uma sociedade são as ideias da classe dominante. A ideologia é, em medida, as
ideias de dominação sobre a classe dominada. Explico: as ideias dominantes são
nada mais do que expressão ideal das relações materiais dominantes
compreendidas sob a forma de ideias; são dessa forma, as ideias de sua
dominação. É por isso o papel ideológico que a direita nega (ou sequer
conhece), dentro da esquerda se faz presente para compreensão do mundo real e
suas relações sociais (politicamente, religiosas, jurídicas etc.) pelas quais
os seres humanos lançam a prática.
Esquerdistas sabem que a classe trabalhadora, em maioria, é
contrária às PEC dos gastos, Previdência; e Reformas Trabalhistas, por exemplo.
São favoráveis à Reforma Agrária e Urbana; taxação das grandes riquezas e
heranças, das empresas e redução das taxas de juros.
Realidade: a população é progressista no que tange a economia, e
conservadora em relação a valores morais, devido à forte influência cultural e
religiosa!
Porém, talvez estes aventureiros críticos da esquerda não
compreendem que o papel da ideologia vai em ideias de relações de poder, não
puramente sistemáticas. Pois, para a direita, os esquerdistas são “arrogantes”
em não lidarem essa contradição de ideias. Entretanto, se a esquerda
desconhecesse tal contradição, seria ainda mais surpreendente.
Os indivíduos que formam a classe dominante possuem, entre outras
coisas, também uma consciência e, por conseguinte, pensam que uma vez que
domina como classe e determinam todo o âmbito de um tempo histórico, é evidente
que o façam em toda sua amplitude como consequência. E também dominem como
pensadores e como produtores das ideias sejam, em consequência, as ideias
dominantes de um tempo.
Dito isso, a esquerda pode se enganar, como sabe que pode (e trata
de corrigir em si mesma), em procurar estabelecer em defesa daquilo que se
pretende. A práxis é ação modificadora da realidade ao qual temos e
delineamos nossa busca. E mais além: esquerdistas não costumam cair na contradição
de “normalizar” toda e qualquer situação social e de produção tal como a
direita faz para o status quo. Se para ela a esquerda “se perdeu”, sabe-se
que a esquerda está sempre utilizar aquilo que tem de melhor: seu aparato
analítico da sociedade.
Vale ressaltar que, assim como a Direita política, a Esquerda
é multifacetada. A Esquerda marxista, por exemplo, tem
ao longo dos anos sempre feita autocrítica profunda sobre as condutas e
diretrizes em meio ao movimento de massas. Os marxistas são – e fazem-se
– autocríticos. Principalmente em relação aos erros da URSS, etc.;
das perseguições que os próprios marxistas e anarquistas sofreram, e assim por
diante.
Os conservadores da direita nem tanto (ou nem fazem por
obviedade já apontada no texto). Porque uma das características principais do
conservadorismo, além do apego às tradições, é o apego ao dogmatismo e ao
imediatismo político. À aceitação dos métodos independentemente
de funcionarem ou não e a consequente ausência de questionamento.
Não questionam nem o capitalismo (e seus danos inerentes), nem o status
quo religioso (aliás, intocável e imprescindível para eles em
sua ideologia).
Se, eventualmente, a “esquerda é acadêmica” e “quem faz
o trabalho de base é o outro lado”, interpelo sobre qual
instrumental de análise e de militância o lado destro tem. Evidente que os
direitistas são pragmáticos, e aí reside a fragilidade conservadora: porque
esquerdistas sabem da improbabilidade das classes baixas compartilharem de seus
próprios pensamentos tendo em mente a ideologia dominante nelas.
Mas, por fim, algo admirável saber que a ilusão e o autoengano não
são exclusividade para esquerdistas!
Lula nos braços do povo |
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