Resposta a uma pesquisa do Centro Internacional de Design - Wolfgang Fritz Haug


Resposta a uma pesquisa do Centro Internacional de Design (Wolfgang Fritz Haug)
Publicado originalmente no livro Crítica da Estética da Mercadoria

Qual deveria ser a configuração de nosso meio ambiente para que ele merecesse o epíteto humano?

Meio ambiente significa: a segunda natureza. Quem ainda fala de meio ambiente abriu mão de muita coisa ou faz-se de bobo, a fim de agradar aos poderosos. Meio ambiente é o mundo do qual não temos nada a dizer e no qual devemos nos movimentar como animais na selva - ou no jardim zoológico. Se o meio ambiente, na opinião das pessoas, merece o epíteto humano, significa então que elas se resignaram com a luta pela existência. Então - permanecendo ainda com a imagem do jardim zoológico - é uma jaula agradavelmente disfarçada num aparente cercado natural.

O nosso mundo foi usurpado pelo capital que se utiliza de e domina a ele e a nós. A fome de lucros dos grandes capitais transforma o mundo em uma aglomeração de mercadorias, terrenos privados e montes de lixo; nesse meio, um setor “público” deplorável, reiteradamente subordinado aos interesses do capital. Não existe nenhum planejamento eficaz realizado no interesse de toda a população. Enquanto a produção e a distribuição forem reguladas capitalisticamente, não pode haver planejamento embasado em um interesse que mereça o epíteto humano.

O que as pessoas precisam, consomem e utilizam; onde elas moram, se movimentam e satisfazem as suas necessidades; como organizam a sua vida, se instalam, se vestem, se embelezam, vêem beleza nas outras e as desejam: a totalidade das coisas, dos terrenos e das pessoas é dominada, explorada e configurada pelo interesse capitalista. O único design - portanto, o único planejamento - que importa ao capital é a ânsia de lucro. As coisas, o país e as pessoas são constantemente triturados pela máquina de moer do capital.

Neste caso, que funções cabem ao design?

No ambiente capitalista cabe ao design uma função que se pode comparar à função da Cruz Vermelha durante a guerra. Ele cuida de algumas poucas - jamais as piores - feridas causadas pelo capitalismo.
Ele trata do rosto e, embelezando alguns pontos e mantendo o moral elevado, prolonga o capitalismo, tal como a Cruz Vermelha fez com a guerra. O design mantém assim a organização geral, por meio de uma configuração especial. Ele é responsável pelas questões da apresentação em geral, e da apresentação do meio ambiente. Para tais funções, o fascismo alemão instituiu toda uma série de departamentos públicos, por exemplo, o Departamento para a Beleza do Trabalho. Desse modo, design tem funções políticas. Ao apresentar as mercadorias, ele promove a sua vendabilidade assumindo assim diretamente uma função de valorização do capital. (Por que não há nenhuma palavra a esse respeito no prospecto da IDZ?)

Na sua opinião, em que a disciplina que o senhor defende pode contribuir para o esclarecimento dos problemas?

A contribuição da filosofia poderia consistir em esforços que poderíamos comparar a um detector de mentiras social. Em nossa sociedade, a mão esquerda não pode saber o que a direita faz. A filosofia poderia levá-la a expressar isso.

A apresentação não aparenta a função que tem. Portanto, deve-se sempre dizer: esta é a função e este é o contexto.

O grande problema é: como reconstruiremos o mundo fazendo dele um lar? Isso pode acontecer mediante a socialização da economia e o planejamento comum do trabalho social.

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