O “Fenômeno Bolsonaro”: resposta ao politicismo de Nildo Viana





O texto a seguir é uma resposta a um artigo publicado pelo sociólogo Nildo Viana, professor da pós-graduação em Ciências Sociais da UFG. O autor da reposta é Felipe Lustosa, graduado em Filosofia e História pela UFF.


O prêmio texto horroroso da semana, vai para Nildo Viana, tentando explicar o “Fenômeno Bolsonaro”, texto recheado de achismos sociológicos, uma análises tecnicistas que em nada perde para a de “cientistas-políticos” da Globo News, analise sem profundidade (quase que norteada pelo Datafolha). Sobretudo, ao analisar a não decolagem de Alckmin e de Ciro, análise sem rigor metodológico, um texto digno de pena que não trabalha uma categoria, sequer, pela lupa marxiana!

Teoricamente, o texto bebe num politicismo vulgar (ainda que se pretenda o autor, apolítico ou abstencionista no que concerne a cena-política, a qual será decidida dia 28 entre PT e PSL). Ademais, o texto está absorto em um subjetivismo tosco e rebaixado o qual analisa o impulsionamento de Bolsonaro exatamente pelo combate (ou ataque) a este ser dantesco, o qual fora lançado pelo o que ele chama “bloco progressista”, o movimento de mulheres, os quais jorraram esforços pelo #EleNão, para este tipo de intelectual, mais divulgam e dão publicidade ao Micto “do que esclarece e rechaça pessoas a aderirem ao seu programa”, salientando Nildo, que atacar Bolsonaro ao invés de enfraquecê-lo, o fortaleceu. Para ele as coisas são simples assim.

Para Nildo Viana, o ser social de Bolsonaro é subproduto, em suas palavras, “do processo histórico da vida dele que o tornou uma pessoa agressiva”. Ele não sabe nada de marxismo, esquece-se que não é a consciência ou a história, enquanto força mística, aquilo que determinam o ser, mas as relações de produção que jorram do complexo do trabalho, aquilo que urde e edifica as variadas formas de consciência de um tempo. Assim como a própria história e sua processualidade é urdida no devir pelo movimento do ser no tempo.

Bolsonaro é um gestor do Capital, um político-burguês comprometido com a burguesia degenerescente dos trópicos em conluio com a burguesia imperialista. Bolsonaro funciona de acordo com os anseio da classe a qual pertence, ele possui em seu ser mesmo a “vontade de potência” de um junker, ou do setor mais rebaixado e degenerescente da burguesia colonial-prussiana e lançará mãos de todos os meios para estraçalhar os pobres e aviltar minorias. Isso pouco tem a ver com a “individualidade” e com a persona de Bolsonaro, se é vil ou bom, não é sobre ser militarista, belicista, agressivo em sua vida pessoal, e sim sobre ser ou não burguês. Tem a ver com a classe social da qual é representante político e não com o indivíduo.

A analise sem rigor mostra exatamente a decadência da sociologia nacional e dos intelectuais de esquerda deste meio, são em sua esmagadora maioria, acadêmicos estéreis! No texto, o sociólogo diz que “O Bolsonaro é uma pessoa como outra qualquer”, e “que ele erra, como todo ser humano”... Chega a ser ridículo! Não consigo acreditar no que li, o sociólogo não consegue, com isso explicar a nada! Não enxerga que Bolsonaro é expressão da decadência ideológica burguesa. Em um país como o Brasil, que arrasta consigo as correntes e as chagas da via-colonia na confomação de um capitalismo hipertardio, agrilhoado ao latifúndio, ao escravismo, às relações de compadrio e permeado por elementos de modos de produção e etapas da história lusitana pretérita; elementos que vêm a reboque de uma consciência indigente por parte dos estratos mais depauperados do proletariado, os quais se vêem subsumidos ao assalariamento, à produção e à circulação de valores, por consequência, à desefetivação de sua classe.

Em um país que sequer contou com um ciclo de revoluções burguesas que possui déficits civilizatórios pantagruélicos em sua democracia rota por conta disto; um país de proporções continentais onde houve uma série de modernizações conservadoras desde o império até os dias de hoje, i.e, “revoluções passivas” sem o povo e contra os trabalhadores, em conformidade com a lógica e com as ideias das classes dominantes e das burguesias imperialistas as quais comandam a guerra, diretamente do epicentro da via-clássica.

Nildo Viana infantiliza o bolsonarismo, ele não o considera um inimigo grave, ele sequer o compreende, assim como também não entende o metabolismo do capital e o que ocorre na sociedade capitalista de tipo tropical, ele até desdenha da polarização, para este anarquista romantizado, para este liberal utópico e falso anticapitalismo, está tudo correndo como o de costume.

Para ele, a socialdemocracia ou a autocracia policialesca, são as mesmas coisas, nosso Max Stirner à lá brasileira (e piorado), ignora o fator alienação, o estranhamento, ignora que estes fatores possuem sua causalidade no desfruto da mais-valia e da omnilateralidade dos seres sociais, os quais estão a se rebotalhizar de forma célere e que reificados, caminham bovinamente para um regime bonapartista.

O nosso autor chega a citar Reagan no texto (como outro alguém “que também erra”). Quase como se dissesse: “coitado do Ronald, ele não é mau, ele só errou!”. Quanta indigência! Nildo escreve um Pasquim, enquanto ignora magnificamente o sequestro de subjetividade lançado por terra por este expoente mor e gestor do neoliberalismo no continente e a luta de classes, ele não fala “uma jabuticaba” acerca da luta de classes e da necessidade urgente de se conformar comitês de auto-defesa proletários.

Ademais, o texto além de ser escatológico, politicista, tecnicista e sem heurística marxiana. Recheado com um vernáculo liberal pobre, com figuras de linguagem e concepções de cosmos toscas e estranhas ao marxismo: é um texto que fala de moral, de amores traídos, incompreensão no seio familiar, de transtornos da psiquê, de costumes e tradição. Como se estivesse o autor “por de cima da moral”, como se fosse ele “um purista”, observando o movimento da história e imune a ele, como se observasse cobaias de laboratório jogando um papel estranho no devir, enquanto aborda outros assuntos da alçada do único em sua propriedade.


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Wesley Sousa

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