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Resposta ao artigo “Fogo amigo contra
Tabata Amaral revela que a esquerda está perdida”.
Por Wesley Sousa - graduando em Filosofia pela UFSJ.
Por Wesley Sousa - graduando em Filosofia pela UFSJ.
Link
para acesso ao original: https://theintercept.com/2019/04/01/fogo-amigo-contra-tabata-amaral/?fbclid=IwAR2w-WpLwExfLo2Qkn857ivKX0Yr6O6z4GYzi3kfADJ39S24bq9ojei8Ppk
Toda essa discussão dentro do “campo progressista” é nada
mais que um artifício do liberalismo para cooptar pautas e lutas subversivas. Como
escrevi
em outra oportunidade, “eles são contra o “neoliberalismo” e não contra a
subsunção formal do proletariado à forma valor e ao sobre-trabalho; são contra
o “neoliberalismo” e não contra a propriedade privada dos meios de produção”.
Na verdade, querem um “capitalismo inclusivo”.
O vídeo viralizou, com
uma retórica palatável aos mais leigos; e, quanto aos mais espertos, como a turma
do “Quebrando o Tabu”, se aproveitaram da oportunidade para direcionar a discussão.
A
tentativa de vender a “menina dos olhos” do
grupo Lehman como celebridade de “esquerda”, parece naufragar. O
social-liberalismo, como afirma o camarada Alexandre Vasilenskas, tenta
arduamente colocar como alternativa ao colapso do bolsonarismo. Não conseguindo,
sem que haja resposta por parte da esquerda, a disputa se dá tanto no rettano
teórico quanto nas lutas mais reais de uma reorganização efetivamente
alternativa ao capitalismo.
Por
conseguinte, o
vídeo da socióloga e economista Sabrina Fernandes do canal “Tese onze” tem a
necessária abordagem sobre os perigos da “pós-política” e “ultrapolítica” que
ela desenvolve ao longo de sua pertinente avaliação; o caso de Tabata (e, vale
frisar, de tantos outros) financiados por milionários.
No
que tange ao artigo publicado pelo The
Intercept, temos o seguinte trecho:
“Compor o
campo progressista é se revoltar contra as injustiças, não aceitar um mundo com
tantas desigualdades, lutar pela transformação radical da distribuição de
riquezas – tudo isso com recorte de raça, gênero e respeito aos direitos
humanos. A partir daí, existem diversas possibilidades, inclusive
perguntas que não sabemos responder. Qual a melhor estratégia para avançar?
Quais táticas podem ser mais efetivas a cada momento? Quem são aliados
potenciais nesse contexto? Quais países no mundo nos servem de exemplo?”
Estamos lidando com a
ignorância coletiva, porque a reprodução ampliada da obscuridade e da desrazão
é biombo de reprodução de capital. Não à toa vemos gente burra formada com
série de televisão e blog de internet. É muito fácil pensar que ser
revolucionário é “existir”, “amar o próprio corpo”, “se aceitar apesar de tudo”
e sair “lacrando” por aí com todo sentimentalismo barato cristianizado no
egocentrismo. Ao contrário: ser revolucionário nos dias de hoje não é algo bonito,
é algo necessário em nossos tempos que atravessamos.
Em um momento oportuno do
artigo delas, há a seguinte afirmação: “No
fim das contas, o trabalho parlamentar dessa mulher de 25 anos que saiu da
periferia e se elegeu deputada federal virou um fato menor nos meios de
esquerda. Grande mesmo foi a nossa demonstração de inabilidade em negociar
democraticamente em um campo progressista diverso e fragmentado. Reclamamos da
direita tacanha, mas os debates das redes sociais esvaziaram o eficiente
desempenho de uma parlamentar de oposição. Resta-nos a pergunta: o que ganhamos
com isso?”
Vejamos: o pensamento foucaultiano
pode ser ainda mais intrigante. Esse é
o verdadeiro tumor teórico dessa sub-esquerda
hipster. Normalmente pinta a realidade numa desconstrução racional da
razão moderna e a formulação de uma proposição política transgressiva viável à
intervenção social de uma esquerda que no pós-68 (culminante após a Queda do
Muro) que passa a descrer do socialismo, mas, se põe romanticamente na postura
rebelde e transgressiva contra o sistema. Esta rebeldia de esquerda
tipicamente adolescente resulta na condenação das forças de contestação à ordem
vigente a um fatalismo irremediável.
Isso sem falar na romantização
da pobreza e da exploração de classe, como fazem valer nas suas palavras
de “gratidão pela vida bela e humilde”; e o tal “socialismo cristão”
(versão mal-arrumada da Teologia da Libertação) que encaixa nesse minimalismo
fajuto, pela qual quem produz o excedente material deve ter a “consciência
limpa” de suas “virtudes” (embora o cristianismo seja melhor fundando
ontologicamente que essa ideologia).
Mais adiante, escrevem: “Ao ocupar um cargo público, Tabata
deve ser monitorada e criticada por suas posições sempre que necessário. Mas a
repercussão desproporcional é sintomática de um desejo da esquerda em
permanecer isolada. A atividade política inclui a construção de uma relação de
confiança entre forças distintas, como também a disputa de quadros e
posicionamentos que variam de acordo com a conjuntura”.
Em linhas gerais, assumiu o
caráter “moral” do capitalismo através da ética protestante como matriz
“moralizante” das dinâmicas capitalistas. Significa uma apologia do “tipo ideal”
weberiano que acredita ser o capitalismo o mais eficaz modo de produção e
social já criado. O devoto desse geralmente defende um Estado forte capaz de
liderar o processo de construção nacional. Ainda que o “capitalismo
imperialista”, no qual o lucro resulta da violência política coerciva e
expansiva, produz “problemas” a um setor do capital, isto é, sem o
identifica-lo como uma fase do desenvolvimento do próprio sistema, trata esse
fenômeno como um ato isolado e natural.
Contudo,
as autoras seguem afirmando no texto: “É
importante frisar que essas críticas são pertinentes ao debate político. Mas o
que queremos discutir aqui é tática e estratégia em tempos de avanço da extrema
direita”.
“A esquerda tem criticado
frequentemente as ditas “causas identitárias” defendidas por feministas e pelo
movimento negro, por exemplo. Percebemos certa hipocrisia nessa crítica já que
própria esquerda se comporta de forma bastante identitária quando avalia
possíveis alianças apenas pelo viés de quem se enquadra em uma identidade
“pura” de esquerda. Enquanto isso, estamos perdendo a disputa narrativa com as
bases populares.”
Robert Kurz, em um de seus
artigos, chegou a mencionar: “Não se trata dos chamados déficits
democráticos, mas de uma contradição estrutural, insolúvel no capitalismo, na
relação entre educação e economia. A questão é saber se o "proletariado
académico” globalmente massificado converte a sua precarização na ideia de uma
nova emancipação social para todos, ou se pretende apenas afirmar-se no
capitalismo e digere ideologicamente a inevitável frustração. No segundo caso
será preciso contar com o pior”.
E exatamente neste ponto que
entra em campo a questão ideológica que se posiciona no seu desejo íntimo:
preservar o metabolismo do capital, intocável e “natural”. Então basta falar da
ladainha de “crescimento sustentável” – mesmo que para isso tenha que se
destruir a “sustentabilidade”.
Ora, ser radical é exatamente
pôr à crítica aquilo que deve ser criticado. Por isso, o marxismo é a única
doutrina capaz de fazê-la. Se o liberalismo tardio neste rincão tropical é
apenas um engodo, uma engabelação, nossa tarefa é exatamente direcionar e expulsar
esse senso comum rasteiro que adentrou como cavalo de troia à esquerda.
As autoras, em uma retórica
fatalista, vazia, tentam apelar ao final: “Precisamos
resgatar nossa capacidade de articular um novo pacto social, plural, que
respeite a Constituição e dê conta de questões estruturantes da sociedade
brasileira. Não sairemos do bolsonarismo sozinhos.”
De maneira alguma, não se
trata de “fogo-amigo” quando a expressão da decadência ideológica e fragmentação
das lutas concretas. Sua persona não agrega em quase nada as necessidades
urgentes da ampla maioria da população. Muito fácil ter “TCC” sobre educação
pública, mas, quando na ação concreta, é financiada pelo capital (inimigo de
qualquer avanço social).
Assisti atentamente ao o embate dela com
o Min. Vélez e, sinceramente, não há razão de tanta empolgação da esquerda com
ela: porque o que ela disse é puramente senso comum; segundo, é o mínimo que se
espera de um parlamentar de “oposição”. E a terceira: não fez uma única crítica
aguda ou necessária de conteúdo ao projeto bolsonarista, caindo em uma fantasia
ingênua de que “não há projeto”.
Em
um tom mais profundo: o conhecimento em si não produz valor, mas constitui uma
necessidade objetiva do capital, sob o ditame do desenvolvimento das forças produtivas.
Uma vez que nesta sociedade quaisquer gastos têm de ser apresentados na forma
do dinheiro, os encargos do sistema de ensino constituem “custos mortos” em
sentido capitalista, uma dedução à mais-valia social. Por isso, em toda a parte
se invoca a necessidade de investimentos na educação, em nome da concorrência
pela localização das empresas, estando, no entanto, a produção e distribuição
do conhecimento simultaneamente sob enorme pressão dos custos.
Esquerda
está perdida justamente por ter que depender de Tabata Amaral. A deputada
Tabata Amaral é financiada pelo grupo Lehmann, o maior grupo de educação
privada do país, e, ainda insistem nessa ladainha de TCC. Quem paga a
banda escolhe a música.
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ResponderExcluirBruno4 de abril de 2019 17:01
Escrever de forma clara e objetiva sem academiscismos é um primeiro passo para termos uma esquerda eficaz e que se comunica com as massas. Seu texto e forma de escrever me lembra textos de sociedades herméticas, se não fosse eu formado em comunicação teria parado a leitura no primeiro parágrafo, como imagino que muitos tenham feito