Por Felipe Lustosa - graduado em Filosofia e História pela UFF.
A ruptura das
represas da Vale e a destruição dos biomas e ecossistema na Amazônia (ligados
ao garimpo ilegal), às queimadas, ao desmatamento, à grilagem e ao jaguncismo
contemporâneo, se interconectam com o produtivismo destrutivo lançado por terra
pelo Capitalismo em sua fase atual. Ademais, se interligam à espoliação das
nações subdesenvolvidas submetidas à condição de fornecedores de matéria prima
pelo imperialismo; ao barganhamento das riquezas naturais às potências
capitalistas hegemônicas pelos títeres do receituário econômico ianque como
Bolsonaro, outrossim, está intimamente associado ao desenvolvimento desigual
& combinado do capitalismo, que nos trópicos, assumiu contornos peculiares
quando o Brasil deixou de ser uma colônia portuguesa e passou a ser um
promissor mercado consumidor da Inglaterra.
A Destruição do Cosmos & Natureza se interliga à destruição do homem enquanto ente-espécie e ser-natural, i.e, ao seu des-essenciamento lançado por terra tanto pela extração de mais-valia (quando este decai física e espiritualmente a condição de homem expropriado), por ter ele suas faculdades humanas atrofiadas e dilapidadas pela dinâmica extenuante do sobre-trabalho e pela geração de mercadorias, a qual gera bonança ao capitalista ao passo que gera alienação de si e da natureza, tal como rudeza e fealdade ao trabalhador, destroçando-o em matéria e espírito.
“E todo progresso da agricultura capitalista é um progresso na arte de saquear não só o trabalhador, mas também o solo, pois cada progresso alcançado no aumento da fertilidade do solo por certo período é ao mesmo tempo um progresso no esgotamento das fontes duradouras dessa fertilidade (...) e de exaurimento de seus recursos minerais. Quanto mais um país (...) tem na grande indústria o ponto de partida de seu desenvolvimento, tanto mais rápido se mostra esse processo de destruição. Por isso, a produção capitalista só desenvolve a técnica e a combinação do processo de produção social na medida em que solapa os mananciais de todo a riqueza: a terra e o trabalhador” - (Marx, O Capital).
Ademais, a destruição dos biomas
interconecta-se à forma de capitalismo que vicejou nos trópicos: Dentre saques
e desterros cabe a nós rememorarmos a extração de pau-brasil, no início do
Século XVI, pois, uma vez estabelecida o sistema de feitorias na colônia, tendo
em vista a exportação de matéria-prima à preços baixos para a produção de
móveis e tinturas (nas Metrópoles) e revenda destes manufaturados às colônias a
altos preços, impostos pela dinâmica do mercantilismo, constituiu-se o
itinerário da exploração compulsória do homem na colônia e, outrossim, do
desmatamento e espoliação dos biomas. A Via-colonial antes de adentrar na sua
fase de acumulação otimizada, resoluta nos dias de hoje, finca raízes no Brasil
(um país de proporções continentais) por intermédio do bandeirismo de preação,
do aldeamento e das missões; da escravidão indígena & negra; pelo
alcoviterismo-lusitano o qual suborna e alicia o nativo explorando sua
mão-de-obra em troca do escambo. A essência do desfrute dos biomas se dá também
por meio do comércio triangular (Pacto Colonial) o qual saqueia a colônia em
benefício do superávit primitivo da Metrópole – a qual mantinha sua balança
comercial favorável por meio auferimento oriundo do lucro sumarizado pelo
tráfico-negreiro, e pela exploração incessante da terra durante o ciclo da
cana-de-açúcar e seu refino.
Elementos do sistema de capitanias por aqui estabelecidos e já explorados embrionariamente nos dão pistas vez em sempre, para a atual cena-histórica & política, como por exemplo, quando debate-se em meio aos círculos de esquerda o genocídio ou massacre indígena dos waiãpis, na região Norte. Se faz imprescindível para (os marxistas) aventarem para tais elementos como ferramentas de compreensão da luta de classes no Brasil, outrossim, interpretando tais elementos como peças chaves para desvelar a herança histórica do Capitalismo de Via-Colonial, afim de que se delineie com precisão os nexos conformativos da sócio-reprodução da desigualdade, da exploração e da acumulação de Capital no País. A agropecuária no Brasil, implementada nos séculos XVI - XVII, tal como a prospecção bandeirante (implementada durante o século XVIII), lançaram por terra uma potente carga destrutiva do material humano (negro e indígena) quanto da natureza e biomas, transformaram áreas de mata-atlântica, pantanais e áreas de florestas de araucárias em risonhos pastos de criação de gado e equinos, em outros casos, tais áreas se tornaram “trincheiras de escaramuça” contra os nativos, destruindo biodiversidade notável e levando ao massacre etnias originárias.
Caso notório de resistência é o dos Guaicurus, os quais se tornaram ícones da resistência anti-metropolitana, adestrando os cavalos utilizados pelos espanhóis e portugueses, surrupiando-os dos colonos e utilizando-os como arma de guerra contra os invasores ibéricos. Os Guaicurus formaram “guerrilhas equestres” e agiam em bando atacando e saqueando aqueles colonos que adentravam (atrás de minérios) às várzeas da região do Chaco e (no caso brasileiro) os alagados do Pantanal, no Mato Grosso do Sul. A industria do charque, a exploração das drogas do sertão, o bandeirantismo de prospecção e preamento e o sertanismo de contrato forjaram as bases para o povoamento dos sertões, mas também, conformaram o itinerário para o desterro indígena e para a expropriação destes, para o massacre dos quilombos estabelecidos por negros foragidos os quais se evadiam do Escravismo Colonial. Alguns destes episódios escritos com o sangue dos dominados serviram como treinamento bélico para aqueles que conformariam a GRP (A Guarda Real Portuguesa), a qual viria consolidar o embrião das polícias militares, em 1809.
Os ciclos econômicos pautados pela plantation de Cana-de-Açúcar, e, em uma terceira etapa (com o Brasil já "independente"), pela plantation de Café, a exploração da Borracha e da Soja (e a produção de outras Commodities), as quais se perfizeram durante a republica oligárquica (& atualmente), o período anterior ao supracitado, do "ciclo do ouro" pautado pelo garimpo depredador e escravo na região das Minas e de Mato Grosso, foram também elementos os quais, não somente constituíram as bases da exploração capitalista no Brasil, mas também para a depredação da natureza: a busca pelo ouro de aluvião inseriu a poluição dos rios com mercúrio, a morte dos peixes e o extravio de córregos. Este ouro anos mais tarde, enricaria os cofres ingleses e primeiros banqueiros do capitalismo, possibilitando à Inglaterra reunir elementos para engendrar sua revolução industrial tornando refém as coroas obsoletas da periferia europeia (como a coroa ibérica), a qual fora sempre norteada pela acumulação primitiva (ou originária) de metais, ou metalismo.
O capitalismo de via-colonial é um almofariz de homens desde sua gênese, desgasta, pulveriza e destrói o homem enquanto ser objetivante a pari-passu que exaure os biomas a fim de proporcionar auferimento às burguesias internacionais imperialistas e tornar sócia-subserviente destas primeiras as burguesias nacionais & rebotalhizadas (despidas de uma herança ilustrada e incapazes de capitanear revoluções de tipo jacobina). Somente uma economia planificada de viés socialista, a consignação dos sovietes (que regulem e racionalizem humanamente a produção de valores), somente com a expropriação dos latifundiários, com a reforma-agrária, demarcação das terras indígenas e com um boicote aos imperialistas & não pagamento da dívida pública. Em suma, com uma Revolução Socialista, poderemos acabar com o sofrimento dos povos originários, com o desterro do trabalhador campesino e sem-terras, com a extração medular e canhestra de mais-valor dos operários e com a destruição dos biomas, rios, bosques e do próprio homem enquanto ente-espécie pelo Capitalismo. Não há futuro para raça humana fora do socialismo.
Bibliografia:
Estado e Burguesia: Gênese da Autocracia Burguesa – Antônio Carlos Mazzeo
Democracia política e emancipação Humana – José Chasin
Lumpemburguesia y Lumpendesarrolo – Andre Gunder Frank
A história dos irredutíveis guaicurus – José Lopes
Formação Econômica do Brasil – Celso Furtado
A hegemonia dos Estados Unidos e o subdesenvolvimento da América Latina - Celso Furtado
Perspectivas da economia brasileira - Celso Furtado
História e Desenvolvimento - Caio Prado. Jr
A Questão Agrária no Brasil – Caio Prado. Jr
Evolução Política do Brasil e Outros Estudo - Caio Prado. Jr
Estado e Revolução – Lênin
A Revolução Permanente – Trotsky
Sovietes ou Parlamento? - Nikolai Bukharin
O Capital, Tomo I – Marx.
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