Parasita (2019) Joon Ho Bong |
Por Ícaro Batista - estudante de História pela UNEB.
Parasita
(2019) é o mais novo filme do diretor Sul-coreano Joon Ho Bong que conta a
história de toda família de Ki-Taek que está desempregada, vivendo em um porão
sujo, escuro e apertado. A Família é
composta pelo pai Ki-Taek (Song Kang-Ho), pela mãe Chung-Sook (Jang Hye-Jin), o
filho Ki-Woo (Choi Wook-sik) e a filha Ki-Jung (Park So-dam).
Em Parasita,
duas famílias irão ambientar o cenário Sul-coreano e mostrará ao espectador
como as desigualdades de classes e as misérias materiais, típicas do capitalismo,
continuam determinando a vida cotidiana dos sujeitos a níveis extremos de
pobreza. Isto ficará visível ao longo do filme, quando o diretor, propõe
desenvolver uma crítica social acerca de aspectos incomodativos, mas pouco
falado: roupas, celular de última geração, relógios caríssimos, carros e
cheiros.
Ao
iniciar o filme, podemos acompanhar o nosso protagonista Ki-Woo tentando
acessar o wi-fi dos vizinhos de cima, rapidamente ele e a sua irmã (Ki-Jung)
tentam uma série de senhas para conseguir comunicação via internet. Por outro lado, temos seus pais Ki-Taek e
Chung-Sook que sobrevivem, precariamente, com o dinheiro adquiridos após montar
algumas caixas de pizzas para restaurantes locais, além de outros afazeres de
pouca remuneração.
Uma
das primeiras críticas retratada no filme é a precarização do trabalho tão
marcada atualmente no cenário internacional; para se ter uma ideia mais
concreta, só no Brasil temos, nos dias de hoje, cerca de 38 milhões de pessoas
que estão na informalidade[1]. Portanto, Parasita mesmo
sendo um filme Sul-Coreano, nos traz uma inquietação importante para o cenário
brasileiro: o avanço da informalidade nas relações trabalhistas.
A
sorte da família muda após Ki-Woo receber uma proposta de recomendação de
emprego pelo seu amigo Min. Min viajará para realizar um intercâmbio
universitário, logo pensou em Ki-Woo como substituto para ministrar aulas de
inglês para uma garota de família rica. Em vista disso, Woo pedirá auxílio de
Jung para falsificar um diploma universitário, afim de passar a impressão de
ser estudante do ensino superior para seus futuros patrões.
Após
Woo conseguir o emprego temporário com a família Park, ele irá recomendar sua
irmã para ocupar o cargo de professora de artes, para o filho mais novo dos
Park’s. De uma recomendação à outra, iremos visualizar a família que há um
tempo estava desempregada, preencher rapidamente as vagas que estavam sobrando
que ia de motorista particular até governanta. Isto posto, o espectador poderá
observar à aproximação entre ricos e pobres, velada por um muro que não foi
construído conscientemente, mas que está ali, determinando o lugar de cada um
nas relações sociais.
Parasita
é um filme que lhe remete à experiências cruéis, pois lhe transporta, enquanto
espectador, para o lugar daqueles que sobrevivem no subsolo. E é aí que as
produções audiovisuais parecem serem os meios mais pedagógicos para inserir experiências
que talvez você nunca vivenciará. Ao assistir o longa de Bong, você se colocará
na pele de cada personagem e irá perceber que voltar para o bueiro, que era
chamado de casa, se tornará uma tarefa mais difícil.
Tal
reflexão fica patente, quando observamos a cena a qual a família Park sai para
comemorar o aniversário do filho mais novo e toda família de Ki-Taek desfruta
do bon vivant que existe na mansão do
Sr e Sra. Park. Mas, rapidamente eles serão inundados por um choque de
realidade e uma mistura de sentimentos negativos. Já que, do outro lado da cidade,
mais especificamente no subúrbio, veremos o seu lar ser invadido por água, dado
a forte chuva que se apresentava naquele dia.
Bong,
de forma inteligente, trará ao filme o rico tal como ele é, ou seja, não é somente
aquele sujeito o qual só quer esbanjar suas riquezas e consequentemente pousar
de bom samaritano quando fizer doações a pessoas necessitadas, como um
patriarca. Para tal, ele apresentará a metáfora do ‘’cheiro’’; tal metáfora
será o fio condutor da segunda parte do filme, o qual a família Park estará
sempre demarcando sua aversão pelo cheiro advindo dos seus empregados.
A
questão se torna tão latente e real, que em 2016, o candidato à Prefeitura de
Curitiba, Rafael Greca[2], diz que vomitou ao sentir
cheiro de pobre. Desta forma, pode-se
perceber como Bong menciona no seu filme, uma questão de classe que a todo
tempo pode passar despercebido, mas que afeta a todos. Uma vez que, ao ser
apresentado a outras pessoas, realizamos um raio-x do seu vestuário, objetos e
do seu cheiro.
Por
fim, Parasita nos mostrará Ki-Woo de volta ao cortiço que morava, fazendo
planos, para quem sabe, num futuro próximo, ele ter condições suficientes de
sair daquela vida. Mas, a experiência que o telespectador irá absorver ao
finalizar o filme, sobretudo após o pai dele, em um determinado momento, revelar
a Woo a seguinte frase: ‘’quando fazemos planos, eles não se realizam’’, fará o
espectador pensar no imobilismo que estamos inseridos, em toda camisa de força
ideológica que nos cerca e nos prende onde estamos, sem ter o mínimo direito
sequer, de questionar o que se passa em nossas vidas.
Parasita de forma sádica,
revela ao público como é a vida real sob o capitalismo, visto que uma família
inteligente e habilidosa não tem direito ao básico para ter uma existência
prospera e digna.
[2] http://g1.globo.com/pr/parana/eleicoes/noticia/2016/09/apos-dizer-que-vomitou-com-cheiro-de-pobre-candidato-se-desculpa.html.
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