Nota de encerramento (até segunda ordem) do Acervo Crítico


Nascido em abril de 2016, o projeto Acervo Crítico foi inaugurado a partir de um conjunto de estudantes universitários de diversas áreas (das humanidades, em especial), integrantes de diversos fóruns de discussões na Internet – sobre ciências e filosofia –, politicamente alinhados à esquerda. O intuito, como ficou estabelecido entre os integrantes fundadores, a partir dali, de trazer publicações de textos autorais e de colaboradores externos, traduções e republicações de textos, artigos de autores e autoras, acerca de diversos temas, conforme pode se ler no post de apresentação.

Começamos com um blog – na plataforma blogspot – e logo após fizemos a página no Facebook. Contávamos com pessoas que faziam os designs para publicações, a manutenção no blog e também para gerenciamento das publicações. De lá para cá, com um projeto modesto, mas intelectualmente rico, fizemos parcerias com outras páginas, com outras pessoas, a fins de ampliar nosso alcance. Em certo sentido, deu certo.

Uma forma colaborativa entre os membros não implica que haja uma “equipe fixa” ou um comitê integrante que divida entre si sempre as tarefas. Em outras palavras, se no início tivemos esses conjuntos de estudantes universitários que idealizaram e incentivaram a ideia, isso não pode ser desconectado em relação às todas as vicissitudes reais: trabalho, estudos, família, etc. dentre outras coisas. Assim, coube a alguns outros também participarem, seja contribuindo com publicações autorais, seja nas entrevistas (realizando os contatos). Inúmeros textos inéditos, traduções que estavam indisponíveis ao público lusófono, entrevistas especiais ao Acervo Crítico, análises políticas de conjuntura, textos criticando falácias, a defesa correta do socialismo, etc.

Devo mencionar alguns nomes que, ao longo desse processo, puderam colaborar, cada qual a seus modos (textos autorais, com as entrevistas, traduções, sugestões de publicações, traduções etc.), fazendo possível a realização desse projeto de divulgação filosófico e científico de modo crítico e independente: Amanda Soares, Jadi Pereira, Rennan Ramazini, Jean Lucas, Henrique Coelho, Lucas Parreira, Andrey Santiago, Alex Agra Ramos, Ramon Carlos, Frederico Lambertucci, Thiago Jorge, Yuri Loscheider, Fernando Pereira, Thalyta Bertotti, Gabriel Yuji, Glauber Ataíde, Eduardo Galeno, Jéssica Borges Fraga, João Freitas, Ícaro Batista, Felipe Taufer, Felipe Lustosa, Marcela Carvalho, Hian Sousa, entre tantos outros(as). Se ficou faltando alguém e esteja lendo isso, sinta-se contemplado(a). A gratidão é uma das maiores virtudes humanas.

Ao longo desse tempo, foram 360 publicações no site, resultando em mais de 600 mil visualizações ao todo, além de 20 mil seguidores no Facebook, com mais de 2 milhões de pessoas alcançadas (estimativa) em nossas publicações (vídeos, frases, textos curtos, etc.). Certamente, um número que jamais pensaria no início, mas que foi algo prazeroso de vê-los onde chegaram. Ressalto que isso só foi possível ao lado daqueles(as) que auxiliaram durante esses quase 6 anos! O encerramento das atividades do Acervo Crítico não significa que tudo foi perdido. Colocamos ao público assuntos relacionados às artes, filosofia, ciências, cultura. Disponibilizamos colunas de opinião sobre diversos temas para colaboradores externos, abrindo espaços para a livre circulação de ideias e intercâmbio de pessoas, com objetivo de fundo a melhor formação intelectual e de assuntos pertinentes à crítica da sociedade atual.

Entretanto, como devem imaginar, manter uma produção contínua (com seus problemas e limitações, é verdade) no mundo de hoje requer duas coisas fundamentais: tempo e dinheiro. Infelizmente, essas duas coisas, alinhadas à ideologia que o Acervo Crítico tinha como pressuposto, é muito complicado, o que tornou a continuidade inviável, não apenas de agora – só tornou insustentável de vez. Em um texto que li recentemente, me chamou a atenção sobre os periódicos de esquerda, no momento que me deparei com o seguinte trecho: “Quanto aos blogs e portais independentes, talvez o maior desafio seja compreender quais são as temáticas mais essenciais a serem trabalhadas, para, assim, ampliar seu alcance, ou, ao menos, gerar conteúdo relevante aos poucos que atingem” (Os problemas da produção periodista da esquerda). A autora, na ocasião, destaca com razão sobre alguns desses problemas. Claro que cada site, periódico ou tabloide tem seu escopo e, em consequência, seu público alvo – e devem buscá-los. Assim como, em um mesmo site, pode haver publicações ou conteúdos que podem variar – e isso é razoável. A implausibilidade, a meu ver, é que os problemas da divulgação científica e filosófica, além de saturadas, requer meios de financiamentos colaborativos para se manter de pé sem sacrificar seus responsáveis. Acomete-se em vários sites com o intuito similar. E, nesse último ponto, pesou a minha decisão de encerrar a continuidade do projeto...

A Internet é um mundo vasto, serve para reprodução e manutenção ampliadas das dinâmicas do capitalismo, em suas técnicas predatórias e de exploração. Mas, em meio disso, é um meio de dominação em massa, ao passo que serve de contestação às formas de relação social tipicamente capitalistas. Nessa época de decadência ideológica, cuja força do capital, domando a tudo e a todos, as brechas que ainda restam é onde devemos atuar. Nesse ínterim, o mundo burocratizado emergiu, por outro lado, uma legião de seguidores igualmente decadentes ideológicos, solipsistas, antiluzes, anti-intelectuais, anticomunistas e filisteus da tragédia incontrolável do capitalismo. É nisso que, não apenas a dificuldade de manter o Acervo Crítico, no atual momento pessoal, coaduna com tais complicações que aqui é exposto ao longo dessa nota de encerramento. Pensei muito sobre minha escolha. Já vinha pensando nela a tempos, mas chega uma hora que não dá para postergar mais aquilo que nos fustiga continuadamente.

Enfim, as prioridades da vida vêm, e, com elas, há novas responsabilidades concomitantes. Caminhos e descaminhos, pelos quais navegamos nesse mar hostil que é a vida sob a forma-trabalho assalariado. Porém, vale dizer que seguiremos munidos pela arma da crítica, até onde pudermos. Como bem escreveu Marx, aqueles que podem ser agraciados pelos saberes científicos de uma época devem ser os primeiros a pô-los em serviço da humanidade. Assim, o Acervo Crítico também cumpriu seu papel verdadeiramente militante, ou seja, como intelectuais críticos da ordem vigente e dispondo do que podia para cumprir a tarefa que lhe cabia. Ao contrário daqueles cupins sociais com uma vida irracionalista ou egóica, capazes dos piores atos de cretinismo, os quais resignados de dominarem os fundamentos heurísticos e de desvelarem a realidade para sua transformação.

Para finalizar, devo agradecer imensamente a todos(as) leitores(as)! Escrevi essa nota em honestidade a vocês. Sem leitores, o Acervo Crítico, como disse, jamais chegaria até aqui – depois de 6 anos! Certamente, esse projeto não poderia ter o alcance que teve, nem poder ter contribuído para alguns lampejos formativos no combate ideológico de nosso tempo, se não fosse pela companhia até então.

Portanto, em respeito a vocês, todas a publicações ainda ficarão disponíveis através do nosso site Acervo Crítico. Acessem sempre que quiserem! O conhecimento é um bem social construído coletivamente. Assim deve ser: socializado.

 

Um abraço,

 

Wesley Sousa, idealizador do projeto Acervo Crítico.

Wesley Sousa

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