O que é cultura?


Publicado originalmente no site LiveScience  

por Stephanie Pappas – bacharel em Psicologia da Universidade da Carolina do Sul e pós-graduação em Comunicação Científica da Universidade da Califórnia.

Tradução Wesley Sousa

 

Cultura engloba religião, culinária, o que nós vestimos, comemos, nossa linguagem, casamento, música e é distinta em todo o mundo.

 

Cultura é a característica e conhecimento de um grupo particular de pessoas, envolvendo linguagem, religião, culinária, hábitos sociais, músicas e artes. O Centro para Pesquisas Avançadas de Aquisição de Linguagem dá um passo adiante, definindo cultura como características compartilhadas de comportamentos e interações, construções cognitivas e entendimentos aprendidas por socialização. Então, cultura pode ser vista como o crescimento de uma identidade de grupo fomentada por padrões sociais característicos de um grupo.

“Cultura envolve religião, culinária, o que vestimos, como a usamos, a nossa língua, matrimônios, a musicalidade, o que acreditamos ser certo ou errado, como cumprimentamos os visitantes, como nos comportamos com os entes queridos e milhares de outras coisas”, afirma Cristina De Rossi, antropóloga da Barnet and Southgate College in London, ao Live Science. Muitos países, tais como França, Itália, Alemanha, EUA, Índia, Rússia e China são notáveis por suas riquezas culturais, os costumes, tradições, musicalidade, arte e culinárias sendo uma atração para turistas.

A palavra “cultura” deriva de um termo francês, ao qual deriva do termo latim “colere”, o que significa cuidar da terra e crescer, ou cultivar e nutrir, de acordo com Arthur Berger. “Ela compartilha sua etimologia com uma série de outras palavras relacionadas com a promoção ativa do crescimento”, disse De Rossi.

Cultura ocidental

O termo “cultura ocidental” definiu a cultura de países europeus, bem como aqueles sendo influenciados pela imigração europeia, tais como os EUA, conforme a Khan University. A cultura ocidental tem suas raízes no período clássico greco-romano (o quarto e quinto século a.C) e da ascensão do cristianismo no século XIV. Outros fatores da cultura ocidental incluem grupos étnicos e linguísticos latinos, celtas, germânicos e helênicos.

Alguns números de eventos históricos ajudam a formar a cultura ocidental durante os últimos 2500 anos. A queda de Roma, muitas vezes atrelado à 476 d.C, abriu o caminho para o estabelecimento de uma série de estados, muitas vezes em guerra na Europa, cada um com suas próprias culturas, de acordo com o historiador Walter Scheidel, da Stanford University. A Peste Negra do séc. XIV eliminou a população europeia em um terço à metade, refazendo rapidamente a sociedade. Como resultado de uma praga, escreve o historiador John Brooke, de Ohio State University, o cristianismo tornou-se mais forte, com maior foco sobre temas apocalípticos. Os sobreviventes da classe trabalhadora ganharam mais poder, já que as elites foram forçadas a pagarem mais pelo trabalho escasso. E a interrupção de rotas comerciais entre o Oriente e Ocidente desencadeou uma nova exploração e, finalmente, a incursão de europeus na América do Norte e Sul.

Hoje, as influências da cultura ocidental podem ser vistas em quase todos os países do mundo.

Cultura oriental

A cultura oriental geralmente se refere àquelas normas societais de países no leste asiático, incluindo China, Japão, Vietnan, e a Península Coreana, além do subcontinente indiano. Como o ocidente, o oriente foi fortemente influenciado por religiões durante seu desenvolvimento inicial, mas também foi fortemente influenciado pelo crescimento e colheita de arroz, de acordo com um artigo publicado na revista Rice, em 2012. Em geral, a cultura oriental há menos de uma distinção entre sociedade secular e filosofia religiosa do que há no ocidente.

Entretanto, este termo guarda-chuva cobre uma enorme variedade de tradições e histórias. Por exemplo, o budismo se originou na Índia, mas foi largamente ultrapassado pelo hinduísmo após o século XII. Como resultado, o hinduísmo tornou-se um dos principais motores da cultura indiana, enquanto o budismo continuou exercer bastante influência na China e Japão. As ideias culturais predominantes nessas áreas também influenciaram a religiosidade. Por exemplo, de acordo com Jiahe Liu e Dongfang Shao, o budismo chinês tomou emprestado da filosofai do taoísmo, cuja ênfase na compaixão, a frugalidade e a humildade são pontos centrais.

Séculos de interações – tanto de paz quanto agressivas – nesta região também levaram essas culturas a influenciarem-se mutualmente. O Japão, por exemplo, controlou e ocupou a Coreia entre 1876 e 1945. Durante esse tempo, muitos coreanos foram pressionados ou forçados a darem seus nomes para sobrenomes japoneses.

Cultura latina

A geografia da região que envolve a “cultura latina” é ampla. América Latina é tipicamente definida como aquela parte da América Central, América do Sul e México, onde há predominância das línguas espanholas e portuguesas. Todos esses lugares colonizados por ou influência da Espanha, ou Portugal, a partir do séc. VX. Pensa-se que os geógrafos franceses empregaram o termo “América Latina” para diferenciá-la entre as línguas anglo e românica (de bases latinas), embora alguns historiadores, tais como Michael Gobat, autor de “A intervenção da América Latina: uma história transnacional do anti-imperialismo, democracia e raça” (2013), discorde disso.

Culturas latinas são então incrivelmente diversas. Muitas se misturam e tradições indígenas com a língua espanhola e o catolicismo trazido pelos colonizadores espanhóis e portugueses. Muitas dessas culturas também foram influenciadas pelas culturas africanas devido eles terem sido trazidos para as Américas a partir do séc. XVI, de acordo como African American Registery. Essas influências são particularmente fortes no Brasil e nos países do Caribe.

A cultura latina continua a evoluir e a difundir-se. Um bom exemplo é Día de los Muertos, ou Dia dos Mortos, um feriado dedicado a lembrar a partida [daqueles que conhecemos, parentes, etc.] comemorado em Nov. 1 e Nov. 2. Dia dos Mortos remonta para antes de Cristóvão Colombo, quando desembarcou na América do Norte, mas foi movido para sua data de celebração atual pelos colonizadores espanhóis, que o fundiram com o Dia Católico de Todos os Santos. Imigrantes mexicanos nos Estados Unidos trouxeram o feriado com eles, e na década de 1970, artistas e atividades trouxeram foco para Día de los Muertos como uma forma de celebrar sua herança chicana (mexicano-americana), de acordo com o Smithsonian American Art Museum. O feriado é agora bem conhecido nos Estados Unidos.

Cultura médio-oriental

Falando grosso modo, a cultura do oriente médio engloba a Península Arábica, bem como ao leste mediterrânico. Os países do norte da África, entre eles Líbia, Egito e Sudão são também às vezes incluídos. O termo “cultura médio-oriental” é outro guarda-chuva que envolve uma gama diversa de práticas cultuais, crenças religiosas e hábitos diários, famílias, etc. A região é o berço do judaísmo, do cristianismo e do islamismo e abriga dezenas de idiomas, do árabe ao hebraico, do turco ao paschto.

Enquanto haja uma diversidade religiosa no oriente médio, a religião predominante por seus são membros é o Islã, e o islã tem desempenhado um grande papel no desenvolvimento cultural da região. Islã se originou no que é hoje a Arábia Saudita, no início do séc. VII. Um momento influente para a cultura e o desenvolvimento do oriente médio veio após a morte do fundador do islã, Maomé, em 632.

Alguns seguidores acreditavam que o próximo líder seria um dos amigos confidentes de Maomé; outros acreditavam que a liderança deveria ser passada através da linhagem de Maomé. Isso levou a um problema entre os muçulmanos xiitas – aqueles que acreditam na importância da linhagem –, e o muçulmanos sunitas – que acreditam que a liderança não deveria ser passada pela família. Hoje, cerca de 85% dos muçulmanos são sunitas. Seus rituais e tradições variam um pouco, e as divisões entre os dois grupos muitas vezes alimentam o conflito.

A cultura médio-oriental foi também formada pelo Império Otomano, que governou uma parte em torno do leste mediterrânico, entre os séculos XIV até o início do séc. XX. Áreas que faziam parte desse Império Otomano são conhecidas por suas distintas arquiteturas, desenhadas a partir de influências persas e islâmicas.

Cultura africana

África tem a mais longa história de habitação humana de qualquer outro continente: os seres humanos se originaram lá e começaram a migrar para outras áreas do mundo em torno de 400 mil anos atrás, segundo o Natural History Museum em Londres. Tom White, que serviu como curador sênior do museu de invertebrados não-sensoriais, e sua equipe conseguiram descobrir isso estudando os antigos lagos e os animais que viviam neles. A partir da época desses estudos, a pesquisa forneceu a mais antiga evidência de hominídeos na península arábica.

A cultura africana não somente varia entre as fronteiras nacionais, mas dentre elas. Uma das características chaves dessa cultura é o grande número de grupos étnicos ao longo dos 54 países do continente. Por exemplo, a Nigéria apenas tem mais de 300 tribos. A África importou e exportou sua cultura por séculos; os portos comerciais do oriente africano foram uma ligação crucial entre o oriente e o ocidente já no séc. VII. Isso levou aos centros urbanos complexos ao longo da costa leste, muitas vezes conectados pelo movimento de matérias-primas e bens de partes sem literal do continente.

Poderia ser impossível caracterizar toda cultura da África com apenas uma descrição. O noroeste africano tem fortes laços com o Oriente Médio, enquanto a África Subsariana partilha características históricas, físicas e sociais muito distintas do Norte do continente. Algumas culturas tradicionais da África Subsaariana incluem os Maasai da Tanzânia e do Quênia, os Zulus da África do Sul e os Batwa da África Central. As tradições dessas culturas evoluíram em ambientes muito diferentes. Os Batwa, por exemplo, são eles de um grupo étnico que vivem tradicionalmente com um estilo de vida na selva. Os Maasai, por outro lado, pastoreiam ovelhas e cabras ao ar livre.

O que é apropriação cultural?

A Oxford Reference descreve apropriação cultural como: “Um termo usado para descrever a tomada de formas, temas ou práticas criativas, ou artísticas por um grupo cultural de outro”. Um exemplo pode ser visto a uma pessoa que não é um americano nativo usando ou vestindo um cocar americano nativo como um acessório de moda. Por exemplo, Victoria’s Secret foi fortemente criticada em 2012 após colocar uma modelo com um cocar reminiscente de um chapéu de guerra Lakota. Estes cocares são carregados se simbolismos, e poder usá-lo era um privilégio ganho por chefes ou guerreiros através de atos de bravuras, de acordo com a Khan Academy. A modelo também usava joias turquesas inspiradas em desenhos usados pelas tribos Zuni, Navajo e Hopi, no sudoeste do deserto, ilustrando como a apropriação cultural pode agrupar tribos com culturas e histórias muito diferentes em uma imagem estereotipada.

Mais recentemente, em 2019, Gucci enfrentou uma reação semelhante por vender um item chamado “o turbante completo” que causou uma considerável fúria da comunidade Sique. Harjinder Singh Kukreja, um influente arqueólogo Sique, escreveu para Gucci no Twitter: “O turbante Sique não é um novo acessório quente para modelos brancos, mas um artigo de fé para práticas Siques. Os seus modelos usaram o turbante como chapéus, enquanto os Siques praticantes os amarram perfeitamente. Usar turbantes siques é pior que vender produtos Gucci falsos”.

Constante mudança

Não importa o que uma cultura parece, uma coisa é certa: ela muda. “Cultura parece ter se tornado fundamental em nosso mundo interconectado, pelo qual é composto por tantas sociedades etnicamente diversas, mas também é crivado por conflitos associados à religião, etnia, crenças éticas e, essencialmente, os elementos que compõem a cultura”, diz De Rossi. “Mas cultura não é nada fixo, se é que foi algum dia. Ela é essencialmente fluída e em constante movimento”.

Isso dificulta a definição de qualquer cultura de uma única forma. Embora a mudança seja inevitável, a maioria das pessoas vê valor em respeitar e preservar o passado. A ONU criou um grupo chamado “Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura” (UNESCO), para identificar o patrimônio cultural e natural e os conservarem e os protegerem. Monumentos, edifícios e locais são abrangidos pela proteção do grupo, segundo o tratado internacional, a Convenção relativa à Proteção do Patrimônio Cultural e Natural Mundial”. Esse tratado foi adotado pela Unesco em 1972.

Wesley Sousa

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem